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“O feminismo não fala a uma só voz sobre este assunto e há diversas posições feministas sobre este assunto.”
Dizem, em determinado momento do texto sobre “trabalho sexual” publicado ontem no Esquerda. Net com o título “De flagelo a pessoa”, a Adriana Lopera e o João Manuel de Oliveira.
Não podíamos estar mais de acordo. Como estamos de acordo relativamente à urgência das pessoas a que a autora chama trabalhadoras sexuais e eu chamo pessoas prostituídas terem acesso a “direitos fundamentais como a saúde, a segurança social e a proteção social e combater formas de violência e discriminação”.
Há um sentido, em que este texto, repetindo o tipo de argumentação, sublinho argumentação, que tenho encontrado em escritos de alguns e algumas camaradas que muito prezo e admiro, não me surpreende. Discordo mas, felizmente, milito num partido onde posso.
Mas há neste texto um sinal preocupante.
Concedendo ambos os autores que o feminismo não fala a uma só voz sobre esta questão, subentendendo eu que por isso mesmo haverá lugar ao debate de perspetivas, nomeadamente dentro do partido em que militamos, o Bloco de Esquerda, como deverei eu, e outras pessoas que pensam como eu, aferir da disponibilidade para o confronto de ideias se não passamos de “feministas ventríloquas”, uma tristeza de “ditas feministas...mas profundamente antifeministas” que dizemos a outras mulheres que “não podem nem devem falar, nem fazer determinada prática, nem se organizarem”, querendo, assim ter “propriedade sobre a dignidade das outras” com “um discurso que não difere muito do ferrete de discriminação que o conservadorismo sempre reservou para as trabalhadoras do sexo”?
Que deveremos nós pensar, mulheres e homens feministas, militantes do Bloco de Esquerda que discordamos desta visão da exploração de cariz sexual, imposta, consentida ou escolhida, das pessoas, quando, de repente, estes nossos potenciais interlocutores, que até conseguem desta vez não nos enfiar naquela gaveta sem fundo do lugar de privilégio que advém de sermos brancas, de classe média e meia idade, nos reduzem a “senhoras”, aparentemente a pior das condições.
Vamos longe, vamos...