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Incêndios: Este ano, Portugal tem metade da área ardida na UE

Associação de técnicos da proteção civil, que divulgou os dados, diz que estes números “não são da responsabilidade deste Governo, nem deste dispositivo operacional”, mas “de anos e anos de medidas estratégicas mal tomadas” e “decisões políticas de ordenamento florestal erradas”. Comissão parlamentar visita esta quinta-feira locais mais afetados pelos incêndios.
Uma parte dos passadiços do Paiva destruída pelos incêndios que têm lavrado no concelho de Arouca, 11 de agosto de 2016 – Foto de José Coelho/Lusa

Segundo a Lusa, a associação portuguesa de técnicos de segurança e proteção civil (Asprocivil) analisou os dados disponibilizados pelo sistema europeu de informação de fogos florestais (EFFIS na sigla em inglês) e concluiu que, até esta terça-feira, 16 de agosto, a área ardida na União Europeia (UE) foi 218.651 hectares e em Portugal já atingia 116.833 hectares, ou seja, "em Portugal, já arderam cerca de 53,4% da área total ardida na UE".

Segundo a associação, a área ardida em 2016 está "muito acima da média dos últimos oito anos, por esta data, o número é quatro vezes maior do que a média da área ardida entre 2008 e 2015, que rondava os 25 mil hectares". Além disso, Portugal tem as percentagens mais altas dos países mediterrânicos. Por exemplo, a Espanha tem uma área ardida este ano de 24 mil hectares, inferior à média de anos anteriores e cerca de 14% da área ardida na UE.

"Não é possível a nenhum dispositivo operacional, por mais capaz, eficaz, organizado e competente que seja, [uma resposta] otimizada a um pico da dimensão evidenciado" nos números do EFFIS, salienta a Asprocivil.

Propostas da associação dos técnicos da proteção civil

A associação de técnicos da proteção civil aponta que "este problema, estes números e estas consequências, não são da responsabilidade deste Governo, nem deste dispositivo operacional, antes, de anos e anos de medidas estratégicas mal tomadas, e decisões políticas de ordenamento florestal erradas, omissas e insuficientes", além de só se falar de incêndios nos meses críticos e "exclusivamente sobre a resposta operacional".

A Asprocivil defende o aumento da capacidade de reflorestação, a criação de equipas de prevenção de incêndios florestais, em janeiro de cada ano, a aposta numa fiscalização do cumprimento da lei, que deve ser aplicada, se necessário, de uma forma coerciva, e uma rede nacional de pontos de água, que devem ser fiscalizados e ter manutenção.

Os técnicos da proteção civil defendem ainda a informação à população, a criação de incentivos à fixação das pessoas no interior e a criação de um grupo de trabalho nacional, intersetorial e pluridisciplinar, para apresentar até 31 de dezembro, um plano operacional de prevenção de incêndios e a definição de uma estratégia para um ordenamento florestal, com mecanismos de prevenção e contenção de incêndios, como aceiros, espécies mais resistentes ou redução do combustível.

Comissão parlamentar de Ambiente visita locais mais afetados pelos incêndios

Nesta quinta-feira, 18 de agosto, a comissão de ambiente, ordenamento do território, descentralização, poder local e habitação, que é presida por Pedro Soares do Bloco de Esquerda, vai visitar alguns dos pontos do país mais afetados pelos incêndios, nomeadamente, o Parque Nacional da Peneda-Gerês no concelho de Arcos de Valdevez (distrito de Viana do Castelo), S. Pedro do Sul (distrito de Viseu) e Arouca (distrito de Aveiro).

O deputado Pedro Soares manifesta-se “particularmente preocupado com os graves problemas ambientais que decorrem dos incêndios, com o papel das autarquias na gestão das manchas florestais e no apoio ao sistema de Proteção Civil, bem como com a necessidade de uma intervenção que não pode continuar a ser adiada relativamente ao ordenamento territorial, especialmente no que respeita à floresta”.

Segundo o deputado, o objetivo da visita é “perceber como está a decorrer o processo de apoio a quem ficou desalojado, também aos agricultores mais afetados, sobretudo, aqueles que têm maior necessidade de pasto para os animais e ver como se pode intervir nestes casos de forma rápida”.

Pedro Soares aponta ainda que o relatório final para análise da problemática dos incêndios florestais, elaborado em 2015, propunha um conjunto de medidas que não foram implementadas pelo anterior Governo.

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