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Exmos. Senhores

Concordo integralmente com o que é referido por Francisco Louçã.
Entendo aliás que ainda há muita margem para cobrar impostos adequados e justificados, para que haja maior justiça redistributiva, tão necessária como urgente.
Remeto de resto para um comentário que fiz ao que Mariana Mortágua escreveu sob o título "Bloco e PS propõem imposto sobre grandes fortunas imobiliárias”, com que também concordei.
Quanto a Passos Coelho expresso aqui algo dedicado ao mesmo, mas que o poderia ser a outros de iguais características. Aqui vai.

DA SABEDORIA
A Passos Coelho

Numa aldeia de Trás-os-Montes, todas as casas eram muito simples, construídas em granito típico da região, com excepção da casa da família do menino Pedro, que era claramente a mais rica de todas. A família de Pedro, cuja relação com os aldeões era de uma grande sobranceria, senão mesmo algo feudal, dando-lhes trabalho à jorna muito mal pago, para tratar dos seus campos agrícolas e matas, demonstrava muito desprezo pelos mesmos.
Uns poucos anos da juventude, passara-os Pedro em Angola, de onde viera entretanto, continuando os seus estudos, até que era tempo de rumar à capital, para tirar o seu curso superior.
Na aldeia havia um homem singular, o senhor José, um verdadeiro sábio, muito humilde, com mais de oitenta anos de idade. Como toda a sua família, era muito pobre, não podendo estudar, pelo que não sabia ler nem escrever. A sua grande sabedoria, recebeu-a dos seus antepassados, geração após geração. Os aldeões, quando tinham alguma decisão importante a tomar, ouviam sempre os seus conselhos, que se revelavam sempre corretos.
Passava grande parte do dia, sentado sob o alpendre da capela, junto a uma grande amoreira, e ao único chafariz da aldeia. A sua grande distração e alegria era ver passar simplesmente os seus conterrâneos, ou a encher os cântaros de água, aproveitando sempre para conversar um pouco, como tanto gostava.
Passados alguns anos, Pedro acabava o curso, e enquanto voltava à casa paterna, teve a ideia de pôr em causa a sabedoria do senhor José, perante todos os aldeões, para passar a ser ele o novo sábio. E se assim pensou, melhor o fez. Inventou uma estratégia que lhe pareceu infalível.
O seu plano passava por arranjar um pequeno pássaro, que manteria escondido na sua mão direita fechada, perguntando ao sábio, em frente a todos os aldeões, se aquele estava vivo ou morto. Caso o sábio dissesse que estava vivo, apertava-o, matando-o, e abriria a sua mão, evidenciando isso mesmo. Caso dissesse que estava morto, bastava abrir a mão e o pássaro voaria. Seria enfim o tempo da substituição do velho sábio pelo Pedro. Este não considerava qualquer outra hipótese.
Quando chegou o momento de passar à prática, questionou o que astuciosamente preparara. Mas quando colocou a pergunta, o homem sábio respondeu:
A resposta está na sua mão.
Pedro passou por todas cores do arco-íris, acabando por ficar branco como a cal, libertando o pequeno pássaro, enquanto o povo, na sua simplicidade, se ria numa gargalhada geral, percebendo o logro em que ele caíra.
Passados vários anos, em que os aldeões iam contando ao velho sábio os sucessos na carreira política de Pedro, este ia ficando com muitas dúvidas sobre algumas palavras de que os seus antepassados não lhe tinham falado. Um dia em que Pedro foi à aldeia visitar a família, e passando em frente ao sítio onde estava habitualmente o senhor José, este interpelou-o:
Menino Pedro! Menino Pedro! Boa tarde!
Boa tarde senhor José!
O menino Pedro é capaz de me explicar o que é social-democracia?
Social-democracia?... Social-democracia?... Tenho uma vaga ideia de já ter ouvido falar disso...

Melhores cumprimentos,
Paulo Figueiredo
(monárquico, militante do PSD, mas social-democrata)