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Governo autoriza abate de 608 sobreiros para construir barragem

Iberdrola com luz verde para arrancar árvores, algumas das quais centenárias, para a construção de barragens no rio Tâmega que não foram suspensas na revisão do Plano Nacional de Barragens.
Sobreiros
Sobreiros, foto de César Garcia/Flickr.

A empresa Iberdrola recebeu autorização por parte do governo para abater mais de seis centenas de sobreiros para a construção da barragem de Gouvães. Esta é uma das três barragens que serão construídas pela Iberdrola no rio Tâmega, em terrenos dos concelhos de Cabeceiras de Basto, Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena. 289 das árvores são sobreiros adultos, e, segundo o projeto Rios Livres, alguns deles são centenários.

O governo justifica a autorização com uma declaração de utilidade pública das barragens em construção e assegura que, em contrapartida, a empresa espanhola irá arborizar uma área de 42.35 hectares de terreno, apesar de a empresa estimar que, na construção da barragem, irá cortar as árvores de 95.17 hectares. No total das três barragens, a Iberdrola terá de reflorestar 142.76 hectares e terá de fazer a sua manutenção por 15 anos. Ao abater espécies prioritárias, como é o caso do sobreiro, as empresas têm de reflorestar, com a espécie em causa, a mesma área mais um quinto da sua extensão.

No entanto, como algumas das árvores que serão arrancadas são centenárias, serão necessárias muitas décadas para que as novas árvores cumpram as mesma funções no ecossistema que cumpriam as que foras mortas, nomeadamente em termos de captura de carbono da atmosfera (algo muito importante, por exemplo, para a diminuição do impacto das alterações climáticas, pois estas árvores retêm parte importante do carbono que é lançado, por ação humana, no ambiente).

Ana Brazão, do projeto Rios Livres, parte do GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, em declarações ao jornal Público, questiona por que razão as barragens da Iberdrola não foram canceladas aquando da revisão do Plano Nacional de Barragens, que o governo anunciou no final da março deste ano. Na altura, o governo argumentou que só iria rever e, eventualmente, cancelar, as construções que ainda não tivessem tido início, e que, como estas já tinham começado, não poderiam ser interrompidas. No entanto, Ana Brazão declarou ao Público que “em 2015 só havia alguma manutenção de acessos, foi já depois de começar o plano de avaliação que começaram as verdadeiras obras”.

Na altura, a Liga para a Proteção da Natureza (LPN) e o GEOTA declararam a revisão do plano “uma farsa”. "Nem autarcas, nem associações de defesa do ambiente ou desenvolvimento local foram envolvidos no processo ou tiveram oportunidade para discutir o relatório. O governo apenas negociou com as elétricas e acabou por decidir, exclusivamente, em nome dos interesses dessas empresas e não em nome do interesse nacional", queixam-se num comunicado citado pela agência Lusa.

Em consequência do relatório, o governo decidiu o cancelamento da construção prevista apenas das barragens do Alvito (rio Tejo) e de Girabolhos (rio Mondego) e suspender, por três anos, a da barragem do Fridão (rio Tâmega). Na altura, as duas associações comprometeram-se em continuar “a lutar contra a construção das barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega”, e ainda a defender a suspensão imediata dos trabalhos na barragem de Foz-Tua, “pelo crime ambiental, social e económico e pelos diversos incumprimentos e ilegalidades cometidas”.

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