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Falhanço de Copenhaga, agora em audio

No encontro privado entre os líderes mundiais, foram trocadas acusações duras. A revista alemã Der Spiegel publicou trechos das conversas entre os líderes mundiais durante a Conferência do Clima que mostram como a divisão entre países ricos e em desenvolvimento impediu o acordo em Copenhaga.

 

Fechados em uma das salas do Bella Center, em Copenhaga, estão 25 líderes mundiais, incluindo Nicolas Sarkozy, Barack Obama, Angela Merkel, Manmohan Singh e representantes do governo chinês. Eles discutem os rumos da Conferência do Clima (COP 15) e como achar um ponto comum que leve a criação de um acordo internacional para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Porém, os ânimos estão exaltados e as diferenças de opiniões são grandes demais para que se chegue a um consenso.

Resumindo, é isso que mostram os mais de 1,2 gigabytes de gravações, que teriam sido criadas por acidente, que a revista alemã Der Spiegel teve acesso e publicou na edição desta semana . Os diálogos acontecem sob uma atmosfera pesada e fica claro um divisão entre os europeus que propõem metas e os chineses e indianos que se negam a aceitá-las.

Num ponto das negociações, a chanceler alemã Angela Merkel levanta a voz em frustração com os indianos que se recusam a se comprometer com um número exacto para a redução de emissões. “Vocês não querem um acordo com força de lei!”, acusa Merkel. Um dos representantes indianos responde: “Porque vocês continuam a fazer presunções? Isto não é justo!”

Merkel então apresenta a proposta europeia de um compromisso de corte de 50% das emissões até 2050. A resposta chinesa é curta e directa: “Agradecemos todas as propostas. Mas já dissemos que não podemos aceitar uma meta de longo prazo de 50%”.

Então é o presidente francês que parece perder a paciência. “Com todo o respeito e amizade que tenho pela China. Vocês estão para se tornar a maior economia do mundo, não podem simplesmente dizer que esses compromissos devem ‘ser dos outros e não nossos’. Isto é inaceitável. Alguém tem que reagir a essa hipocrisia.”

O presidente norte-americano Barack Obama tenta moderar a discussão, mas manifesta a insatisfação com a ausência do primeiro-ministro chinês, que preferiu mandar representantes. “Eu sei que o primeiro-ministro está aqui em Copenhaga, é ele que poderia tomar decisões importantes.”

O ministro do Exterior chinês, He Yafei, então responde: “Eu não falo apenas por mim aqui. Falo por toda a China. Eu ouço o presidente Sarkozy falar em hipocrisia. Se eu fosse ele evitaria tais termos. Os países industrializados devem assumir a sua responsabilidade por terem causado 80% das emissões durante o último século. Não fujam disso.”

Na opinião da Der Spiegel, toda essa conversa revelaria como a Índia e a China teriam bloqueado a concretização do acordo apesar de todo o esforço dos europeus. Mas o que fica mesmo claro é que as questões fundamentais sobre as metas nunca chegaram perto de um consenso.

A mesma gravação mostra que Obama já pensava em fechar um acordo fora do processo formal da ONU. Ele afirma em determinado momento que espera alcançar um tratado em uma reunião multilateral com menos participantes.

As previsões de Obama estavam correctas, porque uma reunião fechada entre os Estados Unidos e os países do BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) resultou no que ficou conhecido como o Acordo de Copenhaga, que até hoje recebe criticas por ser fraco e ter excluído as demais nações das negociações.

 


 

Artigo de Fabiano Ávila, Envolverde/Carbono Brasil

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