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Estudo revela glifosato em alimentos biológicos

No âmbito de um estudo promovido pela revista Visão, foram detetados pesticidas em 21 géneros alimentícios de produção vegetal biológica. A análise a couves recolhidas no processo detetou uma quantidade de glifosato 12 vezes mais do que o máximo permitido por lei.
O laboratório Labriagro, ao qual a Visão requisitou as análises, encontrou, no total, 23 pesticidas sintéticos distintos, todos eles proibidos por lei na agricultura biológica.

Naquele que é identificado pela revista como “o maior estudo independente feito em Portugal sobre alimentos biológicos”, a Visão submeteu a análise uma ampla gama de herbicidas, inseticidas e fungicidas em 113 géneros alimentícios de produção vegetal biológica.

Estes produtos, com origem nacional e estrangeira, foram recolhidos em inúmeras lojas e secções especializadas, estando devidamente identificados como biológicos, ostentando, inclusive, o selo a garantir a certificação.

21 dos 113 géneros alimentícios supostamente biológicos, ou seja, praticamente 1 em cada 5, continham pesticidas.

Nas análises a duas couves, com um quilo de peso total, foi detetado 1,2 mg de glifosato, o equivalente a 12 vezes mais do que é permitido por lei.

Entre os 21 alimentos com químicos de síntese, 17 exibiram pesticidas que não constam da lista de produtos permitidos. Quatro – arroz, esparguete e dois tipos de óleo de girassol - continham butóxido de piperonilo, um coadjuvante também artificial, patenteado nos anos 40, tóxico, usado nos champôs  antipiolhos, considerado ‘possivelmente cancerígeno’ pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA”.

Em alguns alimentos foram detetados diversos pesticidas sintéticos em simultâneo, sendo que um deles apresentava sete desses químicos diferentes.

O laboratório Labriagro, ao qual a Visão requisitou as análises, encontrou, no total, 23 pesticidas sintéticos distintos, todos eles proibidos por lei na agricultura biológica.

Entre os alimentos que continham pesticidas constam produtos nacionais e estrangeiros, frescos e transformados, desde maçãs a arroz, biscoitos a laranjas, cenouras, tâmaras, brócolos, sementes de sésamo, óleo de girassol, vinho, bagas de goji, feijão-preto, granola com gengibre e laranja e couve coração.

“Um problema de saúde pública”

“Estamos a falar de um assunto tão sério que terá de ser verificado por outras instâncias a veracidade do trabalho feito”, disse Jaime Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), defendendo que as autoridades devem avaliar o trabalho divulgado esta quinta-feira pela revista Visão sobre a alegada fraude nos produtos biológicos.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Agrobio sublinhou que “o que lhe posso dizer é que identificar agroquímicos não autorizados em produtos biológicos é [sinal de] fraude. Deliberado ou por negligência, pois pode ser por contaminação”.

Jaime Ferreira afirmou que, a confirmar-se esta fraude, se trata de um problema de saúde pública: “Isto tem de ser colocado às autoridades competentes e elas têm de responsabilizar quem foi responsável por colocar esses produtos no mercado”.

“A quantidade [de glifosato] pode ser de tal forma grave que é um problema de saúde pública e devia ser imediatamente denunciado à ASAE – Autoridade de Segurança Alimentar e Económica”, frisou o responsável, destacando que “pode haver pessoas que estejam a comer estes produtos e [que possam] ter problemas graves de saúde. Isto não pode ser uma coisa [abordada de forma] ligeira”.

Jaime Ferreira garantiu ainda que a Agrobio vai “examinar ao detalhe” o trabalho hoje divulgado pela Visão e os dados revelados. “Se houver responsabilidades a apurar vamos até ao limite das responsabilidades”.

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