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Hong Kong: multidão pede renúncia de Leung no primeiro dia de mandato

O que deveria ser uma festa unitária, com a participação do presidente Hu Jintao, acabou por se transformar numa das mais sólidas atitudes de rebelião dos últimos anos.
As fotos das manifestações mostram um gigantesca marcha que percorreu as ruas da cidade - Foto é do facebook de Leung Kwok-hung

Uma multidão pediu neste domingo a renúncia do novo governante de Hong Kong, Leung Chu-ying, no seu primeiro dia de mandato.

O Partido Comunista Chinês organizou uma grande festa para comemorar os 15 anos da volta de Hong Kong à soberania da China. Organizada em grande estilo, com a participação do presidente Hu Jintao, o que deveria ser uma festa unitária (somente na cabeça dos burocratas chineses) acabou por se transformar numa das mais sólidas atitudes de rebelião dos últimos anos, com uma multidão de opositores a tomar as ruas em protesto.

Durante o discurso comemorativo de Hu, um dos convidados levantou-se segurando uma pequena bandeira e gritando contra o sistema de partido único e também contra a repressão da Praça da Paz Celestial, Tiananmen, em 1989. Foi logo cercado pelos seguranças, mas o seu protesto manchou a comemoração e correu o mundo divulgado pelas agências de noticias.

Em 1997, Hong Kong, antiga colónia britânica, foi devolvida à China. Após a primeira Guerra do Ópio (1839-42), Hong Kong, cujos ideogramas do nome em chinês significam “porto” e “fragrância”, caiu sob o domínio britânico. Durante a Guerra do Pacífico foi dominada pelos japoneses e, posteriormente, voltou ao império britânico. Quinze anos de domínio de Pequim apenas pioraram as condições de vida dos seus moradores, aprofundando a desigualdade entre os pobres e a rica elite dominante. Uma das facetas dessa situação é a crescente alta dos preços dos terrenos e moradias, impedindo que a população pobre dessa administração chinesa possa adquirir uma moradia onde para viver com um mínimo de decência. Com a falta de espaço, os moradores de Hong Kong são obrigados a viver em espaços limitados numa cidade com grande densidade populacional e que continuamente cresce.

Desde 2003 os moradores de Hong Kong têm organizado protestos anuais no dia 1 de julho. São protestos massivos contra aquilo que sentem ser uma opressão, mesmo sendo todos chineses. Há menos democracia hoje do que existia na era colonial, e no terreno económico nenhuma vantagem. Quem poderia gostar disso? Apenas alguns, claro...

No atual sistema, não existe eleição direta, sendo o administrador (Hong Kong é uma administração chinesa, assim como Macau) escolhido através de um colégio eleitoral composto de 1200 pessoas, na maioria dirigentes empresariais e personalidades vinculadas a Pequim. Com isso, os moradores têm absolutamente claro que, sem acabar com essa situação, nunca haverá democracia nessa administração. Dos 7 milhões que compõem a população, 95% são da etnia Han, provenientes da atual província de Guangdong, o principal centro industrial chinês. Quando voltou aos braços de Pequim, a elite burocrática chinesa alegou que seria “Um pais e dois sistemas”, mas para a população de Hong Kong isso não passa de ficção. O que existe é um país e um sistema, baseado, como todos os outros, na exploração e opressão. O que não quer dizer que tudo seja igual. Gozando ainda de liberdades inexistentes na China, é possível que a organização de uma revolta possa liquidar a tirania de Pequim, o que teria profundas consequências no cenário político asiático, em particular na própria China.

As fotos das manifestações mostram um gigantesca marcha que percorreu as ruas da cidade. Os manifestantes carregavam um caixão, que simbolizava a morte da democracia. Não faltaram bombos que animaram a manifestação durante todo o percurso. No protesto também discursou Leung Kwok-hung, socialista e opositor do regime comunista. Na BBC News é possível ver o vídeo onde este heroico lutador queima a foto do novo governador, seguido pelos demais manifestantes que também queimam as fotos jogando-as na lata do lixo. A foto em questão mostra o governador Leung Chu-ying com chifres e expressão diabólica. Leung Chu-ying é um milionário e muitos suspeitam que seja membro do Partido Comunista Chinês.

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