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Parir na rua aos 22 anos

Não há quem não tenha ficado chocado com o bebé recém-nascido encontrado num contentor em Lisboa. Seguimos as notícias e foi uma alegria saber como aquele pequeno ser conseguiu resistir às adversidades e se encontra de boa saúde.

Esta é a primeira parte desta história. Esperemos que tenha seguimento positivo e que esta criança tenha um futuro digno à sua frente.

A segunda parte da história é a mãe desta criança. Encontrada sem dificuldade pela Polícia Judiciária, foi presa sem resistir, como contam as notícias. Ficamos a saber que tem 22 anos, vive na rua e nunca foi acompanhada na gravidez. E mais, tudo indica que dissimulou a gravidez pois nenhuma equipa de rua sinalizou a situação.

Viver na rua, vamos repetir para tentar aproximar a nossa percepção dessa realidade – Viver na rua! Não sabemos como é. Ter 22 anos e viver na rua, não sabemos o que é. Estar sozinha e grávida, sem acompanhamento médico, como terá sido? Como ficou grávida? Foi uma relação consensual ou uma violação? As mulheres em situação de sem abrigo tem uma grande probabilidade de serem violadas.

As vozes que se levantaram clamando contra esta rapariga devem parar para pensar e se interrogar como é que ela chegou a esta situação. É fácil demais dizer que é culpada e ficamos por aí. Mas não nos sentiremos também culpados e culpadas quando pensamos como é possível uma jovem de 22 anos viver uma gravidez sozinha na rua, e depois parir nas mesmas condições?

Este caso é uma derrota dos princípios da Igualdade, da Inclusão Social, da Solidariedade. Convoca a nossa tolerância é certo, mas também deve convocar a nossa indignação. É preciso passar das palavras aos actos, é preciso pôr em prática os planos para tirar as pessoas em situação de sem abrigo da rua. E definitivamente, não só na época do Natal. É a dignidade da vida humana que está em causa e um Estado de Direito Democrático deve garantir o direito à habitação, consignado na Constituição da República.

Quem resume esta situação a um caso de polícia está errado, profundamente errado, para além de falhar no humanismo, falha no diagnóstico e falha na solução. Por isso junto a minha voz a todos aqueles e aquelas que apelam ao fim da prisão preventiva da jovem e que seja encaminhada para uma instituição que verdadeiramente a ajude.

Publicado em mediotejo.net a 13 de novembro de 2019

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Vereadora da Câmara de Torres Novas. Animadora social.
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