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O passado e o falso futuro nos táxis

Se há uma coisa que a direita faz muito bem é misturar debates e omitir o que não lhe convém. Nesta questão dos táxis e da Uber, os argumentos liberais têm sido os clássicos. E, então quanto aos táxis, até parecem ter toda a imagética do seu lado.
Senão veja-se: quem não prefere chamar um táxi através de um app num telemóvel táctil, receber uma mensagem por sms, a dizer quanto custa o trajecto e qual a duração prevista, esperar um carro bem lavado, de estofos macios, com um motorista engravatado e limpinho, que o trata como se fosse um chefe do FMI que desembarcou em Lisboa? Tudo isto tem um cheiro a modernidade. Mais: este novo mecanismo acaba por pôr em causa poderes fácticos, advindos de um mercado condicionado, que se traduz num negócio sujo de alvarás e corrupção dos poderes administrativos para obter um. Feios, porcos e maus. Ah! bendita Uber, que penetra tão fundo, sem capacidade de reacção.
Paulo Ferreira no Observador fala de tempos únicos que se vivem, em que o caso dos táxis é "um tratado sobre formas distintas de ver o mundo, de estar na vida e de ganhá-la através dos negócios". Helena Garrido - hoje na Antena1 - falava da impossibilidade de deter o progresso e a internet. Os taxistas se queriam concorrer só tinham de encontrar uma app semelhante. E não o disse, mas podia ter acrescentado que, já agora, era bom que se lavassem.
Ora, o problema essencial aqui é outro: há uma actividade que é regulada pelo Estado. Há condições de acesso para ser motorista de táxi. Há condições para obter um táxi. Há um pensamento: o Estado deve ser a entidade que regula o mercado, não passando mais licenças do que aquelas que o mercado comporta. Pode fazê-lo bem ou mal. Mas há uma ideia sobre como regular o mercado. Ora, o que se passa é que surge uma multinacional que acha que pode passar por cima das regras estabelecidas por um Estado soberano e limpar o mercado, contornando as regras. E ainda por cima com a chico-espertice de dizer que não é serviço de táxis, porque são pessoas que partilham o transporte... E por isso nem pagam impostos como tal. E sempre com o argumento de que criam "novas oportunidades para jovens motoristas". O que tem isto de moderno? Aliás, se tem alguma coisa é de bem passadista, quando as corporações dominavam Estados e impunham regras em continentes inteiros.
Questão1: Por que não? Não é melhor para o mercado, para os clientes? A introdução da Uber e de outras companhias similares está a provocar uma guerra de preços nalguns países. E é uma opção possível. Mas então ter-se-á de acabar com os dois pesos e duas medidas. Acabar com a regulamentação para todos. A guerra far-se-á em violência e poluição, género tuk-tuks para o serviço de táxis... Mas o Estado deve ser capaz de dizer qual a opção que adopta. Se deixa o mercado às suas regras e abandona o tabuleiro - e é possível que tudo acabe com uma concentração dos operadores na mão de estrangeiros - ou estabelece fronteiras.
Questão2:E serei eu obrigado a ter um telemóvel táctil? Vamos supor que a Uber ganha tudo: o que acontece a certas pessoas que nem lidam com a internet?
Questão3: Quais as razões para que o Estado não intervenha e não imponha condições a quem, de facto, tem um serviço de táxis a operar? Têm esses senhores alvarás? Têm licença de motorista? Imaginem o que não era os fiscais chamaram um desses "táxis" e começarem a recolher todos os carros, caso não tivessem essas licenças...
E é assim tão disparatado? Da última vez que houve algo assim - e nem se comparava porque nem sequer se pagava por isso - o mercado e os Estados fecharam os concorrentes. Lembram-se daqueles sites de partilhas de músicas, de filmes, etc.? Onde estavam os liberais nessa altura? Com quem estava a modernidade nesse caso?
E já agora falando de jornalismo: os jornalistas queixam-se de que o seu trabalho é roubado por sites que pura e simples copiam, abastardando o mercado e inviabilizando quem vende informação. Mas porquê? Não é a informação pública? Não escrevem os jornalistas sobre a realidade de todos? Não é esse igualmente o traço da modernidade? Ou aqui já é um roubo?
Publicado por João Ramos de Almeida em Ladrões de Bicicletas
Comments
Se há argumentos descabidos...
este é um deles :
Questão2:E serei eu obrigado a ter um telemóvel táctil? Vamos supor que a Uber ganha tudo: o que acontece a certas pessoas que nem lidam com a internet?
Vamos ser realistas.
As pessoas que não lidam com a Internet, vão acabar por morrer. E chegará o dia em que toda a gente lidará com a Internet e smartphoones, da mesma forma como hoje em dia se acende um interruptor para acender uma lâmpada.
Apesar de já ter 50 anos e já
Apesar de já ter 50 anos e já ser entradote, não vivi nenhuma revolução tecnológica ou industrial e sinceramente pensei que o ser humano tinha evoluído o suficiente para não ter de passar por esta situação ridícula que estamos a passar.
Sempre soubemos que os regimes de esquerda sempre foram e sempre serao autoritários, só assim consegue que as pessoas sigam o caminho que eles querem.
Mas até nas viagens de Táxi!! Por favor. ..
Voces sabem que a maior parte dos empresários de táxi não pagam impostos porque não declaram os valores facturados.
Sabem que em pegam trabalhadores a comissões de 35% e não pagam segurança social nem IRS nem IRC nem coisa nenhuma?
São dos maiores biscateiros deste país, è pela continuação desta realidade que o bloquistas e comunistas se batem?
Sabem ainda que a grande parte dos motoristas da Uber são pessoas que se encontram desempregadas e em dificuldades e que conseguiram na Uber algum rendimento e pagando impostos ao contrário daquilo que os taxistas afirmam, porque quando recebem já vem com os impostos descontados.
Sim a Uber tem a sede na Holanda paga lá os seus impostos, também o Pingo Doce a Sonae mas 17 empresas do PsI 20 e não vejo grande barulho acerca disso
Deixem de ser populistas e façam alguma coisa pelo país.
Ninguém quer acabra com os táxis como já li aqui, mas deixem as pessoas escolherem o que querem usar, porque è que tenho de andar num carro velho sujo com um motorista brejeiro e mal educado e pouco sério se posso ter o oposto noutra serviço e por menos dinheiro?
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