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Correa: neoliberalismo foi para o lixo da história

rafael_correaEm entrevista ao jornal brasileiro Brasil de Fato, o novo presidente do Equador, Rafael Correa, afirma que o neoliberalismo ficou para trás e que a ideia de que o individualismo é o motor da sociedade, depreciando tudo o que seja acção colectiva, de que a competição deveria ser um modo de vida subestimando a cooperação, de que a sociedade teria que se submeter aos mercados, e não os mercados à sociedade, tudo isso foi definitivamente para o lixo da história.

Correa: inicia-se uma nova era na América Latina

por jpereira - última modificação 2007-01-22 18:43

"A integração latino-americana deve ser dirigida por seres políticos, com visão integral e histórica, não pelos economistas, ainda mais os ortodoxos, que acreditavam que tudo é mercadoria"

22/01/2007

Mário Augusto Jakobskind,
do Rio de Janeiro (RJ)

A América Latina entra em uma nova era, descartando a experiência neoliberal. A mensagem selou a participação de Rafael Correa, presidente do Equador, na Cúpula do Mercosul, realizada no Rio de Janeiro (RJ), entre os dias 18 e 19. Correa aproveitou a estadia no Brasil para encontrar-se com representantes de movimentos sociais e intelectuais, como Frei Betto.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o presidente equatoriano questionou a supervalorização dos economistas em governos latino-americanos, sobretudo os ortodoxos, e afirmou que pretende enfrentar os grandes conglomerados da mídia conservadora que o atacaram durante sua campanha, em 2005. Para ele, muitas vezes se confunde liberdade de imprensa com liberdade de empresa.

Brasil de Fato - O que exatamente o senhor quis dizer ao afirmar que a América Latina inicia uma nova época?

Rafael Correa - Que o neoliberalismo ficou para trás! Esse papo furado de que o individualismo é o motor da sociedade, depreciando tudo o que é ação coletiva, o papo de que a competição deveria ser um modo de vida subestimando a cooperação, de que a sociedade teria que se submeter aos mercados, e não os mercados à sociedade, de que não se necessitava do Estado, de planificação etc. Isso foi definitivamente para o lixo da história. Estamos em uma nova era com novas políticas, talvez nos falte racionalizar essas políticas, mas, felizmente, está-se rejeitando a antiga e buscando algo novo.

BF - O senhor, como economista, disse também que não se pode confiar nos economistas...
Correa -
Eu disse para que não se dê muita bola para os economistas, porque uma das características desse vendaval neoliberal é que tudo se reduziu a dimensões mercantilistas-economicistas, tudo se resolvia com a oferta e procura. Isso é uma grande falácia. Os economistas foram galgados à condição de sumo sacerdotes, e mais ainda, os economistas ortodoxos, os tais que acreditam que tudo se resolve com a lei do mercado, desde as batatas, a educação, saúde, dignidade, soberania etc. Os processos históricos da sociedade devem ser dirigidos por políticos. A integração latino-americana deve ser dirigida por seres políticos, com visão integral e histórica, não pelos economistas, ainda mais os ortodoxos, que acreditam que tudo é mercadoria.

BF - O senhor tem algum plano para enfrentar o poder dos grandes conglomerados midiáticos, que são um ponto de apoio ao neoliberalismo?

Correa - Vamos fortalecer a Rádio Nacional do Equador, que já existe. Vamos criar a televisão nacional. É verdade, deve haver liberdade de imprensa, mas muitas vezes se confunde liberdade de imprensa com liberdade de empresa, pois são empresas privadas, que têm certos interesses, as que nos informam. Vai se permitir que tais empresas continuem funcionando, mas as pessoas devem ter uma verdadeira informação e para isso vamos criar um canal do Estado.

BF - Qual sua avaliação da Cúpula do Mercosul?

Correa - Há muitas coisas que podem ser feitas em nível sul-americano. O problema é que sempre caímos em armadilhas na parte comercial. É que ainda existe a lógica da competição. Inclusive isso pode avançar mais rapidamente se superarmos definitivamente a lógica da competição e a substituirmos por uma lógica de complementaridade, coordenação e cooperação. Mas em todo o caso, aí estão os grandes problemas e muitas vezes temos interesses excludentes. No Mercosul, temos interesses comuns, a integração energética, financeira, a infra-estrutura, a comunicação. Avancemos em nível sul-americano. Esta foi a proposta apresentada pelo Equador. É isso que vamos defender também na Comunidade Andina. Na parte em que temos interesses comuns, como a complementaridade energética que propõe o presidente Hugo Chávez, podemos criar laços rápidos.

Discurso de posse do presidente Rafel Correa (em espanhol) 

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