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Serralves é o local aparentemente mais adequado para a fruição da coleção Miró. Mas o pendor cada vez mais elitista da Fundação extinguiu o domingo gratuito.

A coleção Miró exposta em Serralves tem um significado especial: os seus quadros resultam de um investimento feito pelo extinto BPN com a utilização fraudulenta do dinheiro de todos e todas. Por isso, seria o máximo escândalo que esse espólio fosse vendido a privados, espoliando uma segunda vez os Portugueses.

Serralves é o local aparentemente mais adequado para a fruição destas obras de arte. Mas o pendor cada vez mais elitista da Fundação extinguiu o domingo gratuito. Ora, quem quiser ver a exposição terá de pagar, no mínimo, 11 euros. Sei bem que a gratuitidade não chega para criar apetências pela arte. Mas ajuda. É por isso vergonhoso que não exista um único dia de acesso livre.

Deste modo, Serralves deixa de ser um espaço público. Já o tínhamos percebido quando o espaço é alugado para os casamentos opulentos da burguesia, que até têm como brinde o fecho de ruas. Mas inquieta perceber que nem o governo nem a câmara municipal tomaram medidas para alargar o acesso a todos e todas, incluindo as crianças em carro de bebe, igualmente proibidas de transpor a porta.

Não se trata, assim o penso, de um caso isolado, mas de um sintoma mais vasto de penetração insidiosa da lógica privada nos espaços públicos. Algo que é feito com particular hipocrisia: uma vez por ano, por dois dias, abrem-se as portas da fundação no “Serralves em Festa”. É como o Carnaval: no final desses dias, tudo volta ao seu lugar. Onze euros se queres ver as exposições e passear nos jardins.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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