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A bandeira ao contrário

Não sei porquê, algo me diz que um dia este episódio será contado como um prelúdio à queda do governo mais violento e vende-pátrias da história da democracia portuguesa.

A realidade mais uma vez superou a ficção quando Cavaco Silva hasteou a bandeira ao contrário durante a comemoração do 5 de Outubro esta sexta-feira. Se alguém inventasse essa história, certamente passaria por exagerado. E, no entanto, aconteceu.

Segundo o código da bandeira dos Estados Unidos, “a bandeira nunca deve ser exibida com a união em baixo, exceto como sinal de terrível sofrimento em situações de extremo perigo para a vida ou a propriedade.” [A união é o nome dado ao retângulo azul com as 50 estrelas].

Segundo o presidente da Associação Nacional de Sargentos portuguesa, hastear a bandeira ao contrário é um código militar que significa que o território foi tomado pelo inimigo.

Qualquer que seja o simbolismo que escolhermos, aplica-se como uma luva à situação portuguesa. O simbolismo do código da bandeira dos EUA parece ter sido escrito a pensar na atual situação portuguesa. Na verdade, Passos e Gaspar estão a infligir, com o seu fanatismo austeritário, um “terrível sofrimento” ao povo português, que vive “situações de extremo perigo” para a sua vida e também propriedade (neste último caso, que o digam os que vão ser vítimas do brutal aumento de IMI).

O simbolismo explicado pelo militar português também se aplica com perfeição: Portugal não está envolvido numa guerra convencional, mas está transformado num protetorado cujos representantes são inimigos declarados de todos os que vivem do seu salário ou de uma pensão, isto é, a maioria esmagadora do povo português.

Há um terceiro simbolismo que não lança mão de códigos de bandeira mas foi nele que toda a gente pensou: a bandeira ao contrário simbolizou tão simplesmente o país de pernas para o ar.

Não sei porquê, algo me diz que um dia este episódio será contado como um prelúdio à queda do governo mais violento e vende-pátrias da história da democracia portuguesa. Um episódio que será lembrado no feriado do 5 de Outubro que esse governo queria exterminar.

PS: Quando soube do episódio, lembrei-me de imediato de um filme que recomendo: “O Último Castelo” (2001), de Rod Lurie, com Robert Redford e James Gandolfini. Conta a história de uma rebelião de prisioneiros de uma prisão militar, liderada por um coronel condenado por insubordinação (Redford), levada a cabo para denunciar as agressões e maus tratos cometidos pelo diretor da prisão (Gandolfini). O objetivo final seria, justamente, hastear a bandeira ao contrário, como sinal de “terrível sofrimento”.

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Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
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