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Ricardo,

É preciso separar as coisas.
Uma coisa é o mercado residencial, outra é o mercado industrial.

Mercado Residencial

Eu queimo pellets para aquecimento central desde 2009. Eu e muitos outros portugueses. Por ano gasto cerca de 2T de pellets.
Esses pellets são um produto nacional, produzido a partir de serradura de pinheiro, proveniente de serrações, aproveitado como sub-produto de uma actividade industrial. Também há que utilize desperdícios (de fábricas de cozinhas, paletes velhas, restos dos "madeirões", etc.) para a produção, mas o pellet fica com uma qualidade muito inferior.
A alternativa era a queima de gasóleo/gás, muito mais caro e muito mais poluente na queima. E importado, claro.
É importante realçar que o pellet é extremamente eficiente na queima. Deixa menos de 1% de cinza, tem um poder calorífico enorme, as caldeiras têm uma eficiência superior a 90%. Uma lareira tem talvez 25%, um recuperador de calor, talvez 50%. Ou seja para se ter a casa quente com uma caldeira a lenha é necessário queimar 5x mais lenha. Pelo menos...

A indústria nacional de pellets teve em 2013 cerca de 1.240.000T de capacidade instalada. Em 2012 (último ano com dados) a produção total foi de 690.000T, sendo apenas 10% para consumo interno (como a minha caldeira). Ora nesses 10% é que começa o problema.

Mercado Industrial

O consumo de pellets para produzir electricidade em centrais termoeléctricas espalhadas por essa Europa fora é que é o verdadeiro problema. Nos últimos anos (desde 2005), alguns empresários perceberam que havia uma procura enorme por pellets.
Assim houve um crescimento exponêncial de fábricas de pellets, onde existe biomassa, ou seja Portugal.
Isso está a criar uma falta de matéria prima sustentável (serradura,restos de madeira, ou seja sub-produtos), pois para satisfazer a procura pode ser necessário começar a plantar árvores especificamente para a produção de pellets, ou pior, importar biomassa de fontes obscuras.

Assim acho conveniente separar as águas.
A utilização de biomassa local como substituto de gasóleo/gás importado para aquecimento é desejável e sustentável. A nível económico (melhoria da balança comercial, criação de emprego) e a nível ambiental (queima neutra em termos de CO2).
A ideia da biomassa como forma de engordar alguns empresários e gerar MW para a Europa, à custa da nossa floresta nativa, é que deve ser combatida.

Nuno Rogério Santos
Vila Franca de Xira

P.S. O pellet é considerado neutro em CO2 pois a quantidade de O2 gerado pela árvore no seu crecimento compensa o CO2 que é produzido pela sua queima que é, repito, extremamente eficiente.