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“Ou vacinamos o mundo todo ou não nos livramos da pandemia”

Em entrevista na TVI, Catarina Martins insistiu na proposta de levantamento das patentes das vacinas. Sobre a situação em Odemira, sublinhou que “as pessoas são exploradas em nome do lucro de alguém” e defendeu uma alteração a lei do trabalho forçado, aprovada por proposta do Bloco em 2016.
Catarina Martins foi entrevistada por Miguel Sousa Tavares na TVI24
Catarina Martins foi entrevistada por Miguel Sousa Tavares na TVI24

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, foi entrevistada esta segunda-feira por Miguel Sousa Tavares na TVI 24, que começou por lhe perguntar por que só hoje tinha ido a Odemira.

Respondendo que tem lá ido muita vez, assim como outros deputados do Bloco, Catarina Martins lembrou que o Parlamento aprovou uma lei contra o trabalho forçado, por proposta do Bloco de Esquerda, que foi inspirada na situação que se vive em Odemira.

"As pessoas são exploradas em nome do lucro de alguém"

“Há muitos anos que temos vindo a denunciar tanto as questões ambientais, como as questões de direitos humanos e abuso de trabalho forçado” que se vivem em Odemira, afirmou a coordenadora bloquista, sublinhando porém que é um trabalho difícil, pois os imigrantes vivem em situações muito “penalizadoras” e “têm muito medo”. Por outro lado, “os proprietários das estufas resistem a que alguém entre na propriedade privada para mostrar as condições em que têm lá os trabalhadores”.

“Odemira é uma situação particular, mas não é só Odemira. Há na exploração agrícola intensiva em Portugal situações de abuso muito forte sobre o trabalho migrante, situações que para nós configuram trabalho forçado”, frisou Catarina Martins. Mas estas pessoas "são exploradas em nome do lucro de alguém", prosseguiu.

E, lembrando a lei de 2016, identificou dois problemas na lei: por um lado, fragilidade da fiscalização e o facto de toda a gente fechar os olhos ao que se passa. Há cumplicidades de autoridades nacionais e locais, que não fiscalizavam o que devem”, sublinhou. Por outro lado, "só depois de conseguirmos a condenação da empresa que colocou os trabalhadores naquela situação é que conseguimos processar os responsáveis das explorações agrícolas e os donos das terras”. “E como essas empresas são criadas na hora e esfumam-se num minuto, muitas vezes não há empresas a processar”, referiu.

“Queremos que todos respondam ao mesmo tempo, quem os contratou, quem os emprega, os donos da terra – devem responder todos ao mesmo tempo. E, não são só as empresas. Os gerentes, os administradores têm de ser responsabilizados”, propôs, convidando os outros partidos a apoiarem as alterações à lei.

Cimeira do Porto, “uma grande desilusão”

Sobre a cimeira social da União Europeia, a coordenadora do Bloco considerou-a uma “grande desilusão”. “Uma cimeira social que se resume a um apelo aos países para que tenham preocupações sociais? Estamos a brincar?”, questionou, sublinhando que se repete o que foi dito há 4 anos sem terem havido passos positivos. E frisou que nem medidas tímidas aprovadas no Parlamento Europeu foram tidas em conta para serem discutidas na cimeira.

Não nos podemos vacinar só a nós”

Catarina Martins considerou que foi importante a União Europeia ter investido nas vacinas, assim como ter dado muito dinheiro e acesso a muita investigação pública para que houvesse vacinas rapidamente.

“Mas também é preciso dizer que os contratos que foram feitos garantem os lucros às farmacêuticas, mas não a produção em quantidade”, criticou Catarina Martins e destacou: “Não nos podemos vacinar só a nós, ou vacinamos o mundo todo ou não nos livramos da pandemia”.

Explicou que “quebrar as vacinas não é fabricar vacinas sem controlo”, lembrou que há outros países que têm condições para produzir e defendeu que se pague um preço justo e se levantem as patentes. Recordou ainda que a quebra de patentes foi essencial no caso VIH/SIDA para haver tratamento universal. E, criticou também que Portugal tenha a mesma posição da França ou da Alemanha e não a da Espanha.

Promete-se o que ainda não está decidido e depois vem austeridade"

Sobre a chamada bazuca europeia, a coordenadora bloquista apontou que a proposta “que está a ser apresentada é em grande parte dinheiro do próximo quadro comunitário e de quadros comunitários futuros, apresentado de outra forma”, sublinhando que “a taxação das gigantes multinacionais digitais ainda não acontece, o que quer dizer que ainda não há novas receitas”.

Considerando que precisamos desse investimento, Catarina Martins alertou: "Já vimos este filme: promete-se agora o que ainda não está decidido para depois se cobrar de forma ruinosa aos países do sul da Europa", frisou Catarina Martins.

Dizer amen a tudo o que vem de fora, como se ou existe Europa ou não existe Europa, é uma falsa questão”, criticou.

Como se vai pagar tudo isso?

Sobre a moção à Convenção do Bloco que é subscrita por Catarina Martins, Miguel Sousa Tavares questionou: O Bloco propõe mais meios para o SNS, reforço da Escola Pública e subir pensões. Como é que vai pagar tudo isso?

Na resposta, Catarina Martins lembrou os grandes devedores que têm passado pelas sessões da comissão de inquérito ao Novo Banco e questionou porque pagamos os milhões todos para a banca em vez de investir no Estado Social e no emprego.

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