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Tempos modernos

O actual momento político é dos mais difíceis do pós 25 de Abril.

Os trabalhadores, submetidos à chantagem do desemprego, da precariedade e da crise remetem-se para o «antes assim que pior»; os professores, passados os tempos de mais forte mobilização, parecem aquietar-se; a juventude estudantil dificilmente tem saído à rua na luta contra a mercantilização do ensino público; os protestos contra os encerramentos de escolas e centros de saúde foram serenados com o envolvimento e neutralização que o governo fez a partir das autarquias.

Agora, com a canícula, os que podem refugiam-se nas praias e os que o não podem ficam em casa. «O mar está flat» diria um amigo.

Enquanto o povo sossega das tormentas governamentais, das canseiras de um ano de trabalho ou da chatice de não o ter, o PEC recorda-nos que o mês teima em sobrar da carteira. Mas «antes assim que pior» que na Grécia, depois de tantas greves gerais, manifestações e lutas sem parar, foram abolidos os contratos colectivos de trabalho, reduzidos os subsídios de desemprego de 24 para 12 meses, reduzido o subsídio de desemprego aos jovens até aos 25 anos de 740 euros para 592 euros, congelados os salários de todo o sector privado por três anos... E o apoio do governo PASOK parece aumentar!

Tempos difíceis estes; convoquemos os filósofos; o corneteiro chama a reinterpretar os tempos modernos, as lutas e os caminhos, chamemos Chaplin que haverá sempre uma Electro Steel Corp que espera pela insubmissão...

Pela Europa, a direita e a extrema-direita crescem, o populismo, a xenofobia e o racismo tomam lugar na política dos governos centrais; é preciso voltar os pobres uns contra os outros antes que eles se voltem contra quem os submete. É uma luz ao fundo do túnel de Sócrates.

Se este é um tempo de dificuldades, também é um tempo de mudança e toma sempre novas qualidades. Esse é o nosso desafio e é essa a nossa disputa. Os objectivos de luta podem parecer, por vezes, muito difíceis, mas a despenalização do aborto mostrou como mesmo em correlações de forças muito difíceis se podem conseguir resultados positivos.

A influência “socialista” é disputada por 3 candidatos presidenciais, Defensor de Moura, Manuel Alegre e Fernando Nobre, e um amor secreto. A nomenclatura PS está com Cavaco. É Cavaco que lhe garante a linha política, é Cavaco que lhe garante a estabilidade do regime e do governo. Mas não deixa de ser um sinal dos tempos modernos um partido no poder aparecer tão fraccionado.

Não nos esquecemos do sonho do PSD em conseguir uma maioria, um governo e um presidente. Imaginem um governo maioritário de Passos Coelho com Cavaco em presidente. Partam para essa reflexão a partir do tempo do primeiro-ministro Cavaco Silva: a ideologia neoliberal apoiada por massas, em particular pela juventude, o indivíduo contra o colectivo, a competição contra a solidariedade... E agora somem Passos Coelho...

A disputa presidencial é difícil mas é possível. A acontecer a vitória de Alegre teremos o presidente mais à esquerda desde o 25 de Abril – no tempo político mais à direita. São as lutas dos tempos modernos. Afinal, os filósofos somos nós!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Energia e Águas de Portugal, SIEAP.
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