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“Não podemos ceder e não nos podemos encolher na crítica à UE”

Mariana Mortágua e Owen Jones intervieram na sessão “Austeridade, União Europeia e Brexit”.
Owen Jones, Ricardo Gouveia e Mariana Mortágua, foto de Bruno Cabral.

Esta quinta feira, Mariana Mortágua e Owen Jones participaram numa sessão em Lisboa sob o tema “Austeridade, União Europeia e Brexit”. 

“Uma esquerda radical que sempre foi eurocética, que sabe que a União Europeia (UE) é sinónimo do neoliberalismo e que nunca teve ilusões em relação a ela, não quer, nem pode, ser confundida com a extrema direita na sua crítica à UE” afirmou Mariana Mortágua. 

“A esquerda não se pode acantonar, não pode ceder, nem se pode encolher quando é acusada, por exemplo, de querer fechar fronteiras”, prosseguiu a dirigente bloquista. “As únicas fronteiras que não importam para o neoliberalismo são as fronteiras para o capital. Mas não para as pessoas, a UE não é uma resposta para os direitos humanos, nem para o Estado social”.

“A esquerda radical não se pode dar ao luxo de defender instituições europeias moribundas. Não podemos ceder, nem nos podemos encolher na crítica fundamental à UE, às suas instituições decadentes e ao seu modelo neoliberal. Se o fizermos, desistimos e cedemos à extrema direita”, sublinhou Mariana.

“A solidariedade internacional é importantíssima, é hoje mais importante que nunca na construção de movimentos sociais, mas a esquerda em cada país tem hoje a responsabilidade de dar uma alternativa não só ao neoliberalismo, mas também à extrema direita, e não podemos abandonar esse campo e essa disputa” concluiu a dirigente bloquista.

“O que está a acontecer em Portugal dá esperança à Europa”

Owen Jones, jornalista no diário britânico The Guardian, escritor e ativista político, começou a sua intervenção por afirmar que “há uma luta no mundo entre três formas principais de política”. Em primeiro lugar, “a política do desespero, que diz que toda a injustiça é como o tempo: podemos queixar-nos da chuva, mas não há nada a fazer”. Em segundo, “a política do medo, que culpa todos os outros, menos os responsáveis por terem posto o planeta no estado de calamidade em que ficou nos últimos anos”. Por último, “a política da esperança, acreditamos que toda a injustiça é temporária e transiente e pode ser ultrapassada com resiliência”. 

Este terceiro grupo é, descreveu Owen Jones, o caso de Portugal, “governado por tanto tempo pelo fascismo e ditadura”. “Há uma tradição que não pode ser lembrada o suficiente de pessoas que se levantaram não so contra a ditadura, mas para construir algo novo”. Portugal, afirma, mostrou-o “nos últimos anos, à medida que o país enfrentou a austeridade”.

Portugal é um dos países europeus que não é governado pela direita, lembrou Owen Jones, “muitos de vocês não estão satisfeitos com o governo que têm, mas o vosso governo tomou medidas progressivas, parcialmente por causa da pressão do Bloco. Quando isso acontece num país da Europa, dá esperança aos restantes, e isso está a acontecer, a vossa vitória no ano passado, ainda que estreita, deu esperança à Europa”.

“A política do medo é agora mais forte que alguma vez esteve desde a queda de Hitler”

“Penso sempre em combater as políticas do medo, mas às vezes o medo é o realismo perante o perigo, e enfrentamos um grande perigo. A década de 1930 parece distante, mas em muitos campos é semelhante ao que agora vivemos. A maior potência do mundo é agora governada por um sociopata, misógino e racista”, prosseguiu Owen Jones.

“Milhões de pessoas nos Estados Unidos têm tido o seu nível de vida a baixar e uma sensação anti-establishment está a varrer o planeta, e muita gente acreditou que Trump era um candidato contra o establishment, mas isso não podia estar mais errado”. “O mundo ocidental está a caminhar em direções opostas”, afirmou Owen Jones, destacando o resultado de Bernie Sanders “num país que parecia imune ao socialismo”. Além do eleitorado de Trump, “há outros Estados Unidos, das suffragettes, dos moviments LGBT, dos movimentos cívicos, dos movimentos dos trabalhadores e Bernie Sanders encapsulava esses movimentos”. No sentido contrário, “a política do medo é agora amais forte que alguma vez esteve desde a queda do Hitler”, prosseguiu Owen Jones, citando como exemplos a França, a Grécia, a Polónia ou a Áustria.

Owen Jones concluiu a sua intervenção referindo-se ao Brexit. Segundo ele, que fez campanha por permanecer na União Europeia, a campanha pela saída “não era sobre a UE, era sobre imigração; fizeram uma campanha baseada na ideia que os imigrantes eram violadores, criminosos e que seríamos inundados de criminosos turcos”. “Inglaterra não votou pelo racismo, mas cada racista em Inglaterra pensa que sim. Não houve nada progressista na forma como se votou o Brexit”, afirmou. “É um tempo difícil para o meu país”, sublinhou, referindo que “as mudanças nunca surgem da boa vontade dos poderosos, mas das lutas, tudo o que conquistámos foi pela luta. Os nossos problemas não são idênticos, mas os nosso inimigos são os mesmos, temos de ter a mesma coragem que os nossos avós tiveram para construir uma sociedade justa”, concluiu.

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