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Desastre de Chernobyl foi há 30 anos

Aquela que foi uma das maiores catástrofes nucleares da História aconteceu há 30 anos numa pequena localidade da Ucrânia, Chernobyl. O Fórum Antinuclear da Extremadura explica porque não podemos deixar repetir a tragédia.
Carrinhos de choque abandonados em Chernobyl, foto de Stefan Krasowski/Flickr.

A propósito dos 30 anos do acidente nuclear em Chernobyl, na Ucrânia, o Fórum Antinuclear da Extremadura emitiu um comunicado que traduzimos e reproduzimos na íntegra.

"A 26 de abril de 1986 o reator nº 4 da central nuclear de Chernobyl explodiu reenviando para a atmosfera quantidades enormes de radioelementos, cuja nuvem chegou até a costa mediterrânea da Catalunha. Foi só o início de uma catástrofe que ainda hoje continua a ocultar a sua verdadeira dimensão em vidas humanas, uma central considerada “tão segura que inclusive poder-se-ia ter construído em plena praça vermelha de Moscovo”, como se lia nos slogans do regime soviético.

A sua construção iniciou-se em 1972, sendo a central mais potente do mundo construída até então. Foi nos anos em que também se começou a construir as centrais de Almaraz, Ascó e Cofrentes, cinco reatores com grandes defeitos de segurança que ainda têm autorização para funcionar. A propaganda nesses anos era de euforia e progresso infinito, bem como de eletricidade quase gratuita e segura. No Estado espanhol, o regime franquista enaltecia o uso civil do nuclear, ainda que secretamente a sua intenção fosse militar. No regime soviético, Chernobyl, com quatro reatores, vendia-se como a “cidade do futuro”.

E efetivamente o futuro chegou: foi assim que 600.000 pessoas receberam doses de radiação devido aos trabalhos de descontaminação, que terminaram com o isolamento do reator com um sarcófago de betão armado para prevenir a fuga adicional de radiação. A explosão em Chernobyl expeliu substâncias radiativas até uma altitude de 1,5 quilómetros. A esta altitude, os ventos de sudeste arrastaram a nuvem radiativa a lugares tão longínquos como a Escandinávia. A nuvem voou e regressou à Ucrânia de novo. No dia do acidente, a direção do vento mudou para oeste. A segunda nuvem contaminada, por isso, voou através de Polónia até à Checoslováquia e depois à Áustria. Ali, embateu nos Alpes e voou de regresso à Polónia. Chegou até à costa catalã no Mediterrâneo. Pelo que sabemos hoje, não há lugar no mundo em que as nuvens radiativas de Chernobyl não tenham estado presentes. As nuvens contaminadas voaram por todo mundo.

Por isto o número de mortes ainda é uma incógnita, ocultando-se os resultados epidemiológicos realizados anteriormente. Por exemplo, um estudo na ilha da Córsega apresentado em 2013 assinalava um aumento em doenças da tiroide provenientes da passagem da nuvem radiativa pela ilha.

Um aviso que serviu então para que as multinacionais do sector e a própria Agência internacional da Energia, um verdadeiro império mundial de interesses económicos e políticos no urânio, desprezassem as consequências do catastrófico acidente. Até que chegou Fukushima, um novo e refinado Chernobyl ainda latente e mortífero, também a nível mundial, que supõe já o fim definitivo da indústria.

Mas esta indústria que com o acidente na central nuclear de Harrisburg sofreu a sua primeira paragem e que desde então não tem sido capaz de convencer da sua segurança como teria desejado, conta apenas com 13% da eletricidade (7% como energia primária) quando os valores previstos segundo os prognósticos da altura situá-la-iam hoje em dia em 70%. É evidente que aos países com energia nuclear como a França, o Japão, a Rússia e a Coreia, só resta competir entre si para tentar enganar quem possam na venda de reatores que têm demonstrado deficiências tecnológicas e o seu mortífero legado em termos de resíduos radiativos.

Uma indústria que tem vivido na base ao engano, da ocultação e da falta de transparência, inclusivamente a nível tecnológico, que já não se pode vender como a mais barata, nem em produção, nem em custos financeiros de construção, e, naturalmente, de segurança e gestão de resíduos.

Uma indústria que põe em perigo a vida humana e biológica, sejam os trabalhadores das minerações de urânio ainda abertas no mundo, como a daqueles que preparam o minério, o transportam, limpam e gerem os resíduos. Em todo os lugares onde há centrais nucleares, cada vez há mais trabalhadores que já não podem ir às recargas por causa dos limites de exposição radiativa cada vez mais exigentes.

Por último, uma indústria que ainda se atreve a que o Japão acolha em 2020 os Jogos Olímpicos, em plena situação apocalíptica da zona de Fukushima e arredores.

Uma indústria que em Espanha continua a fazer questão do benefício diário de cada uma das suas centrais abertas, enquanto o governo lhes dê cobertura.

Por todas estas razões, o Fórum Antinuclear da Extremadura (Foro Extremeño Antinuclear, FEAN) e a nível peninsular o Movimento Ibério Antinuclear (MIA), tanto em Portugal como em Espanha, juntamente com a sociedade civil, exigimos o encerramento de todas as nucleares espanholas que tenham alcançado a última autorização para o seu funcionamento… Enquanto alguma nova surpresa não chega, como uma maneira teimosa para nos dizer uma vez mais que continuar a produzir resíduos radiativos e mais insegurança quotidiana não faz sentido a partir do momento em que as renováveis e a poupança energética são uma realidade na nossa península. Para o FEAN, esta é a política energética e de emprego que um país responsável da vida e a saúde de seus cidadãos exige pela via democrática."

Publicado pelo Fórum Antinuclear da Extremadura  a 18 de abril de 2016 em Plasencia en Común. Tradução do castelhano por Joana Campos para o esquerda.net.

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Neste dossier:

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A 26 de abril de 1986 deu-se uma das maiores catástrofes nucleares da História numa pequena localidade da Ucrânia, Chernobyl. De central, dizia-se que era tão segura que poderia ter sido construída no meio da praça vermelha de Moscovo. Há cinco anos atrás aconteceu uma nova catástrofe quando, na sequência de um maremoto, houve uma fuga nos reatores da central nuclear de Fukushima. Neste dossier discutimos por que razão a energia nuclear nunca será uma opção segura e os perigos que continuamos a correr quando centrais, como a de Almaraz, continuarem em funcionamento. 

Dossier organizado por Joana Louçã.

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