You are here

Add new comment

Deixe-me corrigir alguns factos incorretos nesta data, que obrigam a atualizar a sua análise e talvez a sua conclusão:

1. Os 12.000 euros por aluno vezes 500 eram os 6 milhões de euros que o CM custava ao Exército antes da reforma de Aguiar-Branco. A poupança com o encerramento do Instituto de Odivelas, juntamente com as receitas adicionais do aumento para 700 alunos e a autorização para geração de receitas através do aluguer à sociedade civil de equipamentos escolares (como qualquer outra escola já podia fazer, mas o CM não), significa que hoje o CM tem custo zero para o Exército. Sendo os professores colocados e pagos pelo MEdu, o custo para o Estado por aluno do CM passou a ser o mesmo que no ensino público. Neste ponto, a reforma de AB teve pleno sucesso. A divulgação desta informação, infelizmente, não está a ser tão célere quanto a divulgação do custo por aluno pré-reforma.

2. Acompanhando a evolução dos costumes, é hoje expressamente proibido qualquer contacto ou atividade de ordem violenta entre alunos. Tal como os professores já não batem nos alunos, os alunos mais velhos continuam a orientar os mais novos mas sem lhes tocarem. O episódio em tribunal de há alguns anos serviu de lição definitiva. A propósito, o aluno queixoso que levou os colegas a tribunal não saiu e continuou no Colégio até ao fim do 12.º ano - obrigado não deve ter sido, logo temos de pensar que, se quis continuar no Colégio, é porque a situação por que passou não era a norma.

3. As "demonstrações de afetos", independentemente dos géneros envolvidos, são proibidas. Independentemente, repito. (A jornalista do Observador perguntou por relações dentro do mesmo género, o entrevistado não generalizou a resposta e partir daí foi o espetáculo público). Os alunos de ambos os sexos, dos 9 aos 18 anos, estão juntos 14 horas por dia quando internos, e a segurança da solução de camaratas (dormitórios) separadas por sexo mas em edifícios adjacentes é a componente da reforma de AB mais criticada por antigos alunos.

4. A disciplina no CM não é do tipo rígido dos três que descreve. É uma disciplina com deveres e direitos, com castigos e prémios, que promove a responsabilidade individual e coletiva, numa aprendizagem de valores que, esses sim, são aplicados para toda a vida e por todos reconhecidos. Mas não é para todos, para quem não prescinde do telemóvel, da Playstation, dos beijos dos pais e das saídas noturnas, todos proibidos intramuros.

5. O repúdio da violência referido no código de honra não é o da guerra, mas o do despotismo e da violência entre alunos. Ainda assim, apesar de um em cada 70 antigos alunos do CM (civis ou militares) ter ganho a mais alta condecoração militar - a Ordem da Torre e Espada - por feitos militares, nenhum deles participou numa "guerra" que tivesse sido iniciada por Portugal.

6. O CM não é para crianças com problemas comportamentais - não é uma casa de correção. Os testes psicotécnicos e as entrevistas aos pais encarregam-se de despistar esses casos.

7. O CM não forma pessoas com "autoritarismo militarizado", "programadas para um mundo duro", "reprimidas", "obedientes", "submissas"; são apodos que convêm à formação da sua opinião ideológica. Dos 138 antigos alunos que acabei de ver com artigos na Wikipédia devido à sua notoriedade, apenas 25 se tornaram notáveis por serem militares. José Fanha, Tomás Alcaide, Aniceto Monteiro, Luís Esparteiro, Luís Filipe Rocha, Eduardo Lourenço, etc. etc. são antigos alunos que de nenhuma forma poderiam sair duma escola como a que descreveu.

8. O problema do CM, após o apuramento dos factos, é apenas de formar elites, não sendo uma escola das elites. Uma escola onde qualquer um pode entrar por mérito e não por cunha ou por residência na freguesia ou por inscrição à nascença. Uma escola que não se enquadra na moderna corrente pedagógica e educativa de nivelar todos, e sempre por baixo (no CM até as regras para chumbo de ano são mais apertadas que "lá fora"). Mas a prova de que o problema do CM não o é para toda a gente é que tem mais candidatos que vagas, e tem um corpo de antigos alunos que, por reconhecerem a educação e os valores com que de lá saíram, o defenderão sempre e até à morte (deles ou do CM), com muito orgulho.