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Os Verdes

Rui Tavares abandonou o grupo do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu para engrossar as fileiras dos Verdes. Vale a pena perscrutar o posicionamento dos verdes europeus e, em particular, da sua locomotiva, os verdes alemães.

Como é sabido, Rui Tavares abandonou o grupo do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu para engrossar as fileiras dos Verdes, num processo negocial mais ou menos secreto que durou meses.

Vale a pena perscrutar o posicionamento dos verdes europeus e, em particular, da sua locomotiva, os verdes alemães.

Nascidos dos escombros da extrema-esquerda europeia, no pós 1968, os verdes erigiam as suas bandeiras em torno de valores pós-materialistas, assentes no pacifismo, na ecologia e na qualidade de vida e numa matriz anti-sistémica.

Na década de 80, na Alemanha, começam a ganhar posições importantes nos governos estaduais. Em 1983 chegam mesmo ao parlamento federal. Em 1985, Joschka Fischer tornou-se o primeiro-ministro do Partido Verde de um estado alemão (Hesse). Em 1998 formam governo coligados com o SPD de Gerhard Schröder.

A partir de então, abandonam boa parte da sua matriz programática pacifista e anti-imperialista: apoiam a guerra da Nato contra a ex-Jugoslávia, a guerra do Afeganistão e a intervenção na Líbia. Aliás, defendem mesmo a criação de um exército profissional.

No governo, apoiaram significativos cortes sociais (a agenda 2010 de Schröder).

Mesmo na agenda ecologista dão provas de grande oscilação, ao votarem a favor da emenda conservadora (CDU/FDP) que visa adiar o fim da energia atómica até 2022.

Em estados onde o seu peso é decisivo têm-se aliado ora com o SPD ora com a CDU (Hamburgo e Sarre).

Nas questões económicas a sua orientação é claramente liberal, a favor de um certo eco-capitalismo ou capitalismo verde ou “capitalismo ecologizado” ou “novo ambientalismo”. Defendem organismos como o FMI, a OMC ou o banco mundial. No parlamento europeu, o grupo dos verdes tem amiúde posições mais liberais do que o grupo liberal.

Rápidos contributos, enfim, para se perceber a formação política europeia que agora acolhe Rui Tavares.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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