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Maduro diz que China apoia Plano Económico do seu governo
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, visitou a China entre 12 e 17 de setembro e reuniu com autoridades do setor financeiro chinês e com o presidente da República Popular da China, Xi Jinping. Durante a sua estadia, foram assinados 28 acordos de cooperação estratégica entre os dois países, nomeadamente nas áreas de petróleo, energia, mineração, ouro, ferro, tecnologia, educação e cultura, segundo a agência venezuelana de notícias (AVN). A agência salienta também que o presidente da República esteve presente no Fórum de Negócios China-Venezuela, que juntou 124 empresas chinesas e 49 venezuelanas, onde reafirmou o compromisso de “promover e proteger” os investimentos chineses na Venezuela, assim como impulsionar “alianças económicas” entre setores empresariais de ambas as nações.
No seu regresso, na madrugada desta segunda-feira de acordo com a Telesur, Maduro escreveu no twitter: “o plano de recuperação económica conta com o apoio decidido do nosso irmão mais velho”.
Luego del gran éxito de nuestra gira por la República Popular China, acabamos de aterrizar en nuestra amada Patria. El Plan de Recuperación Económica cuenta con el apoyo decidido de nuestro gran hermano mayor.
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) 17 de setembro de 2018
Empréstimo de 5.000 milhões de dólares
Em declarações à Bloomberg, Simón Zerpa, ministro das Finanças da Venezuela, anunciou que a China concedeu um empréstimo de 5.000 milhões de dólares à Venezuela, que esta pagará em dinheiro e em petróleo. Zerpa anunciou também uma “aliança estratégica na mineração de ouro”.
A concessão do empréstimo parece ser essencial para o país latino-americano aliviar o estrangulamento financeiro. A agência refere que, na semana anterior, conselheiros chineses estiveram na Venezuela para avaliar a situação e reformar os controles cambiais.
Segundo Asdrubal Oliveros da Ecoanalítica, com este empréstimo a dívida da Venezuela à China subirá para 28.000 milhões de dólares.
.@aroliveros: "El monto de la deuda con China asciende a USD 23.000 millones, de concretarse este nuevo préstamo totalizaría USD 28.000 millones" https://t.co/4pyII5tvqI #AgendaEconomica (vía @CircuitoExitos)
— Ecoanalítica (@ecoanalitica) 14 de setembro de 2018
Explorar o "enorme tesouro"
A visita de Nicolás Maduro foi antecipada pela da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, que foi acompanhada pelo ministro do Petróleo e presidente da Petróleos da Venezuela (Pdvsa), major-general Manuel Quevedo, os quais reuniram com o presidente da Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC), Zhang Jainhua, e prestaram declarações à comunicação social.
Segundo Efecto Cocuyo, Quevedo destacou no encontro os êxitos da empresa mista Sinovensa e o seu contributo essencial para ser alcançado o objetivo do governo venezuelano de aumentar a produção de petróleo em um milhão de barris por dia. O ministro salientou ainda os objetivos de avançar em acordos de exploração de gás e de expansão das operações da China em solo venezuelano, sublinhando que a Venezuela “tem uma reserva de mais de 200 milhões de pés cúbicos de gás disponíveis para explorar, o que representa uma oportunidade para ambos os países”. Zhang Jianhua concordou com os objetivos do governo venezuelano, afirmando que sendo a Venezuela o país com maiores reservas de petróleo bruto do mundo, ambos os países “sentem-se no dever de explorar esse enorme tesouro que se encontra no subsolo”.
Venda de ações à China para pagar dívida
De entre os 28 acordos assinados, um deles estabelece que a empresa Pdvsa paga parte da sua dívida através da venda de ações à CNPC. Assim, segundo a Petroguia (petroguia.com), a participação da Pdvsa na empresa mista de petróleos Sinovensa diminuirá de 64,25% para 54,35%, aumentando a percentagem da CNPC de 35,75% para 45,65%. A empresa mista Sinovensa opera no campo de Carabobo da Faixa do Orinoco, na Venezuela.
Esta será a segunda vez que a Pdvsa reduz a sua participação em empresas mistas. Em 2016, vendeu a sua participação na Petromongas à empresa russa Rosneft1.
300 novos poços, exploração de gás e ouro
Outro dos acordos assinados pela Pdvsa estabelece a perfuração de 300 novos poços na Divisão Ayacucho, a avaliação da empresa mista Petrourica e um acordo de financiamento da empresa mista Petrozumano entre a Pdvsa e a CNPC. Estas empresas mistas, Petrourica e Petrozumano, foram constituídas em 2016, entre a Venezuela, através da Pdvsa, e a China, através da CNPC.
Outros dois importantes acordos assinados, visam a exploração de gás e de ouro na Venezuela. Para o gás, o acordo é entre a CNODC (China National Oil and Gas Exploration and Development Corporation) e a Pdvsa. Para o ouro, o acordo é entre o Estado venezuelano e a empresa estatal de mineração chinesa Yankuang Group.
3 acordos com a ZTE
Três dos 28 acordos envolvem a ZTE2, que é uma empresa de telecomunicações chinesa: dois acordos entre a ZTE e a CANTV (companhia anónima nacional de telefones da Venezuela) sobre a “segunda fase do sistema de pagamento eletrónico” e sobre a ampliação das redes e ainda um acordo entre a ZTE e o ministério da Saúde.
Maduro acordou também a integração da Venezuela nas “Novas Rotas da Seda”, o projeto global de investimento em infraestruturas da China, a que também aderiu o Uruguai.
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A visita de Maduro à China pode ter aliviado as dificuldades económicas e financeiras que o país da América Latina vive, agravadas pelas sanções norte-americanas, e reforçou a ligação entre os governos dos dois países. Em contrapartida, a Venezuela aumenta a exploração das suas riquezas naturais, entrega parte importante dessa exploração ao gigante asiático e agrava a sua dependência. Além disso, e sobretudo, esta opção é a continuação e o aprofundamento do modelo extrativista e rentista que levou a Venezuela à grave crise que tem vivido.
Artigo de Carlos Santos, para esquerda.net
Notas:
1 Rosneft é a terceira maior empresa russa e é maioritariamente detida pelo governo russo, diretamente ou através da Gazprom (ver wikipedia).
2 ZTE, empresa chinesa de equipamento de telecomunicações, telemóveis e redes (ver ZTE em wikipedia)
Comments
Ao camarada Carlos Santos
Imagino que só quem não conhece refugiados venezuelanos, ou que está profundamente mal informado, ou formatado, conseguiria ter paz de espírito para escrever este artigo. Só quem não tem amigos a quem a ditadura os proibiu de voltar a ver os pais, amigos que lutaram desarmados contra cocktails molotov, amigos que viram os irmãos passarem fome, amigos que viram numa base diária crianças ir ao lixo buscar comida... Amigos a quem se vê nos olhos memórias de desespero, terror, e medo. Que profunda irresponsabilidade. Assustador. Cumprimentos de uma portuguesa que vive há um ano na América Latina.
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