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Nicarágua: ONG's ilegalizadas e assaltadas pela polícia
No dia 13 de dezembro, as seguintes organizações da sociedade civil nicaraguense foram privadas de sua personalidade jurídica: Instituto de Liderazgo de las Segovias (ILLS), Instituto para el Desarrollo de la Democracia (IPADE), Fundación para la Conservación y el Desarrollo del Sur-Este de Nicaragua (Fundación del Río), Centro de Investigación de la Comunicación (CINCO), Fundación Popol Na para la Promoción y el Desarrollo Municipal, Centro Nicaragüense de Derechos Humanos (CENIDH), Fundación Instituto de Liderazgo de las Segovias, Hagamos Democracia, Instituto de Estudios Estratégicos y Políticas Públicas (IEEPP) e Centro de Información y Servicios de Asesoría en Salud (CISAS). Essas organizações receberam um prazo de 15 dias para concluir a sua dissolução e seus bens vão ser transferidos para o Estado.
Na noite de 13 para 14 de dezembro, a polícia entrou numa ação coordenada pela força nos escritórios do CENIDH, Popol Na, Fundación del Río, IEEPP e nos órgãos de imprensa Confidencial, Esta Semana e Esta Noche. Destruiu instalações, roubou documentos escritos e computadores, agrediu o pessoal de segurança dessas instalações, roubou os seus dinheiros e telemóveis, bem como vários veículos e outras coisas mais. A polícia não apresentou nenhumas ordens judiciais.
As ilegalizações legais e esses ataques foram realizados sob o pretexto de que estas organizações são terroristas que apoiaram uma tentativa de golpe de estado contra o governo.
O centro de direitos humanos do CENIDH é certamente o mais conhecido das instituições afetadas. Foi fundado em 1990 e desde então tem estado sob a direção da Dra. Vilma Núñez. Nos seus 28 anos de existência, o CENIDH tem sido implacável nos seus esforços para defender os direitos humanos na Nicarágua. Prestou apoio jurídico a pessoas que foram vítimas de violações dos direitos humanos, independentemente da sua orientação política. E defendeu os direitos humanos igualmente contra governos liberais, conservadores ou mesmo orientados para o sandinismo. Devido ao seu trabalho altamente profissional, o CENIDH goza de alta reputação entre grande parte da população dentro do país e também internacionalmente. Vilma Núñez recebeu vários prémios internacionais na sua capacidade de Presidente do CENIDH.
Durante a Revolução Sandinista, ela foi vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Quando a Frente Sandinista de Libertação queria investigar alguns casos de corrupção dentro das próprias fileiras após a sua derrota eleitoral em 1990, ela foi nomeada para o comité de ética da FSLN. Em 1999, Vilma Núñez assumiu a representação legal de Zoilamérica Narváes quando ela acusou o seu padrasto – o atual presidente da Nicarágua Daniel Ortega – de ter abusado dela sexualmente desde a idade de onze anos.
Desde a violenta repressão dos protestos massivos e pacíficos em abril deste ano, o governo Ortega-Murillo tem intensificado enormemente a repressão estatal: em primeiro lugar, os jovens manifestantes foram brutalmente reprimidos de modo que mais de 40 deles perderam as suas vidas nos primeiros dias dos protestos. O desmantelamento violento de mais de cem barricadas de rua em todo o país levou a mais mortes. Ficou cada vez mais claro que também forças civis - mascaradas, armadas com armas de guerra e em cooperação aberta com a polícia - participaram nessas medidas repressivas. Isto foi seguido por um período de ataques, intimidações, prisões e assassinatos de supostos ou reais ativistas dos protestos. O número de mortos subiu para mais de 300. Atualmente, em processos rápidos, que não cumprem com os mínimos requisitos legais, estão sendo sentenciados presos pelo seu suposto envolvimento numa tentativa de golpe de estado a 15, 20 ou até mais anos de prisão.
Enquanto na Nicarágua o Estado ilegaliza organizações da sociedade civil e invade os seus escritórios, Daniel Ortega não perde nem uma palavra sobre a repressão no seu país na 16ª cimeira da Aliança Bolivariana ALBA em Cuba e limita-se a fazer um discurso morno contra o imperialismo a 14 de dezembro. Como se algumas fórmulas anti-imperialistas pudessem justificar a guerra do seu governo contra o seu próprio povo.
Comments
Os outros factos ignorados pelo politólogo
Caro Schindler, Independentemente de não ser especial partidário do governo nicaraguense, e de não poder pactuar com assaltos policiais, o seu escrito suscita algumas perguntas e requere a contraposição de alguns factos relatados por outras fontes. As perguntas: 1. Além da (aparentemente) mui digna dupla CENIDH/Vilma Nuñez como caracteriza as restantes ong's e ocs's "assaltadas" pela policia? 2. Como são financiadas essas ong's e esses ocs's (follow the money?) 3. Os mortos que refere, por puro acaso, enquadram-se nas "lutas" que tiveram lugar desde junho passado ? 4. Como enquadra a resposta terrorista do governo no quadro do processo politico nicaraguense, nomeadamente da experiência com "os contra" de finais da década de 80 . 5. Em que é que ficaram as acusações de pedofilia, ou isso foi só mais um prego spp ?
As outras interpretações dos seus factos:
estava a tentar deixar aqui uma série de links mas o esquerda.net aparentemente não permite. Mas pode sempre confrontar a sua visão com a do abrilabril -> nicarágua,
;-) para bom entendedor ;-)
A propósito do gerard miller daqui que escreve sobre a "a sua nicarágua" «Numa recente conferência sobre Cuba, o redactor em chefe do mensário Le Monde Diplomatique, Renaud Lambert, concluiu a sua intervenção de uns quarenta minutos com a menção in extremis da palavra «embargo», que ele próprio qualificou de «terrível». Não se ficou a saber mais do que isso. Apenas que é «terrível». Ainda agora me pergunto como é que a elite do jornalismo francês consegue omitir de uma intervenção o aspecto «terrível» da realidade, ao mesmo tempo que foi pontuando a sua intervenção com anedotas sobre o serviço nos restaurantes e sobre a qualidade do alojamento para os turistas. Omitir o terrível, eis o que eu considero terrível.
De resto, no que diz respeito a Cuba, o famoso «embargo» nunca é mencionado, ou então é-o de passagem. Com poucas excepções, vós que me ledes não tereis na realidade a menor ideia acerca do que consiste esse «embargo». Pensais talvez mesmo, tal como os fake jornalistas da AFP, que o embargo já foi levantado. Ou a vossa ignorância total na matéria permite-vos asneiras como «o embargo não existe» ou que «não passa de uma desculpa».
Também no que diz respeito a Cuba nunca serão mencionados os 3.000 atentados perpetrados contra a ilha – o que à escala da França equivaleria a 20.000 atentados. Como uma espécie de compensação jornalística preferir-se-á no melhor dos casos falar apenas nos atentados contra Fidel Castro, o que impõe a ideia de que os criminosos autores destes atentados não agiam senão com um objectivo sumamente louvável, «desembaraçar Cuba de um ditador». Os jovens que pescavam à linha em Caibarien, ou os operários da fábrica bombardeada com bombas incendiárias, ou o turista italiano morto num atentado à bomba num hotel, os passageiros do avião comercial cubano, e todas as 3.000 vítimas destes atentados, talvez tivessem uma palavra a dizer. Mas para tal seria necessário não as deixar cair no esquecimento, nem a elas, nem aos seus assassinos.»
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