O acordo de políticas para Lisboa firmado entre a candidatura "Lisboa é Gente" e António Costa suscitou reacções variadas. À direita, Carmona Rodrigues não compreende "que uma força política que ficou em 6º lugar nas eleições tenha poder para impor condições napoleónicas" e Fernando Negrão considera que o PS "naturalmente, terá que fazer políticas de extrema esquerda". À esquerda, Helena Roseta, que recusou participar nesta convergência, exigiu um pedido de desculpas de Sá Fernandes e Jerónimo de Sousa entende que o acordo é de "duvidosa eficácia". Gil Garcia, da tendência do Bloco de Esquerda que tem 12 pessoas na Mesa Nacional, afirmou que o acordo "representa indirectamente um apoio ao governo do PS".
As construtoras também já se manifestaram contra a obrigação de 25% das novos fogos serem colocados no mercado a custos controlados, que foi uma das condições de Sá Fernandes para assinar este acordo. Leia o Acordo de políticas para Lisboa
Carmona Rodrigues diz que não compreende que uma força política que ficou em 6º lugar nas eleições tenha poder para impor condições que considera napoleónicas. "Fazer-se um acordo entre o partido mais votado e o partido menos votado é uma solução fraca. O Bloco de Esquerda foi a sexta força política votada nas eleições", acrescentou à Lusa o antigo presidente da Câmara de Lisboa, considerando ainda a situação estranha dado que "o Bloco de Esquerda foi uma força de bloqueio e de prejuízo para a cidade".
Para Fernando Negrão, do PSD, o acordo agora alcançado para a câmara de Lisboa não passa de uma tentativa do Partido Socialista para silenciar o Bloco de Esquerda. "Politicamente, isso não lhe dá a maioria mas é uma clara tentativa de querer silenciar o Bloco de Esquerda", acrescentou. À TSF disse também que "o PS contava ter uma posição mais confortável" e que, com este acordo, "naturalmente, terá que fazer políticas de Extrema Esquerda".
Helena Roseta, do movimento "Cidadãos por Lisboa", recusou juntar-se ao acordo estabelecido entre Sá Fernandes e Costa afirmando que não troca compromissos por lugares. "Fomos eleitos com base num programa, é ele que vai nortear a nossa acção", acrescentou. Segundo diversos órgãos de comunicação social, nas negociaçõs com António Costa, Roseta terá reclamado para o seu movimento o pelouro do Urbanismo ou o da Mobilidade, tendo Costa sugerido a Cultura ou a Participação e Cidadania.
Helena Roseta afirmou que o vereador do Bloco de Esquerda, José Sá Fernandes, lhe deve um pedido de desculpa por, durante a campanha eleitoral, ter dito que existia um acordo entre o PS e o Movimento de Cidadãos, quando o acordo acabou por acontecer entre o Bloco e o PS. Sá fernandes já respondeu a esta acusação, recordando, em declarações à TSF, que «apelei antes da campanha para que houvesse uma união de todos. Fi-lo publicamente e dirigi-o quer à Helena Roseta, quer ao Ruben de Carvalho, quer ao António Costa. Durante a campanha fiz um apelo para que houvesse convergência entre estas forças. E agora, depois das eleições, continuo a fazer o mesmo apelo»
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou, hoje que o acordo entre o PS e o Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Lisboa "não responde às questões de fundo" da cidade e é de "duvidosa eficácia", apesar de "fazer ruído".
Um grupo de dirigentes do Bloco de Esquerda, da tendência de que fazem parte a Ruptura-Fer e outros militantes e que elegeu 12 membros para a Mesa Nacional do BE, referem em comunicado que "Saídos de uma Convenção em que foi unânime a rejeição das políticas neo-liberais do governo Sócrates, é uma completa e vergonhosa contradição que o Bloco possa negociar e concordar com o enviado do engenheiro para a gestão da Câmara de Lisboa". Gil Garcia acrescentou à TSF que "com este acordo, o Bloco cedeu ao PS e não se afirma como alternativa socialista ao governo de Sócrates. Este acordo com António Costa, que foi o número dois do Governo, representa indirectamente um apoio ao governo do PS»
Miguel Portas, dirigente nacional do BE, retorquiu: "Este acordo não é sobre a política nacional. O Bloco está em oposição ao Governo e não deixará de estar na oposição ao governo por causa deste acordo". O número dois da lista de Sá Fernandes e membro da comissão política do Bloco de Esquerda, Pedro Soares, esclareceu algumas dúvidas sobre o acordo
Já ontem Sá Fernandes tinha afirmado que o acordo "compromete exclusivamente sobre essas políticas", salientando que em todas as questões, "votarei sempre de acordo com a minha consciência, apoiando as melhores soluções para Lisboa e rejeitando as propostas que considere que prejudicam a cidade. Aprovarei orçamentos que tragam soluções e rejeitarei orçamentos que agravem problemas. Discutirei propostas pelo seu mérito e direi o que penso, e não me calarei por compromissos que não tenho" (Leia aqui a intervenção completa de Sá Fernandes).
Os termos do acordo foram aprovados por uma expressiva maioria na Comissão Política do Bloco de Esquerda e por uma diferença de dois votos na Coordenadora Concelhia de Lisboa do BE.
Também os construtores civis reagiram de imediato a este acordo, dado que uma das medidas prevê a obrigação de 25% das novos fogos serem colocados no mercado a custos controlados. Joaquim Carlos Fortunato, Presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas, afirmou mesmo que esta medida só "faz sentido em Cuba". "Nós estamos na cidade de Lisboa, não estamos em Havana, não estamos em Cuba, e se isso avançar admitimos recorrer ao tribunal porque não nos parece legal qualquer medidas que fixe os preços das casas", esclareceu à TSF.
Sá Fernandes respondeu que em cidades como Nova Iorque, Barcelona ou Paris este processo já está em aplicação. Em Lisboa será sempre implementado à luz da revisão do Plano Director Municipal em curso. E a imposição de quotas é para "abandonar a guetização": ou seja, permitir que pessoas com baixos rendimentos, ao abrigo da lei, possam ter acesso a estas casas.
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