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Mina de urânio em Retortillho repete processo de Almaraz

A Berkeley Minera España prepara a instalação uma mina de urânio a céu aberto na província de Salamanca, junto à fronteira com Portugal, próximo da localidade de Retortillo.

O abate de milhares de árvores, muitas centenárias, já começou. A Junta de Castela e Leão diz não existirem efeitos transfronteiriços e considera não ser necessário envolver Portugal no estudo de avaliação de impacte ambiental, apesar de o perímetro da mina começar a 8 km da fronteira e ficar em plena bacia do Douro.

O caso de Almaraz repete-se em Retortillo. A instalação de processamento de urânio é considerada pelo insuspeito Conselho de Segurança Nuclear espanhol uma instalação nuclear de primeira categoria do ciclo do combustível nuclear. Apesar disso, as autoridades espanholas entendem não falar com as portuguesas, numa atitude marcada pela falta de transparência, desprezo pelos direitos das populações, desrespeito das normas internacionais e falta de diálogo com o governo português.

As coisas começam a fazer sentido. Rajoy e as elétricas espanholas procuram prolongar a vida das suas centrais nucleares para além dos 40 anos. Em simultâneo, preparam a abertura de uma mina com unidade de reprocessamento de urânio e um depósito de resíduos radioativos resultantes dessa unidade. O oligopólio energético espanhol quer completar o ciclo da exploração nuclear.

O objetivo é obter 8500 toneladas de óxido de urânio, sendo necessário para esse efeito extrair qualquer coisa como 31 milhões de toneladas de minério de uma cratera com a área de 230 campos de futebol e mais de uma centena de metros de profundidade. Parte da área de implantação é Rede Natura 2000 e situa-se em plena bacia hidrográfica do Douro. O rio Yeltes, afluente do rio Huebra que desagua no Douro internacional, serviria as descargas da mina.

Para além da contaminação das águas, as explosões e a trituração do minério lançariam para o ar grande quantidade de poeiras contaminadas (partículas de metais pesados e radioativas) que se espalhariam por toda a região. Os efeitos transfronteiriços são evidentes, só as autoridades espanholas não os querem ver.

Portugal já fechou as suas minas de urânio há mais de uma década, a última foi a da Urgeiriça, em Nelas. Deixaram graves consequências na saúde dos ex-mineiros e das populações, para além de um passivo ambiental ainda não resolvido. A mobilização pelo fim da central de Almaraz deve alargar-se a este novo elemento da estratégia nuclear do PP e das elétricas espanholas, a mina de Retortillo, em defesa das populações, da sustentabilidade ambiental e da opção antinuclear.

Sobre o/a autor(a)

Docente universitário IGOT/CEG; dirigente da associação ambientalista URTICA. Dirigente do Bloco de Esquerda
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