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Cem dias de greve estudantil no Quebec resultam em lei anti-manifs

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se esta terça-feira em Montréal em solidariedade com o protesto contra o aumento das propinas. É a resposta à decisão do Governo, que suspendeu o ano lectivo e restringiu o direito à manifestação, numa altura em que se vê ameaçado por um escândalo de corrupção.
Dezenas de milhares solidários com a luta estudantil. Foto indratarben/Flickr

A posição de força tomada pelo Governo tem como objetivo quebrar a greve prosseguida por cerca de um terço dos estudantes do Quebec desde fevereiro, contra o aumento de 82% no valor das propinas pagas em sete anos, decretado pelo Governo do Partido Liberal, que vê a sua popularidade actualmente afetada por escândalos de corrupção.

Na semana passada, um ex-autarca de Montréal foi preso na sequência duma investigação sobre subornos que está a abalar o sistema político no Quebec, revelando os meandros do financiamento partidário. O primeiro-ministro Jean Charest recusou durante dois anos a abertura de um inquérito, mas a pressão da opinião pública obrigou os políticos a aceitarem a formação duma comissão presidida por France Charbonneau, que começou a trabalhar esta terça-feira.

O Governo começou por recusar a negociação com os estudantes e acabou por propor um acordo que foi rejeitado massivamente em referendos nas universidades. A luta seguiu para os tribunais, que nalguns casos deu cobertura aos fura-greves, que acabaram escoltados pela polícia à entrada das aulas.

Apesar da sociedade estar dividida quanto ao aumento das propinas, a reação do Governo, ao aprovar uma lei que limita o direito de manifestação, voltou a unir as pessoas ao lado dos estudantes. Segundo a sondagem do Journal de Montréal, 73% dos inquiridos declaram que não irão contribuir para restabelecer a paz social.

"Lamentamos que o Governo Charest tenha escolhido o caminho da repressão em vez do caminho da negociação", declarou à agência France Presse um dos dirigentes da luta estudantil, Léo Bureau-Blouin. A nova lei proíbe aglomerações a menos de 50 metros das universidades e todas as restantes manifestações com mais de 10 pessoas devem ser anunciadas à polícia com mais de 8 horas de antecedência. Quem não cumprir arrisca-se a pagar uma multa até 5000 dólares e no caso de organizações a multa ascende a 125 mil dólares. Os manifestantes que usem máscaras também podem ser multados até 3000 dólares.

A nova lei repressiva foi posta à prova na noite de segunda-feira, com 36 estudantes presos na cidade de Sherbrooke, no sul do Quebec. Os estudantes falam num "acto de guerra" por parte do Governo. Desde a aprovação da lei, a tensão subiu nas ruas de Montreal, com centenas de estudantes a incendiarem caixotes e a fazerem barricadas nas ruas para resistir à violência policial. 69 pessoas foram presas nos protestos de domingo e desde o fim de semana 300 pessoas foram parar à prisão por participarem nas manifestações.

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