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Aldrabice e cobardia

Se deixarmos que continuem a esticar a corda, quando acordarmos já nos roubaram tudo.

Vamos dizer as coisas como elas são: esta política do governo Passos Coelho é uma aldrabice. De que outra forma se pode definir isto de dizer e repetir tantas vezes que o corte de subsídios aos funcionários públicos e reformados seria feito nos anos de 2012 e 2013, para agora vir dizer que o corte também é para 2014 e que a reposição em 2015 será gradual? E ainda virem jurar que sempre disseram o mesmo, que não há novidade?

Há limites para tudo. Não podem dizer que andamos todos enganados: nos dias de hoje, tudo se grava, tudo se filma. As televisões não perderam tempo a ir buscar as declarações de Gaspar, Passos e tutti quanti a repetir: os cortes são para 2012 e 2013. Com que cara vieram dizer que não disseram o que disseram? Com a mesma cara, disse Gaspar depois que ocorrera 'um lapso'. Que só por lapso falara no fim dos cortes em 2013. Juntou aldrabice à aldrabice.

É uma política cobarde. De que outra forma se pode definir este ataque a um setor da população, os funcionários públicos, e especialmente os reformados, quer tenham trabalhado no público ou no privado? Não é cobardia atacar preferencialmente quem não tem como se defender, como os reformados? E, já agora, não é cobardia centrar ataques nos pobres, nos doentes, nos desempregados?

É uma política de vende-pátrias. De que outra forma se pode definir este nível de submissão à troika? Com estes senhores, é assim que funciona: a troika dá ordens publicamente – e eles obedecem. A Comissão Europeia veio a público dizer que talvez Portugal tivesse que acabar de vez com os subsídios de férias e de Natal. Pois Passos e Gaspar logo vieram pressurosamente concordar com as ordens dos soberanos. Tentaram enganar toda a gente dizendo que não tinham dito o que disseram. Depois reconheceram o 'lapso'. Mais dois salários roubados e é um lapso?

Estes senhores não têm amor-próprio? Estes senhores acham mesmo que o povo português está disposto a submeter-se às ordens do monstro híbrido Merkozy sem ter o direito de eleger nem um nem outro?

E, já agora, como definir a atitude de quem é tão obediente às ordens da troika a ponto de, para cumpri-las, apontar a emigração como saída para o seu próprio povo e particularmente os jovens? Certamente que o qualificativo “vende-pátrias” não é exagerado.

Vamos permitir que isto aconteça? Que legitimidade tem este governo se se baseia num somatório de aldrabices? Lembrem-se, a aldrabice começou em plena campanha, quando o então candidato a primeiro-ministro Passos Coelho jurou a pés juntos que não ia cortar subsídio nenhum.

E o que diz disto a UGT e o sr. João Proença? Vão concordar com o 'lapso'? Vão dizer que faz parte do memorando da troika e por isso nada há a fazer?

E o que diz disto o PS? Vai continuar a política da “violenta abstenção”, como mais uma vez fez na votação do Orçamento Retificativo?

Ainda há quem acredite que o que justifica esta política é a dívida? Não, a dívida é um mero pretexto. O que estes senhores querem é acabar de vez com os subsídios de Natal e de férias, no público e no privado. Como querem acabar com o Serviço Nacional de Saúde, com o ensino público, com os transportes públicos. O ódio que têm aos pobres é o ódio que têm ao estado social, a tudo o que foi conquistado depois do 25 de Abril.

Vão esticar a corda até onde puderem. Se deixarmos, vão inventar um sistema para aldrabar os salários e pensões em 2015, de forma a que em vez de voltarem a pagar os subsídios, dão uma esmola complementar aos salários e põem um fim definitivo aos subsídios. Vamos deixar?

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
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