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Chipre: Um passo atrás na reunificação
A vitória eleitoral do candidato separatista turco do Norte de Chipre significa um recuo potencial no processo de reunificação política da ilha através de uma solução federada.
Dervis Eroglu, do Partido da Unidade Nacional, venceu as eleições presidenciais na auto-proclamada “República Turca do Norte de Chipre” com cerca de 50,4 por cento, derrotando o presidente Mehmet Ali Talat.
O vencedor representa os sectores da ilha adeptos da existência de dois Estados separados em Chipre, levantando um novo obstáculo às negociações entre as duas comunidades e criando mesmo alguns embaraços às ambições europeístas da Turquia, único país que reconhece a “república” do Norte.
O presidente eleito afirmou que pretende continuar as negociações que o seu antecessor vinha realizando com o presidente da República de Chipre, Dmitris Christofias, mas do lado cipriota grego existem dúvidas sobre essa intenção tendo em conta o ideário político e nacionalista de Eroglu. “As posições de Eroglu contra a federação e a favor de dois Estados separados”, comentou um porta-voz do presidente cipriota grego, “vão constituir um problema nas negociações”.
Os presidentes das partes turca e grega de Chipre têm estado envolvidos há 38 meses num processo de negociações, sob a égide da ONU, em torno da criação de um Chipre unificado no âmbito de uma federação. A ilha está politicamente dividida desde 1974 e as negociações em curso, apesar de lentas, têm proporcionado um maior desanuviamento nas relações entre as duas comunidades. Segundo analistas políticos de Nicósia, o presidente Mehmet Ali Talat terá sido penalizado no Norte devido ao arrastamento das negociações , frustrando as expectativas da população e provocando uma profunda mudança no contexto eleitoral.
O primeiro ministro turco, Tayyip Recep Erdogan, traçou um quadro e um objectivo políticos ao novo presidente da comunidade cipriota turca que são encarados como a possibilidade mais forte de o processo negocial não morrer. “O presidente deve estar determinado a continuar este processo”, disse Erdogan. “Esta é uma decisão tomada pela Turquia, com o objectivo de encontrar uma solução até final deste ano”.
A posição de Ancara reflecte a estratégia turca de eliminar gradualmente os problemas que impedem avanços nas negociações de adesão à União Europeia e o receio de que esta viragem no Norte de Chipre possa prejudicar esse objectivo.
Existem também razões económicas para que a Turquia pretenda actualmente uma solução estabilizada em Chipre uma vez que a manutenção da “República do Norte” custa a Ancara cerca de 700 mil milhões de euros anuais.
A criação pela Turquia de uma entidade política no Norte de Chipre sem reconhecimento internacional foi decidida no auge do conflito greco-turco com base na comunidade de origem turca da ilha mas sustentada com o recurso a um processo de colonização ilegal por violar, entre outras normas, as Convenções de Genebra. A integração da República de Chipre (de raiz grega) na União Europeia contribuiu para um isolamento ainda maior da zona turca e agravou o papel desta como obstáculo à entrada da Turquia na União.
A “República Turca do Norte de Chipre” ocupa cerca de um terço da área da ilha e não é viável economicamente sem ser de facto administrada pela Turquia.
Artigo publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu
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