You are here

Eleições no Brasil: Na disputa mais importante, vitória para a Igreja Universal

Influência das igrejas evangélicas, já forte no legislativo, começa a chegar ao executivo, com a vitória do senador Marcelo Crivella no 2º turno das eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro. Por Luis Leiria, do Rio de Janeiro.

O senador Marcelo Crivella, importante membro da hierarquia da Igreja Universal do Reino de Deus e candidato pelo PRB, ganhou a prefeitura (câmara municipal) da cidade do Rio de Janeiro, derrotando no 2º turno o candidato do PSOL, deputado estadual Marcelo Freixo. A diferença foi de quase 20 pontos: Crivella obteve 1.700.030 votos, o equivalente a 59,36%, enquanto Freixo conseguiu 1.163.662 (40,64% dos votos). Esta era a disputa mais importante neste segundo turno das eleições municipais do Brasil, já que na maior capital do país, S.Paulo, João Dória, do PSDB, foi eleito logo no primeiro turno.

“Queríamos ganhar sim, mas o nosso sonho não cabe nas urnas. Por isso, a luta não acaba aqui!” disse Freixo na primeira reação ao resultado, num comício na Cinelândia. “Esse sonho tá começando! Nós vamos ser oposição! (…) Nós vamos continuar e fazer um novo tipo de política, indo de bairro em bairro, e lutando por uma cidade melhor, um país mais justo, democrático e humano. A saída é pela esquerda!”

Já o prefeito eleito quis, no seu discurso de vitória, deixar registada uma frase que afirma ter ouvido no final da apuração: “um senhor me abraçou e disse: 'Crivella, chegou a sua vez!'. Eu peço a Deus que essa modesta vida pública possa deixar para todos os cariocas esse ensinamento de que sempre chega a nossa vez quando a gente não desiste.”

O pastor da Universal venceu a eleição nas zonas Norte e Oeste da cidade, as mais pobres, enquanto que Freixo vencia na mais rica zona Sul. Pesou na vitória a influência das igrejas evangélicas nessas zonas e também os boatos preconceituosos que a campanha de Crivella pôs a circular, garantindo que, se ganhasse, Freixo iria liberar a maconha, o aborto e a homossexualidade, e aprovar o casamento gay (que já é legal no Brasil).

A vitória de Crivella na segunda cidade mais populosa do Brasil está a ser vista como uma conquista sem precedentes dos evangélicos. Segundo o El País edição Brasil, as igrejas evangélicas estão em expansão no país: o número cresceu 61% entre 2000 e 2010. A bancada evangélica no parlamento é composta por 80 parlamentares, 14% a mais do que na legislatura anterior. Consolidado o seu peso no legislativo, os evangélicos começam agora a ocupar cargos executivos de peso.

Resultados globais

De uma forma geral, o PSDB voltou a ser o grande vitorioso das eleições. Foi o partido que mais elegeu prefeitos no segundo turno: 14 das 19 prefeituras que disputava. Apesar das vitórias, houve um resultado que deixou um amargo na boca ao senador Aécio Neves, ex-candidato do partido à Presidência: mais uma vez o PSDB foi derrotado em Belo Horizonte. Na cidade de Aécio, João Leite, do PSDB, perdeu para Alexandre Kalil, do PHS.

Por outro lado, o PT voltou a ser o grande derrotado: disputava sete prefeituras, perdeu-as todas.  Na Grande São Paulo os candidatos petistas perderam em Mauá e Santo André, ficando assim sem nenhuma prefeitura no chamado ABC paulista. Na Região Metropolitana de São Paulo, o PT só conquistou uma cidade, Franco da Rocha.

O PSOL, apesar de bons resultados, perdeu também as três prefeituras que disputava. Para além de Freixo no Rio, em Belém do Pará, Edmilson Rodrigues, do PSOL, teve 47,6% contra 52,3% de Zenaldo Coutinho, do PSDB, e em Sorocaba, cidade do interior de S. Paulo, Raul Marcelo, do PSOL, com 41,52%, foi derrotado por José Crespo, do DEM, com 58,4%.

Tal como no primeiro turno, a abstenção e os votos brancos e nulos tiveram um peso muito significativo: segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de eleitores que não compareceram às urnas no segundo turno, somado aos votos brancos e nulos, foi de aproximadamente 10,7 milhões de pessoas, o que corresponde a 32,5% dos 32,9 milhões de eleitores aptos a votar neste domingo. No segundo turno das eleições municipais de 2012, o número foi menor, de 8,4 milhões (26,5% dos 31,7 milhões de eleitores).

Artigos relacionados: 

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
Termos relacionados Internacional
Comentários (3)