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Venezuela – A importância de estar no lado certo da história
Por cá, o discurso faz eco da narrativa mainstream sobre a crise venezuelana e aquela a que os jornais apelidam da “ditadura da revolução bolivariana”. Há, no entanto, um outro lado nesta história que por vezes até surge na mesma imprensa, apesar de forma oculta, tímida ou até mesmo com o objetivo de a descredibilizar. Não nos enganemos, o ênfase que hoje se coloca nas tentativas de criar uma opinião pública internacional sobre a falta de democracia do governo de Maduro, e as sucessivas tentativas de o associar a uma ditadura de esquerda, acontecem porque a imprensa mainstream não é imparcial ao processo político, mas cúmplice de uma oposição cujo objetivo é um e só um, a do golpe de estado.
Enquanto a imprensa tenta transmitir a falsa ideia que na Venezuela estamos perante um regime violento e uma ditadura de esquerda, a oposição de direita e extrema-direita é pintada nas mesmas notícias como as vítimas desse suposto regime ditatorial sem que com isso se análise e reflita sobre o caráter fascista e golpista da oposição encabeçada pela coligação da Mesa de la Unidad (MUD). Enquanto a imprensa apresenta números gerais de vítimas dos conflitos em manifestações sem os confirmar, oculta-se a realidade das mortes maioritariamente resultantes de episódios de violência instigados e executados por forças paramilitares organizadas pela direita, cujo objetivo é o da intimidação do povo venezuelano que hoje ainda apoia o processo da revolução bolivariana.
Há por isso muito ainda a dizer e a escrever sobre a Venezuela, mas à esquerda necessitamos de um ponto de partida comum, e esse é o reconhecer que hoje a crise venezuelana a que assistimos é orquestrada por uma oposição de oligarcas golpistas que vêm desde 2002 a organizar forças reacionárias e contrarrevolucionárias no país.
Importa ainda que tenhamos claro para nós que o que se joga na Venezuela ultrapassa as suas próprias fronteiras. Sabemos, desde a eleição de Hugo Chavéz, que a Venezuela se tornou um problema para as oligarquias latino americanas aliadas do imperialismo dos Estado Unidos da América. Isto porque, as alianças de esquerda que surgiram com Chavéz, Lula, Fidel, Morales e Kirchner, cujo objetivo tinham de democratizar a distribuição da riqueza dos seus países, e que procuraram recuperar a esperança para tantos milhões de povos, ameaçaram os privilégios de uma minoria oligarca e os petró-interesses dos Estados Unidos da América ao gritarem “fuera con los yankees”.
É esta esperança que se joga hoje na américa latina.
O fim da esperança
Se ainda não estão convencidas sobre quem hoje constitui a maioria da oposição a Maduro na Venezuela, e menos ainda sobre o seu caráter golpista, há que relembrar quem são na história esta oposição. É a mesma que em conjunto com media privados e sectores ultra conservadores da igreja católica e do exército orquestraram o golpe de estado contra Chavéz em 2002. Um golpe onde a imprensa venezuelana privada e internacional teve um papel determinante (e aliás gabarolado) no sucesso dos oligarcas golpistas representados por Pedro Carmona. A RCTV, Globovisión, entre outros dos vários grupos privados noticiosos da Venezuela foram centrais no golpe ao promoverem ativas campanhas de desinformação e contrainformação sobre o governo chavista. Após a morte de Chavéz, os golpistas entraram novamente em ação na Venezuela com um fino plano que tem vindo a ser testado e implementado em vários países da América Latina, mais recentemente no Brasil com a destituição ilegítima da presidenta democraticamente eleita Dilma Roussef, e anteriormente posto em marcha nas Honduras e no Paraguai. Um golpe pseudo-institucional, desenhado por poderes jurídicos/legislativos corruptos sequestrados pela direita, e extrema-direita, que usam estes espaços com a estratégia de bloquear a ação política e a transformação social, e provocar uma destituição (Impeachment) maquinada. Não se enganem no entanto ao achar que esta via é de alguma forma democrática, ou até mesmo que os intentos golpistas se circunscrevem hoje a estas farsas. Porque se os meios institucionais não o permitirem, e na Venezuela Maduro aprendeu com os golpes que o antecederam, a oposição e seus aliados, estão preparados para o enfrentamento violento que leve a população ao esgotamento.
Não nos enganemos, a realidade Venezuelana neste momento é a de um golpe de estado promovido pelas forças oligarcas translatino-americanas com o desígnio imperialista dos Estado Unidos da América e o apoio da União Europeia, em particular de governos de direita como o de Rajoy. O fim da revolução bolivariana pelas mãos das oposições de Leopoldo Lopéz ou José Luis Cartaya são matar a esperança na América Latina para milhões de povos indígenas, camponesas e trabalhadoras. É o esmagar da esperança pós-colonial e o atirar de povos para o lado mais agressivo do capitalismo, o predatório extractivista fascista que os explorou e torturou durante muitos anos com o apoio imperial dos Estados Unidos da América e dos ex-colonos.
É importante por isso que a esquerda mundial não reproduza os mesmos discursos, nos mesmos termos, que os golpistas venezuelanos ao tecerem críticas a Maduro. Sim, porque nesta opinião não se trata de defender Maduro, ou Chavéz já agora. Trata-se de resistir e combater a ascensão de uma ditadura moderna disfarçada de oposição democrática. Os erros cometidos por Maduro são tão numerosos como injustificáveis, mas não podemos cometer o erro de os comparar, ou até os confundir, com a natureza do capitalismo que nos trouxe a esta crise. Confundir as diferentes naturezas dos problemas é legitimar o golpismo latino-americano.
Toda a crítica de esquerda a Maduro tem de ser feita pela esquerda e respeitando os valores que esta mesma esquerda defende, o da liberdade, democracia e autodeterminação dos povos. Devemos por isso defender que o futuro da Venezuela ao povo venezuelano pertence, sem mandatos imperiais ou intervenções externas. Chega de governos imperialistas que financiam e apoiam oligarquias nacionais fascistas a organizar golpes e a gerir ditaduras na região. Que se recupere a memória da história da América Latina, e que se escolha hoje estar no lado certo dessa mesma história. Se a oposição que a imprensa internacional hoje tanto protege é bem-sucedida, a crítica oportunista de esquerda que hoje afirma que não há democracia na Venezuela não saberá o que chamar ao que aí vem.
Comments
lamentablemente no sabe lo
lamentablemente no sabe lo que dice nisiquiera tiene la menor idea de lo que se pasa en venezuela pero la invito a pasar unos meses en venezuela y le puedo asegurar que despues de pasar unos meses en venezuela su opinion va a mudar... intente ir no como turista pero si como habitante... y despues me responda
D. Irina,
D. Irina,
não há nada pior do que comentarmos algo, sem expurgar as nossas tendências. Encontraremos sempre desculpas para mantermos o que acreditamos. Chama as forças que se opõem a Maduro de golpistas. Essas forças, foram DEMOCRATICAMENTE eleitas e constituem a maioria da Assembleia Nacional (Congreso). Por isso, para retomar o poder absoulto, fez-se a artimanha de criar uma "Asemblea Constituyente", à rebelia da Constituição, que o Maduro tanto gosta de mostrar num livrinho pequenino. Cresci na Venezuela, em regime democrático, 20 anos instalado antes de Portugal. Estudava o ensino básico em espanhol e complementava com aulas de Português e História de Portugal, com professoras portuguesas. Era proibido bater nas crianças, mas uma das professoras portuguesas, batia, tal como as de cá na época da ditadura de direita. Entretanto, já com Maduro, edifícios construídos por portugueses, por acabar, eram ocupados por invasores desocupados. Padarias ocupadas por indivíduos com a desculpa de não se estar a fazer pão suficiente, mas na vez de entregá-lo aos que estavam "na bicha", levavam-no para outros lados. E muitas outras situações típicas de DITADURA. Conhece uma Democracia com presos políticos? Acha que não é o Maduro o golpista? A sua ideia teria aplicação no caso do Coelhinho. Ganhou as eleições, mas tem uma Assembleia da República maioritariamente do contra. Mas aqui, já não há golpe, pois não?
Parabéns pelo texto, por
Parabéns pelo texto, por fazer a leitura de uma realidade que, sendo complexa, não pode levar-nos a confundir a beira da estrada com a estrada da Beira.
Infelizmente essa confusão tem vindo a ser veiculada por muita gente do BE, em especial por quem tem responsabilidades ao mais alto nível de intervenção mediático.
Saber que há dirigentes do vosso partido que estão atentos e disponíveis para um combate sério em defesa dos povos explorados da América Latina é muito gratificante e abre portas a outros níveis de diálogo.
Quem não souber cozinhar
Quem não souber cozinhar salada russa, sabe onde pode encontrar a receita, aqui. Interessante que sempre que não se pode, ou não se quer, justificar factos injustificáveis se utilize o ingrediente mágico, sempre disponível e eficaz, da grande CONSPIRAÇÃO da direita - revista ela a forma de imperialismo americano, a forma mais comum, ou qualquer outra.
O delírio é uma patologia, como se sabe; no caso de uns poucos (felizmente, felizmente...) é o estado Zen.
Hipocrisia e ignorância ...
Hipocrisia e ignorância ...
Rupturas na narrativa
Rupturas na narrativa
http://resistir.info/venezuela/deronne_05ago17.html
http://resistir.info/venezuela/reservas_bcv_08ago17.html
http://resistir.info/venezuela/majano_31jul17.html
A esquerda só pode ter uma
A esquerda só pode ter uma palavra de ordem: diretas já (tal como no Brasil) para correr com um governo corrupto amigo da Goldman Sachs.
Não percebo porquê que
Não percebo porquê que algumas pessoas identificadas com a esquerda têm tanta dificuldade em aceitar a realidade quando esta implica erros cometidos por políticos que se apresentam como de esquerda, inclusive com episódios lamentáveis registados pela história.
É muito fácil à esquerda apontar o dedo às ditaduras encabeçadas por políticos de direita como aconteceu em Portugal ou no Chile mas apresentam um resistência hipócrita quando ditador em causa é de esquerda, usam desculpas esfarrapadas como "fez muito pela saúde e pela educação do povo", factos que ignoram quando o ditador é de direita (e acho bem) e procuram sempre culpar os "inimigos do povo" que são regra geral imperialistas americanos e seus lacaios locais, não existe oposição genuína da esquerda mesmo na presença de inegáveis crimes, são sempre "inimigos do povo" ou "oligarcas inimigos do povo". Ignoram inclusive que invariavelmente as autocracias (de esquerda ou de direita) geram uma elite colada ao poder, uma oligarquia que controla o poder económico e mantém o controlo político manipulando a justiça e comprando as chefias militares, o modelo não muda.
Sugiro a senhora professora autora deste artigo que tenha a elevação de reconhecer que Maduro (e Chavez antes dele) criaram as condições para o colapso da Venezuela com a expansão irracional de benesses sociais e redução da capacidade de fazer oposição dentro de um quadro democrático na Venezuela. Será que os média internacionais são responsáveis pelas políticas que derrubaram a produção local na Venezuela, foram os média internacionais que prenderam políticos opositores, foram os média internacionais que enriqueceram os socialistas fiéis ao regime como a filha de Hugo Chavez tida como a mulher mais rica da Venezuela?
Não se deixe cegar por batalhas ideológicas, o mundo não deve ser visto sempre como uma luta entre esquerda e direita, comunistas e fascistas, por vezes é uma simples questão de "certo" e "errado".
Infelizmente parece que
Infelizmente parece que algumas pessoas do Bloco de Esquerda estão a seguir o exemplo dos comunistas do século passado que defendiam a União Soviética e os seus chefes mesmo quando faziam coisas irracionais ou cruéis.
Artigos destes só afastam as pessoas comuns da Esquerda e dão munição àqueles direitistas que aproveitam tudo para criticar a Esquerda. E depois, pessoas como a Irina admiram-se muito quando o povo vota em Passos Coelho ou Paulo Portas, ou Mariano Rajoy. Bem, o povo é muitas vezes mais sábio e vê mais longe do que muitos intelectuais, e não o conseguem enganar dizendo que o que é mau é bom. Mas o pior de tudo é que as pessoas sectárias de esquerda atiram o povo para os braços da direita, e assim fazem-no votar contra os seus interesses. Os Trumps, os Nigels Farages e os AFDs até esfregam as mãos de contentes com artigos destes.
Como é possível alguém ser
Como é possível alguém ser tão cego, tão polarizado. A Venezuela está no estado em que está por causa do colonialismo americano e dos conspiradores de extrema direita... Arre! Ainda bem que temos aqui o comentário de alguém que viveu na Venezuela e sabe do fala, sem estar só preocupado com ideologia demagógica.
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