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Carvalho da Silva debate com Precários Inflexíveis

Carvalho da Silva, Rui Tavares, João Romão e José Soeiro no debate promovido pelos Precários InflexíveisAs revoltas recentes da "geração-precária" na Grécia foram o pretexto para um debate organizado pelos Precários Inflexíveis na noite de quinta feira, em Lisboa. Mais de 60 pessoas assistiram a uma animada sessão, que se prolongou até à uma da madrugada. Os oradores foram Carvalho da Silva (coordenador nacional da CGTP), José Soeiro (sociólogo, recém chegado de uma visita a Atenas), Rui Tavares (historiador) e João Romão (economista e activista dos PI). Procurar espaços de convergência de interesses e possibilidades de acção conjunta era o principal objectivo da iniciativa.

 

"Vemo-nos gregos... queremos a nossa vida de volta" foi o mote para um debate organizado pelos Precários Inflexíveis (PI) no bar do Teatro A Barraca, em Lisboa, na noite de quinta feira. Tomando como exemplo os protestos que a geração-precária está a protagonizar na Grécia, o objectivo do debate foi "discutir as condições sociais que levaram à revolta e as suas formas de organização".

João Romão, economista e activista dos PI, abriu o debate lembrando o retrocesso histórico nos direitos sociais e laborais que os processos de desregulamentação e liberalização das economias provocaram nos últimos 20 anos, após um século de duras batalhas para os consagrar. Das dificuldades que a "geração-precária" enfrenta para encontrar trabalho e valorização profissional começam a resultar novas formas de protesto, protagonizadas por pessoas excluídas, não só dos mercados de trabalho, como dos mecanismos de representação social e política.

José Soeiro, sociólogo que visitou Atenas recentemente, apresentou um video com imagens de protestos, reuniões universitárias com estudantes e professores e entrevistas a alguns protagonistas da contestação que se tem vivido na Grécia. Soeiro lembrou algumas particularidades do caso grego, nomeadamente na educação pública (não se pagam propinas e os livros são gratuitos) para explicar a forte mobilização e politização da juventude, o ponto de partida para a organização da sua contestação. Por outro lado, uma estrutura policial herdada da ditadura e com poderes reforçados por ocasião das últimas Olimpíadas faz com que a repressão seja banal no quotidiano dos jovens gregos.

Rui Tavares salientou a precariedade no trabalho constitui uma evidente limitação da liberdade, por condicionar as opções e as possibilidades de escolha em todas as esferas da vida social. O historiador lembrou que os motins nos subúrbios franceses também tiveram que ver com os processos de exclusão de que os jovens são vítimas, ainda que tenham sido reduzidos pela imprensa a um problema da imigração, e salientou que as saídas que se discutem para a crise que vivemos vão implicar uma mudança na nossa relação com o trabalho, o estado ou a vida social.

Carvalho da Silva foi o último dos oradores a intervir, salientando o seu interesse em conhecer as preocupações e discussões dos movimentos de trabalhadores precários. O líder da CGTP rejeitou a ideia de secundarização do valor do trabalho e do sindicalismo, salientando que os processos de revolta podem ser o ponto de partida para a consolidação de movimentos e a acção permanente. A precariedade tem sido estruturante e inerente à organização social contemporânea e tem conduzido à redução do trabalho à sua dimensão estritamente económico e à individualização dos trabalhadores. "Grande parte da precariedade é abuso", afirmou Carvalho da Silva, que considerou que "o movimento precário pode ajudar a que os sindicatos se tornem melhores".

Após estas intervenções, assistiu-se a um animado e participado debatem, que se prolongaria até à uma hora da madrugada.

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