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Do precariado ao biscatariado: e se de repente a Uber lhe oferecer flores?
Sim, porque é mais barato, escrevem muitos dos quiseram comentar o meu artigo anterior que perguntava se “quer mesmo viver na Uberlândia?”. Porque estamos irritados com os táxis. Sim, porque sim, é moderno.
Estas três razões têm fundamentos, baseiam-se em experiências, fazem parte da vida. E, no entanto, parecem-me insensatas e imprevidentes. A do preço é a mais evidente: com menos custos legalmente determinados, uma empresa, que finge que organiza serviços pessoais e não transporte coletivo, pode começar por preços mais baratos e até aguentar um prejuízo importante, como a Uber mundial faz. Mas qualquer multinacional existe para procurar criar um monopólio, esta não é exceção e é por isso que os preços vão ser sempre um problema. Se pensa que a Uber, uma empresa que vale 40 mil milhões de dólares, não está nisto para ganhar dinheiro mas para o ajudar bondosamente, desengane-se. Se ela vier a triunfar, os clientes vão sentir.
Mas o que quero discutir convosco é o outro argumento, aquele do isto é bom porque é moderno.
Cuidado, antes de mais. O moderno pode ser socialmente útil (as vacinas, o Raio X, a rádio e a TV ou o cabo, o relógio de quartzo, os smartphones, até a Netflix) ou perigoso (a bomba nuclear, as armas químicas). Cuidado com a generalização.
Ora, em que é que a Uber e outras empresas do mesmo tipo são modernas, ou em que é que é moderno o que nos oferecem? Segundo o seu próprio discurso, são libertadoras ou até libertárias: estas empresas comparam-se imodestamente a Gandhi ou aos pioneiros da luta pelos direitos civis e contra a discriminação racial nos EUA. Se assim fosse, não teriam outro interesse que não o do cliente, libertando o consumidor das amarras de um passado corporativo de pequenos patrões gananciosos ou de interesses vagamente mafiosos, lodo no cais. Se assim fosse, seria estranho que, nesse empenho pelo consumidor, nos oferecessem um transporte sem lei e sem obedecer aos requisitos mínimos que em Portugal temos vindo a definir para proteger o passageiro em transportes coletivos.
Pergunto então se a regra de não respeitar regras é assim tão moderna? Quando Trump nos diz que é esperto porque não paga impostos, não ouvimos isto já no passado? Não sabemos de tempos não tão antigos em que a lei não vigorava dentro das empresas, que eram territórios independentes e definiam as suas próprias normas sem que os tribunais e o direito do trabalho pudessem interferir?
Surpreende por isso que se ponha a etiqueta de “modernidade” neste propósito e modelo de negócio. Ele tem mesmo sido emoldurado no que se tem chamado de “economia de partilha” e de “economia cooperativa”, magníficas expressões. Até criamos emprego para desempregados (que tenham carro apresentável e uma gravata), dizem os empresários uberianos. Somos uns pelos outros, acrescentam (e o ministro acredita, isto é transporte privado, são pessoas de boa vontade que dão boleia uns aos outros a troco de uma modesta compensação).
Permitam-me discordar: atacando um dos setores socialmente mais vulneráveis, os taxistas, o que estas empresas nos estão a oferecer é uma trincheira para desencadearem uma velha batalha que tem sido adiada. Elas são a encarnação da “economia dos criados”, uma economia sem lei. Ou “economia do biscate”, para ser mais delicado e usar a expressão da sempre conveniente Hillary Clinton.
A diferença em relação à modernidade é bastante evidente. Há na modernidade empreendimentos cooperativos, mesmo que alguns com interesses económicos. Empreendimento cooperativo é a Wikipedia, não é a Uber. O que a Uber faz, ou outras empresas como ela, é criar um modelo de negócio em que o trabalhador não faz trabalho, faz um biscate, não tem salário, tem comissões, não tem contrato, tem um link.
É portanto um passo no caminho mais perigoso contra a modernidade – sim, a modernidade é o princípio da lei universal que protege os fracos contra os fortes. O passo anterior foi passar do trabalhador para o precariado. Perdeu-se o contrato e os seus direitos. Perdeu-se a oportunidade de melhorar de nível de vida com a melhor educação e começou assim o desgaste dos sistemas de representação democrática. Para uma geração inteira, isto significa que os licenciados e licenciadas convergem para o salário mínimo. Mas o novo passo na Uberlândia vai mais longe. Com este modelo, deixaria de haver precariado, passaríamos a ter biscatariado. Nem contrato estável nem contrato precário, só fica uma comissão de-vez-em-quandária e um patrão inacessível e escondido num computador perto de si. Não há relação legal, ninguém é responsável, a lei da selva é a única lei. Há quem diga que isso é melhor do que nada, o que é precisamente a forma de justificar que seja quase nada. O jogo está mesmo a mudar.
Por isso, caro cliente do táxi que passa para a Uber porque é mais barato e mais moderno: se de repente a Uber lhe oferece flores, desconfie de que não gostam nada de si. O que este modelo quer para a sua filha é uma vida sem destino, esperando por detrás de um ecrã as ordens de um Big Brother que lhe cobra uma comissão e que lhe diz: faz-te à vida, luta na rua, apanha a rede e terás cliente, a sorte vai fazer o teu dia, se fizer.
NB- Dois leitores lembraram que Uberlândia é também o nome de uma honrada cidade do Brasil, que nada tem que ver com estes negócios. Têm razão. Mas acho que compreenderam a metáfora.
Artigo publicado em blogues.publico.pt a 13 de outubro de 2016
Comments
O artigo e comentários ao
O artigo e comentários ao artigo do Soeiro ( http://www.esquerda.net/opiniao/um-futuro-primitivo/44943 ) une e complementaeste artigo do Louça. As explicações do "Erro Protocolar"começam a surgir? A meu ver: Rede MB nunca soube o que é um IP..
Um exemplo futuro: O Registar
Um exemplo futuro: O Registar de Dominios em articulação com uma RIR( a RIR europeia tem o nome de RIPE) , deveria obrigatoriamente gerar aleatoriamente um ID-Multibanco a ele associado:
Tomemos o caso do PSD.PT
PSD.pt registado no refertelecom.pt -->o refertelecom.pt registado no DNS.PT-->registado no RIPE.NET (.PT pertence ao espaço europeu.RIPE é um RIR para o continente Europeu)
-DNS .pt receberia o hexadecimal ID-MULTIBANCO/ID-MB 56B19335 , (35 - codigo do pais portugal).
??Todo o HTML seria encriptado
com a chave AA56B19335 de forma a garantir que o a tag do "objecto transferencia bancaria" seja devolvida ao utilizador???
-refertelecom.pt receberia o hexadecimal ID-MULTIBANCO/ID-MB , "09-56B19335", em que '05 09' representaria o 5º serviço comercial de alojamento no 9º subdominio na refertelecom.PT
-psd.pt receberia o hexadecimal ID-MULTIBANCO/ID-MB , "05 09-56B19335", em que '05 09' representaria o 5º serviço comercial de alojamento (associado a PSD.pT) no 9º subdominio na refertelecom.PT
*** errata : Um exemplo
*** errata : Um exemplo futuro: O Registar de Dominios em articulação com uma RIR( a RIR europeia tem o nome de RIPE) , deveria obrigatoriamente gerar aleatoriamente um ID-Multibanco a ele associado:
Tomemos o caso do PSD.PT
PSD.pt registado no refertelecom.pt -->o refertelecom.pt registado no DNS.PT-->registado no RIPE.NET (.PT pertence ao espaço europeu.RIPE é um RIR para o continente Europeu)
-DNS .pt receberia o hexadecimal ID-MULTIBANCO/ID-MB 56B19335 , (35 - codigo do pais portugal).
-refertelecom.pt receberia o hexadecimal ID-MULTIBANCO/ID-MB , "09-56B19335", em que '05 ' alojamento no 9º registro DNS.PT
-psd.pt receberia o hexadecimal ID-MULTIBANCO/ID-MB , "05 09-56B19335", em que '05 09' representaria o 5º serviço comercial de alojamento (associado a PSD.pT) no 9º subdominio na refertelecom.PT
Muito bem postado, as pessoas
Muito bem postado, as pessoas não têm ou não querem ter idéia do que está para acontecer com monopólio dessa empresa, preços exagerados, assaltos aos motoristas assédio e muito mais, cuidado pessoal eu ainda prefiro o velho táxi mesmo com suas dificuldades e problemas.
Boas, basta perceber como
Boas, basta perceber como nasceu a gorjeta nos EUA para entender negócios como a Uber. As pessoas eram convidadas a trabalhar em bares ou cinemas, a troco da gorjeta.
As plataformas digitais
As plataformas digitais online que enchem as notícias quentes do momento não são mais do que centrais de chamadas de táxis, digitais inteligentes, que agregam o pagamento por débito directo automático do serviço de transporte, exploradas e geridas online pela Uber, pela Cabify, pela MyTaxi e outras que devem ser legalizadas tal como o foram a as operadoras de comunicações não podendo explorar o negócio de transportes de táxi, descaracterizado e caracterizado.
O que o Governo não fez e já devia ter feito era harmonizar, regular e regulamentar o transporte de táxi e o transporte com viaturas letra A e letra T!
Às plataformas digitais adere quem quer contudo trabalhar com estas plataformas tem muitas vantagens desde que o tarifário seja e regulamentado:
O pagamento deixa de ser feito em dinheiro o que aumenta em muito a segurança dos motoristas e não menos importante passa a ser feita a emissão de factura (electrónica) o que diminui drasticamente a fuga ao imposto do IVA;
• Com certeza que o serviço de táxis pode e deve continuar a apanhar passageiros que não usam as plataformas digitais, mas nestas circunstâncias o utente pode apresentar ao motorista a sua identificação que a introduz no sistema para poder ser emitida a competente factura no fim corrida, IVA o que aumenta a segurança dos motoristas;
• Uma vez que os motoristas deixam de andar à caça de clientes as viaturas passam a movimentar-se muito menos o que reduz os gastos mecânicos e de combustível e consequente reduzem as emissões de gases nocivos para a atmosfera e o tráfego urbano diminui;
• Deixa de haver concentrações de táxis nos locais do costume como no aeroporto onde os motoristas passam horas na praça há espera dum bom serviço acabam por ter levar passageiros à Rotunda do Aeroporto ou ao Bairro da Encarnação;
• Os motoristas podem inscrever-se nas plataformas para serviços em áreas específicas e para serviços de médio e longo curso com a garantia de serem respeitadas as ordens das listas de inscrição;
• Se a maioria dos táxis aderir às plataformas digitais o serviço de comando e controlo de trânsito será facilitado através das plataformas com o conhecimento real do posicionamento das viaturas e com ordens e orientações dadas directamente aos motoristas dos táxis para evitarem e ou até saírem de determinadas áreas e usarem percursos preferenciais, e num futuro próximo evoluir-se para sinalização inteligente o que permitirá mudar temporariamente o sentido das rodovias consoante as necessidades para optimizar a fluidez do trânsito tal como se faz na cidade de Lausanne onde há anos a central ou centrais telefónicas de táxis funcionavam no centro de comando do trânsito da cidade.
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