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Portugal à venda em Paris

A crise é um bom negócio. Para baixar salários, para comprar empresas e bens públicos, para recuperar ouro e prata de heranças familiares, e agora para adquirir as casas perdidas por pessoas endividadas.

A 1ª Feira do Imobiliário Português em Paris acontece este fim-de-semana, organizada pela Câmara do Comércio e da Indústria Franco-Portuguesa (CCIFP), iniciativa inédita em França. Os grupos económicos portugueses têm novas oportunidades de lucros à custa de quem perdeu a sua casa: "O país tem uma maioria de proprietários, cerca de 80%, mas neste contexto difícil muitos bens imobiliários são colocados à venda no mercado (...), uma oportunidade para investidores franceses" esclarece a página facebook do evento. http://www.facebook.com/events/110262892451875/

A página também insiste várias vezes na competitividade dos preços baixos, e refere o interesse do negócio para quem tem 3 vezes mais poder de compra em relação a Portugal.

Uma oportunidade para os consumidores franceses e luso-descendentes ou uma oportunidade para os bancos? Esta feira junta 90 entidades, a maioria bancos portugueses e agências imobiliárias, numa altura em que o PSD e o CDS anunciaram que não querem que a entrega da casa ao banco salde a dívida. Um duplo negócio: o banco fica com a casa e a família endividada continua a pagar.

É todo um sistema de impunidade do setor financeiro que continua a ser protegido pelo governo. Os bancos ficam isentos de qualquer responsabilidade sobre os empréstimos que oferecem e garantem os seus lucros enquanto as famílias que já pagaram juros e spreads altíssimos continuam em dívida. Um negócio perfeito, sem risco para a instituição, e um ciclo de empobrecimento para a pessoa.

Melhor ainda, o banco que recuperou a casa pode agora vendê-la novamente e conceder um novo crédito para esta venda, e lucrar a dobrar com o mesmo imóvel. Um ex-proprietário e um novo proprietário pagam ao banco pela mesma habitação. O banco só terá a ganhar se o novo proprietário também entre em incumprimento, para continuar o ciclo de usurpação, e ir vender novamente o bem imobiliário. Talvez seja melhor vendê-lo desta vez noutro país, para não dar muito nas vistas...

Sobre o/a autor(a)

Realizador de cinema. Dirigente sindical e ativista do movimento Que Se Lixe a Troika.
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