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O comentário único

Uma mentira muitas vezes repetida torna-se uma verdade – eis a doutrina fundamental das vozes do comentário único que nos massacram diariamente na televisão e outros meios de comunicação social.

A sua principal missão é a divulgação da tese da inevitabilidade da extorsão organizada que a banca e outros especuladores conduzem sobre o dinheiro dos contribuintes de vários estados europeus. Esse é o principal argumento da eficaz chantagem que assegurou o triunfo eleitoral da direita em Portugal, como por toda a Europa.

Os "mercados" são a sua religião. As agências de notação financeira os seus gurus. São sempre justificadas mais medidas de austeridade para "acalmar", "apaziguar", "convencer" os "mercados" ( que continuam obviamente a sacar o mais que podem aumentando indefinidamente os juros).

Esses mandriões da arraia-miúda grega ou portuguesa são os culpados oficiais de todos os deficits. Os armadores gregos que não pagam impostos ou as Lusopontes público-privadas portuguesas que recebem milhões do Estado, são obviamente boa gente.

Com especial intensidade nos últimos meses o Bloco de Esquerda passou a ser o bombo da festa do comentário único.

Eles até gostavam do BE, desde que se limitasse a falar do divórcio, da homossexualidade… Mas terem o mau gosto de falarem de fraude e evasão fiscal, de desemprego e trabalho precário…falarem sem o devido respeito de Amorins, Belmiros, Espíritos Santos e outros beneméritos da pátria… terem faltado ao beija-mão à troika… isso é demais!

Para além disso, ganharam o péssimo hábito de apoiar as lutas sindicais, participar nas greves gerais, de estarem próximos da CGTP… (Não! Um segundo PCP nem pensar!).

Por isso é necessário vergastar os seus mais conhecidos dirigentes… o mais conhecido tem o péssimo hábito de usar os seus conhecimentos económicos para desmontar as negociatas da oligarquia e dos seus políticos público-privados, em vez de pôr uma gravata e entrar já num Conselho de Administração de um banco… outro sempre atento às constantes da história contemporânea portuguesa, denuncia com demasiada frequência o poder dos mesmos grupos que governavam Portugal no tempo da Ditadura…outro ainda, com uma serenidade inabalável, teimosamente persiste em continuar a defender as causas da esquerda…

O comentário único quer um Bloco bem comportado…respeitador das troikas (só assim terá sucesso eleitoral)… que se limite a falar das causas fracturantes…afastado das lutas sociais… ali muito juntinho, quase como um apêndice do PS… pronto para futuras soluções governativas que assegurem o sistema…

Sobre o/a autor(a)

Professor e historiador.
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