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Aviões já voam, mas não muito
O movimento aéreo recomeçou na Europa em alguns países afectados pelos problemas das cinzas vulcânicas mas a normalidade está longe de ser restabelecida. Dúvidas sobre a segurança permanecem.
Um dia depois de algumas das grandes companhias aéreas europeias terem qualificado como “mínimos” os problemas causados pelas cinzas vulcânicas em alguns “testes de ensaio” por elas promovidos, a NATO divulgou informações que as desmentem. A aliança militar promoveu voos com aviões F-16 em regiões diferenciadas da nuvem formada pela erupção vulcânica na Islândia e, segundo um porta-voz, foi detectada “cristalização de minerais” nos motores dos aparelhos, circunstância considerada bastante prejudicial ao seu funcionamento normal.
Algumas horas depois de empresas como a Air France/KLM e a British Airways, além da IATA (associação internacional das companhias aéreas) terem defendido o recomeço dos voos, menorizando os problemas de segurança e acusando as organizações meteorológicas de preocupações excessivas, os ministros dos Transportes da União Europeia decidiram uma abertura gradual dos espaços aéreos, embora sujeita a condicionalismos. Os ministros e a Comissão Europeia, como se verificou terça-feira de manhã em Estrasburgo durante o plenário do Parlamento Europeu, definiram três zonas em termos de actividade do tráfego aéreo: uma de restrição absoluta, nas zonas setentrionais mais atingidas pela nuvem de resíduos; uma zona de actividade controlada em função dos dados científicos disponíveis; e uma outra zona de actividade plena.
O Sindicato Europeu dos pilotos de aviação civil Eurocokpit, com 38 mil membros, assumiu na terça-feira fortes reservas em relação ao reinício dos voos em zonas afectadas pela nuvem de cinzas. Philip von Schoppenthau, secretário geral do sindicado, informou que “os aviões não estão equipados para voar através de cinzas vulcânicas” e que “a formação dos pilotos não lhes permite voar nessas condições”. Além disso, segundo o dirigente sindical, “as informações científicas não são suficientes para determinar” os efeitos do fenómeno presente nos céus da Europa. “No passado”, disse Schoppenthau, “ouvimos falar de casos, em que, por razões comerciais, os pilotos sofreram pressões e isso pode repetir-se; a segurança deve ser a principal preocupação da indústria em geral”, acrescentou.
A abertura de alguns dos principais aeroportos europeus como Paris, Bruxelas, Amesterdão e Frankfurt caracterizou-se pela realização de cerca de metade dos 27 mil voos no continente previstos para terça-feira, mas não é seguro de que tenha sido encontrado o caminho para a normalidade. O vulcão islandês continua em actividade, surgiram informações de que uma segunda nuvem está em formação e que o fenómeno continua a alastrar. No Norte da Europa as restrições mantêm-se e os aeroportos continuam encerrados, por exemplo, no Reino Unido.
O Parlamento Europeu discutiu a situação na terça-feira de manhã no plenário de Estrasburgo com a presença do presidente da Comissão e de representantes do Conselho. De um modo geral, as intervenções dos deputados salientaram as insuficiências da resposta das instituições europeias, designadamente o facto de os ministros dos Transportes dos 27 terem necessitado de vários dias para realizar uma videoconferência e tomar posição sobre a crise.
A reivindicação dirigida pelas companhias aéreas à União Europeia e aos governos dos Estados Membros para que disponibilizem indemnizações pelos danos causados por esta crise – e que já tinha sido bem recebida pela Comissão de Durão Barroso – encontrou eco nos conservadores do Partido Popular Europeu. “Será justo que todos os custos recaiam sobre as companhias aéreas? (...) Será que não deve haver um financiamento por parte do orçamento da UE?", perguntou a deputada holandesa Corien Wortmann-Kool.
O comissário europeu dos Transportes, Siim Kallas, sublinhou a necessidade de uma “resposta coordenada a nível europeu”, contrariando de certa forma o secretário de Estado espanhol dos Transportes, representante do Conselho, que considerou a resposta dos 27 como “rápida e coordenada”.
O alemão Martin Schulz, em nome do grupo Socialista e Democratas, lamentou que as companhias aéreas, em seu entender, sofram prejuízos superiores aos do período do 11 de Setembro, considerou as instituições europeias “mal preparadas” para fazer frente a uma crise deste tipo e, como a generalidade dos grupos, defendeu o desenvolvimento dos transportes alternativos no continente, designadamente da rede ferroviária. “As pessoas não conseguem comprar um bilhete de comboio para viajar do Norte ao Sul da Europa”, declarou, a propósito, a deputada liberal alemã Gesine Meissner.
Michael Cramer, verde alemão, sublinhou a importância de “a segurança, e não o lucro, estar sempre em primeiro lugar”. Em nome da esquerda unitária, o presidente do grupo GUE/NGL, Lothar Bisky, salientou o facto de “não dever jogar-se com a vida das pessoas” e sugeriu um acordo vinculativo com as companhias aéreas para que os empregos e os salários não sejam as principais vítimas desta crise.
Um sinal de que a situação está longe de caminhar para a normalidade continua a ser dado pelos governos de alguns países decididos a repatriar os seus cidadãos através de recursos alternativos. No Reino Unido, o governo de Gordon Brown está a enviar navios de guerra para Espanha com o objectivo de recolher cidadãos britânicos que ali estejam ou para ali se desloquem a partir de outras regiões do globo. Em alguns portos espanhóis, como no caso de Santander, registaram-se situações de descontentamento com os critérios de embarque decididos pelas autoridades. Se o caso das mulheres e crianças não foi alvo de críticas, já o mesmo não aconteceu com a prioridade absoluta dada aos militares que chegam a território espanhol oriundos do Afeganistão. Quem não couber nestas prioridades terá que encontrar alternativas por si próprio.
O governo belga está a recorrer a aviões militares para transportar cerca de 15 mil cidadãos de regresso ao seu país.
Artigo do site do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu.
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