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Armando Baptista-Bastos (1934-2017)

O jornalista, cronista e escritor Armando Baptista-Bastos morreu esta terça-feira, aos 83 anos. Notícia atualizada às 21.35 h.
Foto de Pedro Ribeiro Simões, Flickr.

Armando Baptista-Bastos nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda, em 27 de fevereiro de 1934. Frequentou a escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.

Iniciou a sua carreira jornalística em O Século, de onde foi despedido em abril de 1960 devido ao seu envolvimento na Revolta da Sé em 1959, na sequência da candidatura de Humberto Delgado.

Passou então a trabalhar na televisão pública em semi-clandestinidade, utilizando o pseudónimo Manuel Trindade. Sob esse pseudónimo, e conforme refere o Jornal de Negócios no perfil publicado online, Baptista-Bastos redigiu noticiários e assinou textos de documentários como a ”Cidade das Sete Colinas”, “Os Namorados de Lisboa”, “Este Século em que Vivemos”. Para Baptista Rosa, escreveu “O Forcado”, com imagem de Augusto Cabrita e a música de Miles Davis “Sketches of Spain”.

Seis meses depois, foi despedido da RTP, sendo identificado pelo então secretário nacional da Informação, César Moreira Baptista, futuro ministro do Interior no Governo de Marcelo Caetano, como um “contumaz adversário do regime”.

Baptista-Bastos passou também por jornais como A República, O Diário, Europeu e Diário Popular, onde permaneceu por cerca de duas décadas, e pelas revistas Seara Nova, Gazeta Musical e Todas as Artes, Época, Sábado. Foi fundador do semanário O Ponto.

Assinou diversas colunas no Jornal de Notícias, A Bola, Tempo Livre, Jornal de Negócios, Correio da Manhã, Público, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Expresso, Jornal do Fundão, Correio do Minho e Diário Económico.

Escreveu e leu crónicas para a Antena Um e Rádio Comercial. Foi o primeiro dos comentadores de “Crónicas de Escárnio e Maldizer”, da TSF.

O jornalista foi ainda correspondente da Agência France-Presse, em Lisboa, e apresentou o programa de entrevistas Conversas Secretas, emitido na SIC, e Cara a Cara, na SIC Notícias.

Celebrizou a frase "Onde é que Você Estava no 25 de Abril?" quando, em abril de 1999, foi convidado pela direção do Público a realizar uma série de dezasseis entrevistas subordinadas a esse tema.

Baptista-Bastos estreou-se editorialmente com o ensaio “O Cinema na Polémica do Tempo” (1959), a que se seguiu “O Filme e o Realismo (1962). A sua estreia na ficção, com “O Secreto Adeus”, data de 1963, tendo publicado mais de uma dezena de títulos de ficção, entre os quais "Cão Velho entre Flores" (1974) - indicado como leitura obrigatória no Curso de Literatura Portuguesa Contemporânea da Sorbonne -, "O Cavalo a Tinta da China" (1995), "A Colina de Cristal" (2000) e "No Interior da Tua Ausência" (2002).

Um dos seus livros de textos jornalísticos, “As Palavras dos Outros” (1969), é, segundo Adelino Gomes e Fernando Dacosta, um clássico e uma referência obrigatória na profissão. Esta obra foi recomendada como leitura indispensável no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.

Baptista-Bastos foi galardoado com inúmeros prémios: o Prémio Literário Município de Lisboa (1987) e o P.E.N Clube Português de Novelística (1988) pelo romance “A Colina de Cristal”, o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (2002) pela obra “No interior da tua ausência” e os prémios de Crónica da Sociedade da Língua Portuguesa, João Carreira Bom, e do Clube Literário do Porto (2006).

Em declarações à agência Lusa, em 2006, Baptista-Bastos afirmou que "a crónica, que é um compromisso entre a notícia e o conto e um produto de altíssima expressão literária, típico da imprensa escrita, está hoje arredada dos jornais".

Na sua opinião, "os jornais estão sobretudo atentos à politiqueira e à politiquice" e têm "opinião a mais e má opinião, muito uniforme e aparentemente plural", o que já o levou a deixar de ler alguns colunistas, "por fastio, por enfado".

Baptista-Bastos foi ainda docente na Universidade Independente, onde lecionou a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.

“Um polemista de elevada estatura cívica e política”

Em declarações ao esquerda.net, Mário Tomé lembrou o amigo e a relação que ambos cultivaram durante muitos anos.

“Era uma referência não só da escrita como também da ética em relação ao jornalismo e na vida social e cidadã”, afirmou Mário Tomé que confessou gostar muito dos livros que Baptista-Bastos escreveu tendo destacado, entre estes, a “A Colina de Cristal”.

“Ele era uma pessoa muito bem disposta e foi indiscutivelmente um excelente  jornalista a que se junta a verticalidade, a frontalidade, a clareza e a transparência que colocava em tudo o que dizia”, lembra Mário Tomé que acrescentou que o jornalista agora falecido “ aviava em quem tinha de aviar”.

Apesar da tristeza relacionada com o desaparecimento do jornalista e escritor, Mário Tomé não esquece os bons momentos que passaram juntos e diz que Baptista-Bastos era não só um homem grande como “um grande homem com coluna vertebral".

Recorda-o ainda como um polemista de elevada estatura cívica e política e sublinha que foi o 25 de Abril que os ligou.

“O Baptista-Bastos chamava-me o grande resistente”.

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