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Razões para assinalar o Dia Internacional da Mulher Rural

O dia 15 de Outubro foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) Dia Internacional da Mulher Rural.

É um dia que devemos assinalar aproveitando para alertar para o muito que falta fazer pelas mulheres que vivem nos territórios rurais, sobretudo os de baixa densidade. Cerca de dois terços do país é considerado de baixa densidade.

Neste vasto território, cada vez mais despovoado e abandonado, são as mulheres que mais sofrem com as assimetrias socais e territoriais.

As mulheres que teimam em viver neste território, muitas são agricultoras mas a maioria dedica-se a outras atividades: são artesãs, operárias, professoras, médicas engenheiras ou outra qualquer profissão que as obriga a deslocar-se diariamente do local onde vivem para o trabalho.

São mulheres cuidadoras. Cuidadoras dos filhos e dos seus idosos porque há falta de oferta de serviços de apoio à família com qualidade e adaptados às suas necessidades.

São as principais guardiãs das sementes, das tradições, do património cultural e de uma valiosa sabedoria popular.

O modo de vida no rural é urbano, com todas as necessidades que caracterizam a vida nas cidades mas com todas as dificuldades que existem nos meios rurais, nomeadamente ausência ou escassez de transportes públicos, ausência ou dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde, educação, tribunais e serviços agrícolas bem como a oferta cultural com qualidade e diversidade que se impõe.

Também a presença das forças de segurança diminuiu nestes territórios, o que agrava a sua exposição a situações de violência, nomeadamente a doméstica e sexista.

As mulheres que habitam estes territórios sentem todos os problemas das mulheres que vivem nos meios urbanos mas de forma muito mais intensa, devido ao isolamento em que vivem e ao conservadorismo patriarcal que ainda predomina nestes meios.

Há nestas mulheres um exemplo de resiliência e resistência em relação à manutenção da vivência humana nos territórios rurais. Devemos reconhecer e valorizar o seu papel.

O desequilíbrio territorial é pois transformado em desigualdades asfixiantes sobre as mulheres que acabam por se confrontar com todo os tipos de barreiras às oportunidades e as levam a olhar para o êxodo rural como única via emancipatória. Existe no nosso país um forte êxodo rural que contribui em forma de ciclo vicioso para o aumento da baixa de natalidade nestes territórios.

Para contrariar este êxodo são necessárias políticas públicas adaptadas a estes territórios. Deverão ser pensadas de forma articulada entre os diversos ministérios e sectores de forma a proporcionar condições de vida às mulheres dos territórios rurais que lhes permitam neles permanecer por opção e não apenas por falta de alternativas.

Apoios específicos para projetos produtivos e culturais, serviços públicos adaptados a cada realidade concreta, proporcionar mobilidade e transportes adaptados a cada município ou região. Medidas e meios para evitar a violência sexista, a LGTBIphobia devem ser adaptados à realidade do mundo rural.

É a resiliência e a resistência das mulheres rurais e urbanas que mantêm as comunidades vivas, apesar das crescentes dificuldades.

É essencial promover medidas de política que contrariem o desequilíbrio territorial, a fim de construir um país mais igualitário e orientado para o futuro.

Sobre o/a autor(a)

Engenheira agrícola, presidente da Cooperativa Três Serras de Lafões. Autarca na freguesia de Campolide (Lisboa). Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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