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É possível prevenir os incêndios florestais?
Portugal arde todos os anos e este ano vai arder de novo. Toda a gente sabe isso. Pode arder mais ou menos, mas vai arder e já ardeu. Existe uma conjuntura meteorológica, climática, botânica, topográfica, social, política, que faz com que os espaços de acumulação de combustível, como as florestas e os matos, tenham uma grande probabilidade de arder todos os Verões ou sempre que exista um fenómeno meteorológico com temperaturas extremas.
O fogo faz parte do nosso ecossistema e também da nossa cultura. O problema é que nos últimos anos temos vindo a observar cada vez mais eventos catastróficos provocados por incêndios descontrolados que consomem milhares de hectares de floresta e matos, e que destroem casas, explorações agrícolas e matam milhares de animais. As causas para este tipo de eventos estão estudadas e diagnosticadas: existem investigadores por todo o país que estudam e discutem as causas dos incêndios florestais, as dinâmicas rurais que mudaram ao longo das últimas décadas, os efeitos do fogo sobre os ecossistemas, o restauro pós-fogo. Na academia, a literatura sobre o tema do fogo é vasta e existem equipas portuguesas que têm liderado projetos europeus sobre este tema. Também temos melhorado muito no combate aos incêndios, mas temos descurado a prevenção. Temos conhecimento, sabemos o que temos de fazer. Então qual é o problema? É possível prevenir os incêndios florestais? Ou estaremos condenados a ver o país a arder intensamente todos os Verões ou sempre que sobe a temperatura?
A resposta não é fácil, mas uma das questões que podemos levantar é o objeto das políticas florestais. A responsabilização dos incêndios não pode ser exclusiva dos proprietários florestais, pois fazer isso é ignorar quem são a maioria destas pessoas e as diferenças que existem entre elas (são, na sua maioria, idosos, com baixa escolaridade e vivem de reformas e pensões rurais). Pensar que um proprietário, por limpar o seu quinhão, pode evitar um incêndio florestal é insuficiente, além de que não há qualquer incentivo para o fazer, só há punição. Além disso, os proprietários não têm capacidade para o fazer, uma vez que esta é uma operação cara e pode não ter efeitos práticos. Se alguém limpar o seu terreno e os proprietários que o circundam não o fizerem, de que valeu o investimento do primeiro? Pouco.
A prevenção dos incêndios florestais não se pode fazer com políticas viradas para o indivíduo, para a propriedade. A escala da gestão tem de ser a paisagem e a forma de gestão tem de incluir os proprietários de forma coordenada na construção de acessos e de faixas de gestão de combustível que possam travar os grandes incêndios. Além disso, têm de ser estudados incentivos à gestão, em vez de acenar com a punição. Porque ninguém pune e ninguém faz.
Uma viragem de políticas que aposte na dinamização das Zonas de Intervenção Florestal, com apoios ajustados a cada situação e não com um apoio igual para todos os tipos de proprietários, que diferem muito de Norte a Sul. Um reforço dos incentivos à gestão e uma política de proximidade, com técnicos próximos das populações e dos proprietários e não com ministros que ameaçam com multas na televisão. A promoção de uma cultura de valorização dos benefícios das florestas em termos de clima, água, reserva de biodiversidade e valorização dos produtos, em vez do estímulo da extração mineira de recursos e da eliminação da regulação. Estas são algumas propostas, no âmbito florestal, que podem fazer avançar a prevenção e responder à pergunta que dá o título a este texto. Não podemos mudar a topografia, o clima, ou a meteorologia, felizmente podemos mudar as políticas.
Comments
parece que ja ninguem se
parece que ja ninguem se lembra?das brigadas da G.N.R. que foram criadas c/pompa circnstancia c/uma
farda m/bonita preparadas p/todos os fogos que aparecessem; pois bem elas foram criadas p/darem
empregos partidarios por isso nao aparecem no terreno justamente quando sao precisas, nao vao eles
sujar os fatos isto so aqui no meu pobre pais
Portugal passou mais um ano
Portugal passou mais um ano catastrófico no que a fogos florestais diz respeito e com consequências sociais nunca vistas no nosso país.
Assiste-se agora ao governo, freneticamente a anunciar milhões e mais milhões ora para os bombeiros, que afinal já não vão combater incêndios, ora para equipar a força aérea, ou reparar os helicópteros Kamov etc, etc.
Com mais ou menos milhão que se preparem os portugueses para pagarem em impostos ás clientelas que se perfilam reivindicando mais meios para fazer face às repetições que já se anunciam nos anos próximos.
Não creio que das medidas que vêm sendo anunciadas provenha nada de bom ou útil, porque o "problema" está a ser encarado como se de uma guerra se trata-se: Generais no comando, força aérea a postos, exército no teatro de operações.
Que esperar de um país que se prepara para permanecer em estado de guerra constantemente?
A solução para o problema dos incêndios, passa pela transformação dos matos e resíduos florestais em produtos com valor acrescentado que possam ser utilizados como fonte de energia.
Não penso nas centrais de biomassa, porque nessas apenas o detentor da central e o comercializador da energia lucram, uma vez que pretendem adquirir a biomassa a custo zero.
Penso antes em produtos por exemplo briquetes, que o proprietário florestal pode-se transformar e vender directamente financiando desta forma a limpeza tendo algum lucro e potenciando a criação de pequenas empresas por todo o país.
Se realmente o estado tem interesse em solucionar o problema dos incêndios, deverá então providenciar no sentido de comprar e incentivar a compra desses produtos derivados de biomassa florestal prontos a utilizar.
Poderia utilizar esses produtos por exemplo no aquecimento no aquecimento de escolas e piscinas públicas que custam milhões de euros anualmente em combustíveis que não temos.
Poderia legislar no sentido que empresas que pretendam obter certificação ambiental, procedam ao aquecimento das naves industriais ou outros com briquetes ou pellets de limpeza florestal, etc.
Com medidas deste género contribuía-se para ajudar a resolver o problema social da desertificação do interior, visto que é lá que se encontra abundantemente (matéria prima florestal), a potencial criação de pequenas empresas iria atrair pessoas, criar-se-iam milhares de postos de trabalho, e mais importante, evitaria a saída de milhões de euros do país para pagar combustíveis fosseis que não temos, ficando esse dinheiro na economia nacional.
O estado teria que certificar o produto, verificando o estado em que ficou o terreno depois de se efectuar a limpeza que deveria obedecer a boas práticas ambientais. A necessidade introdução da mecanização iria potenciar o ordenamento florestal e se der lucro os proprietários desconhecidos logo aparecem, podem crer!
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