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É com alguma apreensão que vejo todo um leque de pessoas das mais variadas áreas a questionar a experiência do piloto, argumentando que esta era pouca, penso contudo ser relevante acrescentar alguma informação que talvez por falta de interesse ou desconhecimento não é tida em conta nos mais variados artigos.
Um piloto que entra como aluno até terminar o seu curso e obter qualificação para voar aeronaves comercialmente passa por sensivelmente entre 24 a 36 meses de formação que inclui obrigatoriamente mais de 800 horas de formação teórica e sensivelmente mais de 200 horas de voo com algumas efectuadas em simulador. Com toda esta formação um piloto NÃO pode voar uma aeronave Airbus. Após a formação inicial, o recém brevetado piloto pode optar por entrar nos esquemas agora muito em voga e chamados no meio de "Pay to Fly" de fazer um Type Rating em Airbus para aprender a voar um Airbus como o acidentado, para isso além da formação de base terá ainda de ter um curso de MCC, Multi Crew Co-Operation para poder operar em aeronaves chamadas de Multi Piloto. O piloto então efectua a sua formação com mais um considerável número de horas de formação teórica, chamado de Ground School para poder começar a fazer os voos em simulador dinâmico, simulador que replica o avião a sensivelmente 95% da realidade onde tem oportunidade de treinar todos os parâmetros de operação normais bem como as operações anormais como emergências, algo que não é treinado no avião por motivos mais do que óbvios, e só após todo esse treino com aproveitamento é que o piloto tem então oportunidade de efectuar o seu, chamado, voo de base num Airbus em que efectua uma série de aterragens e descolagens para verificação da sua proficiência, esta fase é de carácter eliminatório.

Resumindo: este piloto em concreto possivelmente teria cerca 300 horas de voo em Airbus mais todo o treino e voos noutras aeronaves, seria mesmo inexperiente? Exemplo: Voo LAM em 2014, o Comandante do voo efectuou o mesmo que este piloto da Germanwings e tinhas milhares de horas de voo, será experiência?

Para colmatar a "falta de experiência" os pilotos na Europa seguem normas muito restritas e que os levam a serem reavaliados 2 vezes ao ano no mínimo para verificação dos seus padrões de proficiência e se ainda conseguem responder às emergências que não ocorrem diariamente, será que o seu médico também é tão escrutinado para poder tratar de si?

Não se pode falar em muita ou pouca experiência quando se fala de um acidente cujo problema foi do foro psicológico de quem o provocou, temos de olhar para trás e procurar aprender com o que falhou para que isto acontecesse, isso sim o mais importante para evitar que novamente se repitam casos semelhantes, algo a que a aviação nos habituou desde cedo.

Quando entrar num avião, não se esqueça que quem está no cockpit também são seres humanos, também falham, também erram e também aprendem mas que sobretudo tem uma enorme vontade de cumprir o seu trabalho da forma mais profissional possível.

Filipe Cardoso, piloto