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Mota Engil fez depósitos na conta do presidente do Malawi

A imprensa do Malawi descobriu três cheques da Mota Engil depositados em 2010 e 2011 na conta pessoal do presidente, falecido em abril passado. A empresa de António Mota e Jorge Coelho tornou-se a principal construtora no Malawi durante o mandato de Bingu wa Mutharika. A Mota Engil até construiu a mansão de luxo e o mausoléu onde está sepultado o presidente, que era acusado de nepotismo e corrupção.
A empresa dirigida por Jorge Coelho é acusada de subornar o antigo presidente do Malawi. A empresa de António Mota tornou-se a construtora favorita de Bingu Wa Mutharika

A investigação à riqueza acumulada pelo antigo presidente do Malawi tem sido o tema de investigação do jornal "The Nation", que descobriu na conta pessoal de Mutharika três cheques passados pela Mota Engil entre 2010 e 2011, no valor total de 43 mil euros.

Antonmarco Zorzi, diretor da construtora no Malawi, disse ao jornal que esses cheques serviram para pagar três livros num leilão do livro "O Sonho Africano", da autoria de Mutharika. Uma explicação pouco convicente, dado que o primeiro cheque é de março de 2010 e o livro só foi lançado um ano depois. O representante da construtora acrescentou que a Mota Engil ganhou quase todos os concursos em que participou por apresentar os preços mais baixos.

De acordo com os dados recolhidos pelo "The Nation" junto das autoridades do Malawi, a Mota Engil já ganhou contratos no país que totalizam aproximadamente 170 milhões de euros em obras rodoviárias desde 1990, embora só se tenha assumido uma posição de força nas obras públicas do Malawi durante a presidência de Mutharika. E para além das estradas, conseguiu também o contrato para a construção do Porto de Nsange, considerado a jóia da coroa do presidente falecido em abril deste ano, mas que hoje é considerado um elefante branco, servindo apenas como área de lazer.

António Mota, presidente da companhia, esteve com o presidente Mutharika na inauguração deste porto fluvial em outubro de 2010, altura em que aproveitou para assinar um novo contrato, desta vez de concessão e exploração do serviço de transporte no Lago Niassa. Segundo o mesmo jornal, a Mota Engil foi também responsável pela construção da opulenta mansão Villa Casablanca e o mausoléu onde foi sepultado, mais conhecido na região como o 'Taj Mahal' do Malawi.

O Secretário Nacional da Comissão para a Paz e Justiça da Igreja Católica do Malawi, apelou à abertura de um inquérito por parte do Bureau Anti-Corrupção aos contratos ganhos pela Mota Engil no país e a verificação de eventuais subornos através dos cheques depositados na conta do presidente. Citado pelo "The Nation", Chris Chisoni defendeu o levantamento do sigilo bancário aos presidentes, considerando que "não pode prevalecer o direito à privacidade das figuras públicas mandatadas para liderar uma agenda de desenvolvimento, quando tudo indica que o auto-enriquecimento é a lei".  

O mandato de Mutharika, no poder desde 2004 até à sua morte, com 78 anos de idade, ficou marcado nos últimos anos por um crescente autoritarismo num dos países mais pobres do mundo. Somou acusações de nepotismo e corrupção por parte da oposição e reprimiu as manifestações contra o custo de vida e o desemprego em 2011, que se saldaram por dezenas de mortos em várias cidades. O isolamento internacional agravou-se depois da imprensa ter revelado um telegrama citando o embaixador britânico, que acusava o presidente de ser "arrogante e intolerante às críticas". Mutharika expulsou o embaixador e na resposta o Reino Unido cancelou a ajuda ao país, calculada em 440 milhões de euros nos próximos quatro anos. Outros países fizeram o mesmo e assim desapareceu grande parte da ajuda internacional, que chegou a equivaler a 40% das despesas públicas do Malawi.

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