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A pílula é um luxo?

Tirar a comparticipação à pílula contraceptiva é um retrocesso civilizacional que atinge directamente as mulheres, que fere a sua emancipação. Mas o Ministro fez mais e cortou a comparticipação na vacina contra o cancro do colo do útero. Não se trata de insensibilidade, é mesmo um atentado à saúde e à saúde das nossas jovens, das nossas filhas.

Paulo Macedo, o ministro que acha que a saúde dos portugueses e portuguesas é um luxo, veio anunciar mais “poupança” nas “gorduras” e menos “desperdício”: um conjunto de medicamentos vai perder a comparticipação. Entre eles encontram-se a vacina contra o cancro do colo do útero e a pílula contraceptiva. Nenhuma destas medidas é justificável, mas estes dois casos em concreto encerram consequências que atingem directamente os direitos das mulheres. A pílula, considerada por muitas e muitos a grande conquista do século XX, não é um comprimido que se toma porque se tornou um hábito, é o comprimido que permite às mulheres decidirem sobre a sua vida, quando querem (e podem, já agora) engravidar. É o comprimido que lhes permitiu separar a sua sexualidade da reprodução. As mulheres ficaram mais livres com a pílula. São, portanto, mais felizes. E este é um direito universal que não lhes pode ser negado, nem diminuído. Pelo contrário tem que ser facilitado. O Ministro dirá: continua a distribuição nos Centros de Saúde. Ou seja, quem quer a pílula vá para a fila. Entendo que o Ministro conheça pouco dos Centros de Saúde e ainda menos sobre a realidade do planeamento familiar e ainda muito menos sobre o fenómeno da gravidez na adolescência no nosso país, mas isso não lhe dá a autoridade de tomar medidas como esta. Já não existia capacidade de resposta no que diz respeito a contraceptivos e a consultas de planeamento familiar e tudo indica que vai piorar. Tirar a comparticipação à pílula contraceptiva é um retrocesso civilizacional que atinge directamente as mulheres, que fere a sua emancipação. E como sempre atingirá as mulheres mais pobres, aquelas que conhecem bem a fila do Centro de Saúde a partir das cinco horas da manhã, que sabem que a consulta de planeamento familiar só lhe será marcada para daqui a três meses, que não têm médico de família e a quem lhes dizem que acabaram as pílulas e não se sabe quando haverá. “Vá passando… pode ser que chegue…”.

Mas o Ministro fez mais e cortou a comparticipação na vacina contra o cancro do colo do útero. Não se trata de insensibilidade, é mesmo um atentado à saúde e à saúde das nossas jovens, das nossas filhas.

Está na hora de voltar a defender os nossos direitos e… a nossa dignidade!!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Vereadora da Câmara de Torres Novas. Animadora social.
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