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Medina assina o quê?

Causou estranheza que o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, tenha sido o único signatário sem quaisquer responsabilidades em França de um Manifesto denominado "Dès Demain" (A Partir de Amanhã).

De facto, dos 175 nomes, surge perdido por ali o Maire de Lisbonne, fazendo companhia à autarca de Paris. Esclareça-se, trata-se de um manifesto interno ao PS de François Hollande, querendo criar um novo movimento alternativo, não se sabe se convergente ou divergente do movimento anunciado por Benôit Hamon lá para 1 de julho. Seja como for, o motivo da "coisa" é o que resta do PS francês a debater-se com as suas entranhas.

Diz o tal Manifesto, que pode ser lido aqui, que os seus promotores se propõem a uma revolução pacífica em 4 pontos, a saber: para prevenir as alterações climáticas, garantir a inclusão social, respeitar a democracia, observar os fundamentos do republicanismo, da laicidade, da não-discriminação. Genericamente, afirmam que o seu movimento visa federar a ação local até à escala internacional. Temos assim Medina como um pioneiro neste espaço sideral. Estes "humanistas"(assim se reclamam) do PS francês dizem demarcar-se dos fautores da desregulação e dos que fazem demagogia para virar a mesa (sic). Presume-se que isso queira dizer distanciamento de Macron e pouco mais. É equívoco sobre qualquer amanhã. Mesmo que significasse que um setor do PS queria recuperar um vago programa social-democrata, essa plataforma não traz um programa novo ao PS, entretanto caído em desgraça e até dado como morto por Manuel Valls. O frontespício do Dès Demain não tem posição sobre a União Europeia e o seu diretório, como concluir a aquela feliz revolução pacífica em 4 pontos com os atuais tratados que os signatários sempre apoiaram, eis a pergunta que podemos endossar a Medina, o avalista português desta revolução intemerata. Já nem se fala de alterações profundas no regime económico ou nas dívidas que acorrentam países, que seriam necessárias para fazer singrar o projeto.

Parece que a demagogia que não vira a mesa também toma os responsáveis, sem autocrítica séria, da situação de hoje que faz prosperar as Le Pen e os deserdados do liberalismo.

Fernando Medina anda com a cabeça em França e na autofagia dos PS’s europeus. É certo que é uma dor de cabeça. Para remediar podíamos, já agora, acenar com uma revolução pacífica em Lisboa e começar por avaliar a inclusão social e a expulsão de lisboetas pelo habiticídio da cidade. Cidade corrompida pela especulação imobiliária ou turística. Que tal, Monsieur Le Maire?

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, professor.
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