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"Na praxe, bajulação da hierarquia é requisito para o sucesso"
Entrevistámos para o programa Mais Esquerda Elísio Estanque, sociólogo e professor universitário a propósito do mais recente livro “Praxe e tradições académicas”, que será lançado a 19 de outubro, em Coimbra. A entrevista pode ser lida em baixo ou vista aqui, e o programa está disponível aqui (e a versão integral está aqui).
De onde surgiu a ideia para fazer este livro?
De uma realidade concreta e de uma vivência minha, pessoal, enquanto professor da Universidade de Coimbra e o facto de essa situação me colocar permanentemente perante este tipo de rituais. Também pelo facto de Coimbra ser considerada a grande referência nas tradições académicas, porque é a Universidade com mais história, e teve uma série de implicações e também alguns problemas no passado histórico. Coimbra é, e mesmo os estudantes de outros institutos e universidades o reconhecem, a sede principal desta cultura estudantil e académica relacionada com as tradições e com a chamada praxe.
Interessei-me por este fenómeno não apenas no sentido de compreender a praxe em si, mas as tendências em termos comportamentais e a subjetividade da nossa juventude estudantil.
O fenómeno da praxe foi nos últimos tempos adquirindo novos contornos e surgiram daí alguns problemas, muitos casos de violência e de abuso e algumas tragédias. O facto de isso ter suscitado alguma controvérsia na opinião pública justifica plenamente uma análise que procurei que fosse o mais objetiva, aprofundada, crítica, de um fenómeno que é bastante complexo e que espelha muito daquilo que são as tendências da nossa sociedade. É sobretudo a juventude mais educada e mais formada que nela participa e interessei-me por este fenómeno não apenas no sentido de compreender a praxe em si, desligada do resto, mas, pelo contrário, o que me interessava era compreender as tendências em termos comportamentais e a subjetividade da nossa juventude estudantil.
Quais foram esses os novos fenómenos que encontrou?
Os novos fenómenos foram o facto de termos uma universidade que passou a incluir, no seu sentido mais lato, institutos privados de vários tipos e de vários níveis que se foram multiplicando pelo país inteiro e o ensino superior que era até aos anos 70 bastante elitista, embora ainda o seja, mas por comparação pode-se dizer que há hoje uma tendência muito grande de abertura e de democratização no acesso e de uma certa massificação com estudantes e jovens oriundos de famílias não apenas de classe média, mas também de classes trabalhadoras. Esta tendência de massificação numa sociedade que se modernizou, se democratizou e se tornou uma sociedade mais individualista e consumista, marcou naturalmente os comportamentos juvenis.
A praxe exprime uma certa ambivalência do ponto de vista sociológico. Há um discurso que sublinha a autonomia individual, o empreendedorismo, mas as atitudes dos jovens perante o grupo e o coletivo evidenciam uma pulsão para o coletivo e uma necessidade de pertença
Olhando para o fenómeno da praxe eu acho que ela exprime uma certa ambivalência do ponto de vista sociológico. Por um lado, há um discurso, uma certa ideologia, que sublinha a autonomia individual, a iniciativa individual, o empreendedorismo, etc., mas por outro lado não deixa de ser curioso verificarmos que as atitudes dos jovens perante o grupo e o coletivo evidenciam, do meu ponto de vista, uma pulsão para o coletivo, a necessidade de pertença, a segurança subjetiva depende de ser, ou de não ser aceite pelo grupo.
E essa necessidade de ser aceite pelo grupo é aquilo que eu acho que contribui mais para que o jovem estudante acabado de chegar à universidade aceite com bastante naturalidade todos os rituais, mesmo que alguns resvalem para situações que evidenciam alguma violência, pelo menos violência simbólica e às vezes violência física. O tema do livro são as praxes e tradições académicas, mas as tradições não são as tradições elas próprias, a narrativa da tradição é uma reinvenção da tradição e isso é o pretexto que justifica esse tipo de rituais e a sua multiplicação. Porque, ainda por cima, o que nos deixa um pouco mais apreensivos é que toda esta adesão e entrega quase massificada é acompanhada de uma imensa ignorância relativamente aquilo que é a história das tradições académicas.
O meu livro procura, por um lado, reconhecer e colocar no seu devido lugar aquilo que é o património histórico e cultural da tradição académica sediada em Coimbra mas, por outro lado, mostrar os riscos que, na atualidade, esses comportamentos e essas práticas têm vindo a revelar e o perigo que isso representa na medida em que essa imensa adesão caminha de par a par com um evidente desinteresse da juventude estudantil por tudo aquilo que seja não apenas o associativismo, mas também a participação, as iniciativas culturais, o debate público, um desinteresse absoluto pela política e, ao mesmo tempo, uma aceitação inquestionável e inabalável perante o poder, perante lógicas de poder que se procuram reiterar e reproduzir através das gerações.
Essa imensa adesão caminha de par a par com um evidente desinteresse da juventude estudantil pelo associativismo, pela participação, um desinteresse absoluto pela política e, ao mesmo tempo, uma aceitação inquestionável e inabalável do poder
Penso que isso representa uma certa forma de ameaça, isto é, é contrário aquilo que seriam as premissas e os valores de uma educação virada para a cidadania, para a participação e para a cultura democrática. São todas essas vertentes que estão presentes no livro e que procurei confrontar e refletir do ponto de vista sociológico. Este livro é um registo crítico dos contornos que este fenómeno está a adquirir, mas no entanto não é um juízo moral. E acho que é necessário ter algum cuidado porque as alterações comportamentais, quando assentam em premissas e em crenças e normas culturais muito profundas, não são nada fáceis de mudar. É preciso primeiro compreender o fenómeno nas suas diferentes vertentes e na sua complexidade para eventualmente depois tomar algumas medidas.
Será que uma das formas de mudar esse comportamento seria por receções alternativas, como as que começam a surgir um pouco por todo o lado, que já há em Coimbra e que agora surgiram em Lisboa?
Não sei se essas propostas são verdadeiramente alternativas ou se são uma espécie de atitude mais moderada, porque há diferentes perspetivas e essa pluralidade de atitudes é saudável, desde que os diferentes segmentos de estudantes consigam dialogar uns com os outros e refletir sobre as suas próprias práticas. Esse exemplo que citou de Coimbra, que também procurei acompanhar, é positivo, no entanto, até agora, não me parece que tenha sensibilizado a massa estudantil, mantendo-se circunscrita a uma minoria muito ínfima. Acho que os próprios organizadores estão a tomar consciência disso e a tentar seduzir as estruturas associativas para tentar participar mais ativamente em iniciativas alternativas, que apelem mais para a cultura, para a busca da informação, sensibilizando os estudantes para um conhecimento mais profundo da realidade em que vivem. Creio que isso é necessário e que será por aí.
As praxes reiteram não apenas a questão do poder e da autoridade, mas uma bajulação da hierarquia e da disciplina, como se isso fosse uma coisa natural, incontornável e, pior ainda, como se isso fosse um requisito absoluto e decisivo para se ter sucesso na vida. Promover este tipo de cultura e este tipo de representação acerca da vida junto dos jovens é extremamente perigoso
Penso também que o papel das instituições e dos órgãos de governo, das universidades e institutos será decisivo na alteração destes comportamentos, porque penso que até aqui as instituições em geral têm manifestado um certo encolher de ombros, demonstrando que olham para estes fenómenos como se fosse uma brincadeira de crianças e absolutamente inócua. É verdade que há muitas brincadeiras inócuas, não podemos fazer juízos relativamente a isso, desde que elas contribuam para que indivíduo se sinta integrado, se sinta seguro e participe ativamente na vida coletiva que é o seu destino enquanto estudante. Porém, as praxes reiteram não apenas a questão do poder e da autoridade, mas uma bajulação da hierarquia e da disciplina, como se isso fosse uma coisa natural, incontornável e, pior ainda, como se isso fosse um requisito absoluto e decisivo para se ter sucesso na vida. Acho que promover este tipo de cultura e este tipo de representação acerca da vida junto dos jovens é extremamente perigoso e é por isso que acho que as instituições democráticas, a começar pelas universidades, pelas próprias associações de estudantes e pelas instituições governamentais devem olhar para isto com alguma seriedade e tentar agir com alguma cautela, naturalmente, porque a atitude repressiva e punitiva pode não ser o melhor caminho a seguir.
Há alguma relação entre o ressurgimento ou o aumento do número de estudantes envolvidos na praxe e uma diminuição do movimento estudantil?
Essa é uma das hipóteses que eu coloco em cima da mesa ao longo do meu livro, porque me parece de facto que sim. Em períodos de maior agitação sociopolítica, em períodos de rutura, em períodos de mobilização, como aconteceu no pós 25 de abril de 1974, este tipo de rituais e de tradicionalismos foram postos de lado, nomeadamente em Coimbra. Quando foi a restauração das praxes e dos desfiles da queima das fitas no final dos anos 70, houve conflitos, houve até algum confronto, porque a maioria dos estudantes reagia contra a retomada disso. porque era conotado com o passado.
A festa, a excitação, a partilha que se faz nos espaços de lazer, de consumo, etc, acentua essa dimensão quase irracional e de anulação da capacidade de pensar e isso coloca os indivíduos à disposição de todo o tipo de abusos
Entretanto as coisas começaram a abrir-se, começaram a ser progressivamente aceites e eu penso que isso deriva de uma sociedade que se foi desenvolvendo e empurrando a juventude e os jovens para um modo de vida de alguma maneira isolado, desligado. Houve um deslaçamento dos espaços tradicionais, dos espaços de sociabilidade, da rua, do bairro, etc. E eu acho que a busca do coletivismo quando se chega à universidade é uma espécie de compensação de tudo isso, é uma espécie de pulsão para recuperar uma identidade, que é uma identidade individual, mas que ao mesmo tempo se forja no coletivo, como todos sabemos.
O sentimento de segurança que confere algum equilíbrio, alguma iniciativa ao indivíduo, só pode ser bem sucedido se ele sentir que é bem aceite pelo coletivo. Isso muitas vezes leva-o a agir de uma forma não necessariamente racional, mas por impulsos, por arrastamento, por influência do grupo, a dinâmica de grupos é a isso que leva e porque a festa, a excitação, a partilha que se faz nos espaços de lazer, de consumo, etc, acentua essa dimensão quase irracional e de anulação da capacidade de pensar e isso coloca os indivíduos à disposição de todo o tipo de abusos. Pode haver uma comparação ou uma ligação com algum gérmen de predisposição para soluções disciplinares e autoritárias, e eu creio que isso é ameaçador para a democracia.
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Nos partidos políticos, a
Nos partidos políticos, a bajulação da hierarquia é requisito para o sucesso...
A história da Academia de
A história da Academia de Coimbra revista por Elísio Estanque.
Recentemente editado pela conceituada Fundação Francisco Manuel dos Santos, o livro “Praxe e Tradições Académicas”, da autoria do não menos conceituado investigador universitário Elísio Estanque contém, para além da exposição de uma predeterminada tese sobre as tradições académicas, que o seu autor tem naturalmente todo o direito de defender, certas afirmações fácticas que merecem registo, por implicarem uma revisão drástica de toda a história da academia de Coimbra.
Lê-se a pp. 72-73:
“Igualmente digno de registo é a popularidade de alguns nomes ligados ao imaginário académico, EMBORA NÃO ESTUDANTES, que povoaram a cidade em épocas distintas, e o papel que desempenharam no universo das representações intelectuais e estudantis. Personagens como o AGOSTINHO ANTUNES, o PANTALEÃO, o PAD ZÉ, o CASTELÃO DE ALMEIDA, entre outros, fazem parte da história da academia de Coimbra, sendo de certo modo apropriados por essa espécie de «ACADEMIA PARALELA» que animava os ambientes boémios e contestatários de Coimbra do passado (Duarte, 2000). Algumas dessas figuras, supõe-se que depois de CONVENIENTEMENTE DOMESTICADAS, e uma vez garantido o seu LUGAR SUBALTERNO na comunidade, sendo ALIMENTADAS e até MERECEDORAS DE VESTIMENTA própria (o traje académico) tornaram-se ícones de uma cultura onde a irreverência e o excesso eram condimentados com a ATITUDE PATERNAL EM RELAÇÃO A ESSES (DÓCEIS) ANIMADORES DA ALGAZARRA ESTUDANTIL. É o caso do Taxeira (cujo verdadeiro nome é Raul dos Santos Carvalheira) …” [maiúsculas da minha responsabilidade].
Temos, assim, que, para Elísio Estanque, as quatro personagens expressamente referidas nunca foram estudantes de Coimbra, pertencendo à “academia paralela”, ao nível do “Taxeira”, que, convenientemente domesticadas, garantido o seu lugar subalterno, alimentados e vestidos pelos estudantes, eram por estes paternalmente utilizados como “bobos da corte”.
Até ler o livro de Elísio Estanque, estava eu convencido que Alberto Costa (o Pad’Zé), Agostinho Antunes (médico em Lagares da Beira), Henrique Pereira da Mota (“Pantaleão”) e Augusto Castelão de Almeida tinham sido estudantes de Coimbra, os três últimos membros da “Real República Ribatejana”.
ALBERTO COSTA (o Pad’Zé) entrou para Direito em 1895, foi colega de Afonso Lopes de Vieira, membro da Comissão das Comemorações do Centenário da Sebenta de 1899 (que Elísio Estanque diz, a p. 234, terem ocorrido 10 anos mais cedo, em 1889), expulso por dois anos da Universidade e da Cidade de Coimbra, por ter mandado à merda um lente de Filosofia (Ciências), em vésperas dos exames do seu 4.º ano, em 1899, por decisão do célebre Doutor Avelino Calisto (ou Avelisto Calino, decano de Direito, que fazia as vezes de Reitor), foi para S. Tomé, onde conheceu António José de Almeida, aí então a exercer Medicina. Concluído o curso de Direito em 1904, veio para Lisboa exercer advocacia com Alexandre Braga, pertenceu à Maçonaria (e mesmo, segundo algumas versões, à Carbonária, com actividade revolucionária e alegada intervenção na preparação do Regicídio) e foi jornalista do jornal republicano “O Mundo” (dirigido por França Borges), em cuja redacção, na Rua da Misericórdia, se terá suicidado (segundo versão não confirmada, o suicídio terá sido encenação para ocultar execução pela Carbonária). No seu funeral, discursou Bernardino Machado, lente de Coimbra, então Grão-Mestre da Maçonaria e futuro Presidente da República, que recordou (ainda não tinha lido o livro de Elísio Estanque…) os tempos de Alberto Costa (ex-Pad’Zé) como estudante de Coimbra.
HENRIQUE PEREIRA DA MOTA (“PANTALEÃO”), licenciado em Medicina com 14 valores (sem nunca ter sido estudante de Coimbra, segundo assevera Elísio Estanque), foi o promotor, ainda estudante, no âmbito do “Curso dos Cocos”, a que pertenceu (assim designado por ter instituído, em 1931/32, a praxe de os quintanistas usarem chapéus de coco, que depois evoluiu para cartola, e fumarem charuto), da venda das pastas em benefício do Asilo da Infância Desvalida do Doutor Elysio de Moura (seu professor) e, depois de formado, um verdadeiro “João Semana” na sua região natal (Porto da Lage / Tomar). Foi pai do Prof. Doutor Henrique Carmona da Mota, pediatra, do Eng. Augusto Carmona da Mota, e do meu saudoso colega da Faculdade de Direito de Coimbra e da magistratura (até ao Supremo Tribunal de Justiça) José António Carmona da Mota.
AUGUSTO CASTELÃO DE ALMEIDA, depois de formado em Direito, exerceu advocacia em Alpiarça, sendo destacada a sua intervenção, contra as forças dominantes do Estado Novo, na acção por ele intentada em 1941 em defesa dos seareiros ameaçados de expulsão, acção que obteve sucesso em 1944, poucos dias após o seu falecimento. Em reconhecimento, foi colocada, na Adega Cooperativa da Grouxa, uma placa alusiva a esse momento da luta dos camponeses pela terra.
São estes, em traços breves, os motivos por que sempre julguei, até ler o livro de Elísio Estanque, que estas figuras tinham sido estudantes de Coimbra. Afinal estava enganado. Pertenciam à “academia paralela”, ao nível do “Taxeira”.
Também fiquei a saber, graças a Elísio Estanque, p. 234 da sua obra, que os animais que puxavam os carros do desfile do “Enterro do Grau” (1905), que eu pensava que eram bois, afinal eram cavalos.
Elisio Estanque Praxe e tradiçoes
Comprei. Iniciei, de imediato, a sua leitura, pois gosto de conhecer e colecionar o que se vai publicando, sobre a vivencia estudantil, na Coimbra de outros tempos e na atual. Salatina (1936), E.C.I. Brotero (1947-1951), FCUC (1956-1961) motiva este meu interesse.
De momento, pag.72, estou pasmado, relendo o seguinte:
“Igualmente digno de registo é a popularidade de alguns nomes ligados ao imaginário académico, embora não estudantes, que povoaram a cidade em épocas distintas, e o papel que desempenharam no universo das representações intelectuais e estudantis.
Personagens como o Agostinho Antunes, o Pantaleão, o Pad Zé, o Castelão de Almeida, entre outros, fazem parte da história da academia de Coimbra, sendo de certo modo apropriados por essa espécie de "academia paralela" que animava os ambientes boémios e contestatários de Coimbra do passado (Duarte, 2 000 )*.
Algumas dessas figuras, supõe-se que depois de convenientemente domesticadas, e uma vez garantido o seu lugar subalterno na comunidade, sendo alimentadas e até merecedoras de vestimenta própria (o traje académico), tornaram-se ícones de uma cultura onde a irreverência e o excesso eram condimentados com a atitude paternal em relação a esses (dóceis) animadores da algazarra estudantil. É o caso do Taxeira (cujo verdadeiro nome é Raul dos Reis Carvalheira).
…
Se a figura do "bobo da corte" pode parecer excessiva, é, no entanto, concebível que no ambiente coimbrão de outros tempos este tipo de figuras tenha exercido uma função semelhante.
* A taberna e a boémia coimbrã – Práticas de lazer dos estudantes de Coimbra. Coimbra: FEUC (diss. de licenciatura). Duarte, Madalena (2000),
* Coimbra: Jovens, estudantes e ‘repúblicos’: Culturas estudantis e crise do associativismo em Coimbra* Elísio Estanque
Estarei a interpretar bem?....
Pantaleão, Pad-Zé, Castelão de Almeida terão pertencido a uma “academia paralela”? Não estudantes? Futricas? Bobos da corte? Não.
Foram alunos da Universidade de Coimbra, matriculados nas respetivas Faculdades, Bacharelados/Licenciados. Constam dos respetivos Anuários da U.C., com as notas de frequência e finais (bacharel/licenciatura). Pertenceram à academia, à briosa.
Boémios, sim, na definição e costumes das suas épocas de estudantes. Tal, como, o Padre António Duarte Ferrão (1740-1746), João de Deus (1849-1859), João Penha (1866-1873), Guerra Junqueiro (1873), Pássaro (1878), Chico Vale, Tomás Barateiro, 1925, Felisberto Pica, Barrigas de Carvalho, como muitos outros. Vd. A Academia de Coimbra-Alberto de Sousa Lamy-1990
Outros, mais ou menos boémios -se há grau/qualidade -, depois figuras mais/menos ou nada ”Chico Gordo”, o Rui Cunha Faria, o Vicente Pindela, Serrão de Faria, o “Pai Mendonça”, o Padre Pinguinhas, o “Pindérico”, o António Faro, etc.). Outros, também, se salientaram como cidadãos, nas invasões francesas, nas lutas liberais, geração 70, nas lutas académicas/greves (1907), em 1914/18 etc., etc.
Os citados no livro figuram pela negativa? Má boémia? Como se define.
-Pad-Zé, (Dr. Alberto Costa) foi uma das figuras centrais na organização e conteúdo do “Centenário da Sebenta”, na companhia de D. Thomaz de Noronha, Luís de Albuquerque, Afonso Lopes Vieira. Acontecimento elogiado pelas autoridades universitárias, eclesiásticas e civis de Coimbra da época. Mereceu ser incluído no convite para a refeição de congratulações, pelas autoridades.
Depois, bacharel, teve um percurso, como jornalista e figura no período politico, controverso
e conturbado, antes da implantação da República.
Teve nome em rua da Velha Alta (onde se litografou a primeira sebenta)e, ainda hoje, figura na toponímia do Fundão. Vd. Pad-Zé. O Cavaleiro da Utopia -J. Mendes Rosa-2000
- O curso do Pantaleão lançou a venda/peditório das Pastas, com a companhia das meninas do Asilo Elysio de Moura, percorrendo a cidade, revertendo a receita para aquela instituição, o que muito sensibilizou os bem feitores e cidadãos de Coimbra.
Também, introduziu a “praxe” da cartola e da bengala, que se mantém na atualidade.
Depois, licenciado em medicina com 14 valores, o Dr. Henrique Mota foi o “João Semana” da sua região, ainda lembrado, colaborando na causa pública e no ensino. Há quem possa testemunhar a sua conduta, filantrópica e amiga.
-Castelão de Almeida, com o Pantaleão, iniciaram a publicação do Jornal o Poney – “acérrimo defensor dos interesses da Academia de Coimbra “(Carminé Nobre), onde se podem revisitar, com piada/crítica, acontecimentos da época.
A República Ribatejana, onde viveram Agostinho Antunes, Henrique Mota (Pantaleão) e Castelão de Almeida, foi palco privilegiado de homenagem a figuras nacionais e estrangeiras, de visita à Universidade (António Ferro, Fernanda de Castro, Humberto Cruz, Carlos Bleck e outras.
O Dr. Castelão de Almeida, licenciado em Direito, destacou-se na sua região-Alpiarça, onde é lembrada a sua conduta profissional - ação, na defesa profícua, longa e difícil, numa causa em favor de pequenos lavradores e que ganhou, contra os latifundiários da lezíria. Tem, por isso, nome de rua e placa evocativa. Vd. Jornal Alpiercense, 05-01-2013.
-O Dr. Agostinho Antunes “conceituado boémio” foi, depois, “abalizado clinico”, em Lagares da Beira, com o seu nome no Largo evocativo.
Quanto ao Teixeira que conheci deve incluir-se na ampla listagem de Typos de Coimbra -Mário Monteiro-1908, com outros, posteriormente históricos, como o Ricardo Caganeta, o Dim-dim Bolinhas (acarinhado na República Ribatejana), o Papagaio Vai Alto, o Capitão, o Formiga, do meu tempo de miúdo Salatina, na Alta.
E vamos continuar a leitura. O tema interessa e fico mais rico com mais uma opinião, fundamentada, baseada em observações e inquéritos no local (U.Coimbra).
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