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Morte assistida em Portugal: Uma realidade escondida

Eutanásia nos hospitais portugueses
Pereira Coelho, ex-membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, afirmou, no início de março, durante o programa "Flash 7 Dias", da RTP Internacional, ter assistido a casos de eutanásia em meio hospitalar.
“Eu já vivi situações destas. E posso dizer que já assisti a alguns casos destes na minha vida profissional nos hospitais”, afirmou o pai da fertilização in vitro em Portugal.
Pereira Coelho referiu ainda ter colaborado na morte do seu pai, “uma morte muito arrastada e prevista e previsível para um curto prazo”.
Este foi o último caso conhecido de um médico a assumir a prática de eutanásia nos hospitais portugueses, mas não foi o primeiro.
Em dezembro de 2015, a revista Sábado publicou uma peça na qual um médico português assumiu que ajudou dois amigos, uma tia e um doente a morrer e que, sofrendo de um cancro nos pulmões, tinha a sua própria morte já planeada.
Já em fevereiro deste ano, Rui Moreno, coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos Neurocríticos do Centro Hospitalar de Lisboa Central, contou ao jornal Expresso que, em diversas ocasiões, ouviu da boca de doentes a “súplica, sentida, consciente, para que lhes terminasse com a vida”, e que acedeu ao pedido do “melhor amigo” que tinha cancro do pâncreas. “Foi muito duro, muito difícil. Mas ele pediu-me e eu fiz”, recordou.
Também a bastonária da Ordem dos Enfermeiros veio confirmar que a "eutanásia já é praticada nos hospitais públicos". Durante o programa “Em Nome da Lei”, da Rádio Renascença, Ana Rita Cavaco sublinhou que viu “casos em que médicos sugeriram administrar insulina àqueles doentes [terminais] para lhes provocar um coma insulínico”.
Ordem dos Médicos continua a negar prática de eutanásia
Perante todos estes depoimentos, a Ordem dos Médicos (OM) continua a afirmar que desconhece qualquer caso de eutanásia nos hospitais portugueses. Se, num primeiro momento, se remeteu ao silêncio, a OM ataca agora quem assume esta realidade.
O teor das declarações da bastonária da Ordem dos Enfermeiros foi considerado “gravíssimo” e enviado para a Inspecção Geral das Actividades em Saúde, para o Ministério Público e para os próprios órgãos disciplinares da Ordem dos Enfermeiros. Já o médico Rui Moreno é alvo de um processo disciplinar interposto pela OM. Quanto às declarações do professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, para José Manuel Silva, bastonário dos médicos, as mesmas estão a ser “mal interpretadas”, inclusivamente pelo próprio, que “misturou conceitos”.
“Quando a morte chega pelo correio”
A 25 de fevereiro, a revista Visão publicou uma peça sobre o “mercado negro da morte”, na qual explica como uma droga adquirida por 500 euros na internet está a ser utilizada para a prática de suicídio assistido e de eutanásia fora dos meios hospitalares, estando já quatro mortes confirmadas pelo Instituto de Medicina Legal.
O médico australiano Philip Nitschke, fundador do movimento Exit Internacional, confirmou à Visão que existe em Portugal um mercado negro na distribuição deste barbitúrico e anestésico utilizado no passado em meio hospitalar.
Encomendar morte é extremamente arriscado
Se, por um lado, “o mercado da morte é ferozmente competitivo” e, segundo Philip Nitschke, existem “muitos burlões online”, por outro, a eficácia do medicamento não é garantida: “Acarreta vários riscos, nomeadamente a ausência da substância ativa, a sua presença numa quantidade inadequada e a possibilidade dos fármacos estarem contaminados com substâncias tóxicas”, explica Rosário Órfão, presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia.
A droga pode ainda chegar em versão contrafeita, conforme alerta Carlos Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos.
Os riscos foram confirmados à revista Visão pela associação suíça Dignitas, que providencia serviços de apoio ao suicídio assistido: “Nunca recomendamos que se compre uma substância online, onde não se pode ter a certeza do que se está a adquirir, se é que se recebe, sequer, alguma coisa depois de pagar. Não recomendamos suicídios solitários. Só o recomendamos acompanhado e 100% seguro, para o qual exista tempo de discussão e preparação e envolvimento da família e amigos do doente, e onde todos possam refletir e despedir-se, estando presentes até à última hora”.
“Morrer sozinha e na clandestinidade, para não incriminar ninguém”
Ainda que a droga que está a ser utilizada para a prática de suicídio assistido e de eutanásia fora dos meios hospitalares seja produzida e comercializada em vários países para uso veterinário, como é o caso de Portugal, a compra desta substância pela internet é ilegal.
Quem adquire este este barbitúrico e anestésico online sujeita-se a coimas entre os 2 000 e os 180 000 euros, e a uma pena de prisão de um a cinco anos. Acresce que a ajuda ao suicídio é punível com pena de prisão até três anos.
Laura Ferreira dos Santos, fundadora do movimento Direito a Morrer com Dignidade, que enfrenta uma doença oncológica desde 2001, e que agora, com metástases ósseas, vive “atormentada com dores permanentes e insuportáveis”, pondera recorrer ao medicamento.
“Mas entristece-me muito que tenha de ser assim: sozinha e na clandestinidade, para não incriminar ninguém”, avança a investigadora de Filosofia na Universidade do Minho, numa entrevista publicada pela Visão.
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Na Internet também se vendem
Na Internet também se vendem medicamentos que curam doentes terminais. A venda é legal. O preço, simpático. É tudo uma questão de escolha. Sobretudo e antes de mais, de informação. De recursos. Embora seja possível fazer a coisa bem com poucos recursos.
Recentemente encontrei à venda o Essiac. Este medicamento é referido no documentário "As Curas Proibidas do Cancro".
Prestem atenção ao que se está a passar no Brasil em torno da Fosfoetanolamina Sintética. Também cura doentes terminais.
Quanto à Ordem dos Médicos... O que esses senhores querem é que ninguém discuta assuntos de saúde.
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