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Cuba: o despedimento de um milhão de trabalhadores
O governo cubano anunciou o despedimento de um milhão de trabalhadores da função pública, pela voz do sindicato. Dias antes, Fidel Castro tinha dado uma entrevista em que se referiu ao “fracasso” da economia cubana, para logo depois desmentir as suas palavras.
Cuba viveu uma revolução que marcou o século XX. E uma revolução necessária: bordel das máfias americanas, economia destruída pelo colonialismo, ditadura de um títere (que, aliás, se veio refugiar em Portugal de Salazar depois de ter sido derrubado), Cuba precisava dessa revolução. Recuperou independência e dignidade. Sofreu e venceu ameaças militares norte-americanas, sofreu e resistiu a um bloqueio eterno. Procurou solidariedades, e foram os soldados cubanos quem venceu o exército do apartheid no sul de Angola.
Anos depois, Cuba vive a dificuldade das escolhas. E estes episódios recentes sublinham essa dificuldade.
O sindicato, que é uma parte do Estado e não tem independência para representar os trabalhadores, anuncia-lhes o despedimento. É compreensível que um Estado não possa ter todos os trabalhadores como funcionários públicos. Mas fica por esclarecer que emprego vão ter estes trabalhadores, a que comércio se vão dedicar e o que acontecerá a esta economia cujo plano não funciona e cujo mercado não funciona. O risco de um efeito dominó na sociedade cubana é por isso muito grande. E dele sairá mais enfraquecida. Esta é uma razão para uma exigência que faz o código genético da esquerda: em todo o lugar, em todo o tempo, são precisos sindicatos que falem livremente pelos trabalhadores e que lutem pelos seus interesses, sem se subordinar aos Estados. O pluralismo político e os direitos de expressão são, como os direitos sindicais, condições essenciais para uma sociedade que lute pelas suas escolhas.
Publicado no Facebook a 17 de Setembro
Comments
Então a culpa é dos
Então a culpa é dos sindicatos e do Estado cubano. Interessante... eu a pensar que o embargo eterno (e não bloqueio) que continua feroz tinha muitas culpas no cartório.
A fé nunca resolveu os
A fé nunca resolveu os problemas de ninguém a não ser pelos milagres.
Claro que o embargo eterno tem um papel determinante ( e não apenas muitas culpas no cartório). Daí a admiração que o povo cubano suscitou em todo o mundo, pela determinação e coragem com que defende as suas conquistas sociais. Mas isso não justifica a tipificação de crimes de opinião, muito menos como crimes de traição à Pátria. O Partido não é a PátriaÑão aceitar as determinações políticas e/ou ideológicas do PCC não pode ser motivo de exclusão, muito menos de repressão.
A participação popular tem dois níveis: a democracia directa(e ela não existe se for organizada e orientada apenas pelo partido, se não houver liberdade de organização livre e expontânea - logo em cuba não existe); e a democracia representativa(e ela não existe se não houver capacidade de escolha entre diversas propostas diferentesde organização social, económica e política livremente apresentadas; logo em Cuba não existe.
É chato mas é assim
Tenho pena, ora bolas já ando
Tenho pena, ora bolas já ando há vários anos para ver se visito Cuba (ir coma família é um balúrdio...), especialmente Havana e quando arranjar o dinheiro não será que já se terá transformado num país "desenvolvido" igual a todos os outros? Bom, mas talvez como a maior parte sempre vivi entre a nostalgia dum regime que fez uma revolução heróica e a manteve nas barbas do imperialismo ianque e a falta de liberdade de expressão e de organização. Quero acreditar que um país pode sobreviver com dignidade sem uma organização económica assente no capitalismo e que a situação actual (ex. despedimento de 1 milhão de funcionários) é a consequência do longo embargo económico que os EUA sujeitam a ilha. Imaginem Portugal sem relações económicas com qualquer país da UE...
Quero ainda acreditar...mas como não sou um homem de fé...já começo a coçar o cocuruto...
Nem sequer há um único
Nem sequer há um único despedimento, muito menos o despedimento de 1 milhão de funcionários, Rui Cortes. O que o Conselho de Ministros aprovou em Julho foi um projecto de racionalização da economia, que o Parlamento Nacional debateu e aprovou em 1 de Agosto e que será levado à prática até ao final do primeiro trimestre de 2011. Como tudo o que acontece em Cuba este projecto de racionalização foi amplamente debatido e discutido em todo o país, com toda a população, poder local, poder regional, associações de trabalhadores, associações de agricultores, etc., e começou agora a ser implementado. Ninguém é despedido, ninguém perde direitos sociais. Tudo se debate, tudo se consensualiza. Não há tabus.
A resposta ao
A resposta ao embargo/bloqueio(o bloqueio é bem mais brutal que o embargo)não exigia o bloqueio da livre expressão da vontade popular, ou seja da liberdade.
Pois...todos sabemos que o povo discute muito e discutiu agora a desvinculação de 1M trabalhadores do Estado. Mas a questão que Louçã coloca com toda a seriedade é:como vai ser o futuro?
Vamos ter 1M pequenos empresários? O proletariado à espera de ser contratado pelas multinacionais como na China?(é uma forma de meia dúzia enriquecer à custa da mais valia estorquida aos outros 1M- meiadúzia; Teng-Shiao-Pingdizia que enriquecer é glorioso!)
A questão é esta: Fidel disse(mesmo que desmentindo depois)que o modelo cubano está esgotado.Qualo caminho?
Deixo aqui o link para a confirmação do jornalista que fez a entrevistahttp://www.theatlantic.com/international/archive/2010/09/fidel-cuban-mod...
Finalmente:claro que a culpa não é dos sindicatos: eles não existem fora das ordens do Estado
Louçã não pôs nenhuma
Louçã não pôs nenhuma questão. Limitou-se a repetir a tese da comunicação social dominante e a apresentar o processo de reorganização económica em curso como despedimento.
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