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Caro João,
Excelente abordagem desta outra urgência ofuscada pelas crises económica e social - também no discurso das 'esquerdas'.
A nossa ambição na defesa do ambiente tem de ser radical porque a situação é realmente dramática, como referes citando o relatório do IPCC. A óbvia ligação ao modelo económico tem de ser feita mais insistentemente para que se perceba que quando se fala da crise económica ou da crise ecológica estamos a falar de sintomas da mesma crise: a crise de valores e modelo civilizacional em que nos encontramos a nível global. Vários autores têm feito essa ligação mas tenho pena que não te tenhas referido ao livro mais recente da Naomi Klein (This Changes Everything: Capitalism vs. The Climate, 2014) cuja entrevista recente ao Der Spiegel foi noticiada no esquerda.net. É lamentável que os partidos de esquerda tenham muitas vezes secundarizado as questões ambientais por razões de estratégia eleitoral. Até o Syriza se acanhou perante a dimensão das questões sociais e económicas do seu país – como se não estivesse tudo ligado e as pessoas só sejam sensíveis aos temas mais prementes e mediatizados. A outra questão que não referes explicitamente é a questão do crescimento económico permanente, incompatível com um planeta de recursos finitos. Teses ligadas ao decrescimento, à prosperidade sem crescimento ou ao ‘buen vivir’ são muitas vezes conotadas com conservadorismo retrógrado e miserabilismo. Ligado ao tema do crescimento estão outros temas tabu para muita ‘esquerda’ como a questão demográfica e a do consumo descontrolado. Creio que é tempo de trazer estas questões para o debate político sob pena de continuarmos a hipotecar o futuro ao ceder a pragmatismos eleitoralistas e a um pretenso desinteresse por parte da opinião pública.