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Há um direito a não se vacinar?
Quatro universidades europeias, incluindo a Nova de Lisboa, realizaram uma sondagem em sete países sobre a disposição para tomar a futura vacina contra a covid. A amostra é pequena (mil pessoas, em média, por país), mas, consoante o rigor, pode ser indicativa. No caso português, 75% das pessoas ansiariam pela vacina, 18% não sabem se a querem tomar e 7% recusam-na. Nos outros países, há mais gente a recusar a vacina (19% na Alemanha e 20% em França) e, de abril para junho, a percentagem de quem se quer vacinar terá diminuído em todos os países. De onde vem este medo ou rejeição da vacina?
Conspiração e liberalismo
Há pelo menos duas respostas possíveis. A primeira é a das teorias da conspiração, que são um universo pujante, o Bill Gates quer inocular um microchip em cada pessoa, a maçonaria quer que todos fiquemos doentes, e outras maldades avulsas. Pululam na extrema-direita, como em Portugal, e em alguns países, como em França, ganharam um corpo de notoriedade que arrasta pelo menos um quinto da população. Mas é a segunda forma do movimento antivacina que quero destacar hoje, a da reivindicação liberal contra o intervencionismo de políticas sanitárias públicas.
A revista “The Economist” lembrou, por estes dias, a sua própria posição quando, nestas matérias, o liberalismo ainda fazia lei. Assim, em 1849 a revista fez campanha contra a quarentena, quando de surtos infecciosos, a pretexto de que o contágio das doenças seria uma crendice injustificada: “A crença no contágio, como a crença na astrologia e feitiçaria, parece destinada a desvanecer-se; e à medida que nos vemos livres de regulamentos que nos indicam que consultemos as estrelas e respeitemos os presságios antes de decidirmos algum empreendimento, e de todas as leis que contrariam que se alimentem os espíritos malignos e punam as bruxas, assim deixaremos de ter dúvidas de nos vermos livres dos regulamentos que impõem a quarentena, que foram estabelecidos na base da velha crença no contágio.” Cinco anos depois, um editorial do “The Times” exprimia a mesma ideia, de modo mais panfletário: “Preferimos arriscar-nos com a cólera do que ser pressionados a aceitar a saúde [a política sanitária].”
Salvar vidas
A noção de que a aceitação de regras sanitárias é uma escolha individual foi então a base ideológica da campanha liberal contra as vacinas. E, no entanto, nesses anos já se conhecia detalhadamente o processo clínico e o efeito devastador das epidemias e das doenças contagiosas. Em 1842, um relatório de um advogado, Chadwick, que se empenhou no combate à insalubridade da vida dos pobres em Londres, revelou que a esperança média de vida dos comerciantes era de 22 anos e a dos operários de 16 anos. Segundo ele, a causa das mortes eram os “miasmas”, os micróbios gerados nos tugúrios em que se albergava a população, ou seja, o contágio das doenças. Com a lenta imposição de regras sanitárias e da mudança das condições de habitação, até ao fim do século a esperança média de vida subiu seis anos nas cidades britânicas, 10 anos em Paris, 20 em Estocolmo. Depois, no século XX, as vacinas começaram a salvar pessoas e, com a melhoria da saúde pública, chegamos hoje a esperanças médias de vida de mais de 80 anos. Bem-vinda seja a vacina.
Comments
Não, Senhor Louça, não há
Não, Senhor Louça, não há apenas essas duas formas de rejeição á vacinação como afirma, essa opinião é demasiado redutora e enviesada. É inegável os benefícios da maioria das vacinas, porém hà vacinas e vacinas, como políticos e políticas, como maiores e menores interesses, que cada vez mais são evidentes, apesar do adormeçimento das massas, com discursos idênticos ao seu, que visam "(en)carneirar" e estupidificar o povinho cada vez mais e mais ainda, desinformando e confundindo a qualquer preço, para tirar dividendos, pessoais e benefícios para grupos restritos com interesses obscuros, com agendas totalitárias de controlo de vontades e liberdades.Pessoas como o senhor são responsáveis por formatar e desumanizar os nossos jovens (os actuais e futuros cientistas, médicos, políticos, e afins) com o intuito de fazer prevalecer essas agendas obscuras, com vista ao controlo e submissão Global, da vontade do "Grande Irmão". - Controlo esse supervisionado (nisso o Sr é magnânimo e experiente) por elites como o Sr Professor. (ainda bem que esse trabalhinho de consenheiro lhe deixa tempo para estas pérolas que escreve) Esta é a outra forma de rejeição.
Sr. Francisco Louçã, afunilar
Sr. Francisco Louçã, afunilar uma questão em apenas duas possibilidades e em seguida responder-lhes, é coisa de vender um baralho de cartas a um cego..., como pode ver ha mais divergentes do que possa pensar, junto parte da minha apreciação á do Paulo Alves. Desculpe-me o estilo da escrita, nada tem de pessoal, mas de facto, impor duas hipoteses de apreciação relacionada com o que os outros pensam, é, pelo menos, um sentimento de ditador, ou uma visão vesga. O sr. decidiu que existem apenas essas duas formas de rejeição? Falou com toda a gente? Parece-me que apenas decidiu e escreveu, na espectativa de que a maioria das pessoas sigam o que diz...
Vivemos tempos em que o que aparece escrito por alguem conhecido se traduz no pensamento de quem lê. Não o estava a ver a fazer um abuso desse fenomeno, mas como politico isso já não é tão estranho.
Engana-se, as pessoas não se arrumam consoante os arrumos que lhes criaram, e tenho essa prova em amigos/conhecidos para todos os gostos politicos, e de todas as camadas sociais, julgo ser uma pessoa independente de qualquer clube ou partido, acredito que cada um é unico e com um pensamento unico, embora na maioria dos casos o pensamento alheio, sobretudo quando aparece escrito ou dito na comunicação social se transforma em ''lei'' e faça com que saia da cabeça da maioria das pessoas um '' eu penso como ele''.
O sentimento de rejeição da vacina é transversal, e não ha forma de saber quantas pessoas assim pensam, a menos que fale com toda a gente em vez de se encavalitar numa amostragem de, mil pessoas?
A cultura do numero, da estatistica, da percentagem, é muito util para vender champôs e chupetas, é muito util para fazer de um formigueiro o exemplo de todos os formigueiros do mundo, mas cuidado, porque é o engano dos economistas, medicos e sociologos, a realidade não passa por aí, isso é querer ter a realidade toda num pucaro. São equações com numeros, formulas, programas de computador que nos querem vendar como se representassem a realidade, que não é.
Dou-lhe um exemplo: como pode saber quantas pessoas estão infectadas sem testar toda a gente? testa mil, faz umas contas e sai-lhe um resultado que se usa nas previsões para as eleições? isto é mais sério do que votar...
Um paralitico morreu afogado numa piscina e dizem que a morte foi devido ao facto de não ter conseguido respirar, ou porque não sabia nadar e agora temos todos de tomar banho com boias da Michelin em piscinas com o maximo de 40 cm de profundidade e apenas as do Holmes Place por serem as unicas certificadas, é neste beco que nos querem encurralar...
OU vai dizer-me que cada um pertence á sociedade, ou comunidade e que por isso o governo pode decidir da vida de todos por ser para o bem de todos? Olhe que no tempo do ''botas'' o argumento tambem era esse, embora o termo utilizado fosse a patria e a nação...
No dia em que a vacina for obrigatoria, podem rasgar a constituição, porque não será mais do que um folheto semelhante ao de uma agencia de viagens de turismo.
O sr, assim como a maioria dos politicos, vive numa bolha, não faz ideia nem do que acontece fora desta pais. Sabe-o apenas por jornais e comunicação social, que, como bem sabe está na mão de mais duzia de familias, a nivel mundial. Como professor universitário aconselho-lhe a leitura de um estudo, que não é opinião, artigo de Robert McChesney de 1 de novembro de 1997, consulte este artigo na net (fair.org/extra/the-global-media-giants/), vai um pouco no sentido de um excelente trabalho que o sr. fez com ''os donos disto tudo'', aprecido com outro que surgiu relacionado com o grupo dos Bildeberg e que foi censurado já em 2005 (?), ou teria um nome semelhante, e procure tambem o universo de empresas que pertencem á Walt Disney, depois certamente que não haverá muito espaço para falar de credibilidade.
Se tivermos atenção ao raciocinio, o facto de haverem 20% de alemães e franceses a não quererem a vacina, talvez se possa conjugar com as percentagens dos que não têm confiança na comunicação social mais ''institucional'' e são perto dos 60 a 70%. enquanto que em portugal essa percentagem é a dos que acreditam, o que fazemos deste numeros?
Sabem o que é a OMS? não me refiro ao que querem dizer as siglas, mas sim a quem lá manda, e tambem não me refiro ao nome do homem que ocupa o cargo, mas refiro-me a quem lá põe o dinheiro. Pesquise o que dizem os presidentes de então, no que se refere ao que ela é hoje. A OMS que existia no tempo em que o sr. estudou e a de ha 25/30 anos não é a mesma de hoje, antes tinha lá perto de 180 paises com contribuições de mais de 50% do seu orçamento, hoje são perto de 80 paises que contribuem com um orçamento de 20%, o restante vem essencialmente da fundação Bill e Melinda Gates, certamente sabe quem é... é o tecnico informatico que se tornou cientista em 5 anos, os nomes Monsanto, Bayer, dizem-lhe alguma coisa?
Quanto a universidades faça o mesmo, pesquise tem tem por detrás, e certamente saberá que dos grandes nomes como Harvard saem os responsaveis que neste momento mandam no mundo, e como todas as universidades, tambem têm as suas sucursais e parcerias com outras, e que é nelas que se formam os homens que vão comandar as sociedades nos diversos paises. Quem patrocina Harvard?
O sr. é professor universitário, tinha-o como uma pessoa intelectualmente honesta, ou lhe encomendaram o que escreveu, ou então não fez o trabalho de casa da forma que suponho que costuma exigir aos seus alunos.
Seja responsavel, estude pesquise, ha muita informação disponivel, e deveria informar-se sobre o que acontece em frança, na alemanha e etc, e não me refiro a artigos de opinião. Procura a informação e não espere que lhe chegue ás mãos. Quando aceitamos o que nos chega ficamos refens do que nos servem, e não se esqueça que em Portugal só se sabe o que vem escrito e o que é dito em português, e certamente que sabe que isso já vem mastigado e digerido, apenas lhe servem o que interessa que lhe seja servido.
En un mundo donde ni tan solo
En un mundo donde ni tan solo los partidos parlamentarios de izquierda se atreven a señalar con voz alta que el capitalismo es incompatible con un respeto a los recursos limitados del planeta, ¿cómo voy a fiarme en una vacuna creada de prisa por las fuerzas neoliberales, cuando los profesionales todavía no se ponen de acuerdo sobre el origen del virus o como se propaga?
Estoy de acuerdo con Paulo Alves, no se puede simplificar y dividir la humanidad en provacunistas y antivacunistas. El marxismo me enseñó a entender y situar cada problema en sus circunstancias.
Louçã revela aqui duas coisas
Louçã revela aqui duas coisas:
(1) Ignorância do liberalismo;
(2) Uma predisposição inquietante, mas nada surpreendente, para o autoritarismo.
Despacho (1) com uma citação de J. S. Mill ("A Filosofia Moral segundo Whewell"):
«O governo tem o direito de presumir que zelará melhor pelo interesse público do que os indivíduos, mas não que zelará melhor pelos interesses dos próprios indivíduos. Uma coisa é o legislador determinar o que os indivíduos hão-de fazer para seu próprio bem; outra é salvaguardar os interesses de outras pessoas, que poderão ser afectadas perniciosamente pelos seus actos. Os exemplos do próprio Dr. Whewell bastam para ilustrar isto. «Qual é sentido das restrições impostas em função da saúde, higiene e conforto públicos? Por que razão não se permite que os indivíduos façam o que lhes apeteça no que respeita a estes assuntos? Obviamente, porque a incúria, a ignorância e a indolência os impediriam de fazer aquilo que mais é do seu interesse.» (p. 258) Na verdade, sem restrições fariam algo de contrário aos interesses das outras pessoas. O objectivo apropriado das leis sanitárias não é compelir as pessoas a zelarem pela sua própria saúde, mas impedi-las de pôr em perigo a saúde de outras pessoas. A maior parte das pessoas consideraria, com toda a justiça, que determinar, através de leis, o que as pessoas devem fazer simplesmente por causa da sua saúde seria algo muito semelhante à tirania.»
Portanto, SE as pessoas não se vacinarem constituir uma ameaça muito significativa à saúde das outras, um liberal pode, com toda a consistência, defender a obrigatoriedade da vacinação.
Mas este é um grande "se", porque a ameaça tem mesmo de ser muito significativa -- e com isto passo a (1). Louçã presume que a resposta à questão do seu título é obviamente negativa: não, não há direito a não se vacinar. Que disparate, esse "direito"! Por outras palavras: obviamente, o Estado deve compelir pessoas crescidas, na posse das suas faculdades, a levar uma vacina. Se as autoridades do Estado entenderem que uma certa vacina é desejável, cabe ao cidadão comer e calar. Isto é um bocado intrusivo, não? Mas Louçã nem pestaneja.
Cereja no bolo: falaciosamente, faz equivaler "direito a não se vacinar" a "rejeição da vacina". Bom, tenho uma novidade. É uma novidade que só o será para quem ainda não tenha percebido o que é isso da liberdade, mas aqui fica: uma pessoa pode aceitar a vacina (querer ser vacinada, recomendar vivamente a vacinação) e, no entanto, subscrever o direito a não se vacinar. Lá porque uma coisa é desejável, não tem de ser imposta a toda a gente.
O Dr. Whewell era um beato da altura. Louçã é só um beato às avessas.
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