You are here

Educação: um bom começo

Enquanto Crato se dedicava à pedagogia do “chumbo”, Tiago Brandão Rodrigues afirma que a “avaliação contínua (feita pelos professores em sala de aula) deve ser o instrumento mais importante das escolas...”

Tiago Brandão Rodrigues apareceu no Ministério da Educação de forma bastante inesperada. Rapidamente as dúvidas sobre o novo ministro dissiparam-se: o ambiente na escola e as medidas mais imediatas anunciaram o tão desejado regresso ao futuro. Crato já faz parte dos livros de histórias (assombrosas).

A rapidez na intervenção nalguns dos pilares essenciais da escola relevaram determinação e até alguma coragem política: acabar com os exames nacionais no 4º e no 6º ano era urgente. Os professores sabem hoje que o calendário letivo vai até ao fim do ano letivo. Com Crato e com os exames, o calendário letivo era uma anormalidade: na prática, ia até à data dos exames para umas disciplinas, e ia até ao fim do ano letivo para outras. Essas outras, voltaram agora a ser tão importantes como as frações e os pronomes. Porque precisamos de saber História ou Ciências, e tantas outras matérias que não se traduzem em dízimas periódicas.

As aferições são colocadas fora do fim dos ciclos escolares. Com isso, recuperou-se para a escola a capacidade de aferir e analisar mas também de corrigir o desempenho ou as dificuldades dos alunos. Porque qualquer exame ou aferição no fim dos ciclos corre o risco de ser usado como forma de ranking, de comparação entre escolas.

A Bolsa de Contratação pelas escolas acaba para dar lugar a um processo certamente mais democrático. Regras mais igualitárias entre professores eram aliás defendidas por várias estruturas sindicais. Com isso reduz-se também o poder das Direções de Agrupamento, o que só beneficia a saúde democrática dentro das escolas.

Mas julgo que o que mais demonstra a diferença entre Tiago Brandão Rodrigues e Nuno Cracto é a linguagem que suporta as suas ideias. Onde Crato dizia querer “implodir” (aplaudido por bandos de irresponsáveis em todas as classes sociais e profissionais), o atual ministro diz querer “construir”. Onde Crato apostava em dividir (exe: Ensino Vocacional), Brandão Rodrigues afirma que a “segregação precoce” serve para “martelar números”. Enquanto Crato esmagava as escolas nos exames de Português e Matemática, o atual ministro fala de “competências transversais”, das “artes, do desporto e das ciências experimentais”. Enquanto Crato se dedicava à pedagogia do “chumbo”, Tiago Brandão Rodrigues afirma que a “avaliação contínua (feita pelos professores em sala de aula) deve ser o instrumento mais importante das escolas, sendo a avaliação externa, sob a forma de exames ou de provas de aferição, apenas um instrumento complementar da primeira” numa nota de confiança que os professores já não ouviam há muito.

Enquanto Crato (e Maria de Lurdes Rodrigues) se dedicaram a destruir os professores e a dividir os que restassem (porque queriam destruir a Escola Pública), Tiago Brandão Rodrigues e a sua equipa afirmam que a “a escola merece tranquilidade e estabilidade”.

Tem sido de facto um ótimo começo desta equipa no Ministério da Educação. A educação não é menos importante do qualquer outra área da gestão nacional: ela desenha quem seremos no futuro.

Nota: O projecto Aqeduto (Conselho Nacional de Educação e Fundação FMS) divulgou um estudo sobre chumbos na escola. Quem chumba; quais as condicionantes sociais de quem chumba; quanto custa um chumbo e para que serve. Muitas e contrastantes conclusões podem ser retiradas, mas fica a curiosidade especial em saber o que pensam, Crato e os cratistas (examistas e desconfiados dos professores e alunos em geral), dos resultados obtidos. Chumbar: um castigo ou uma oportunidade?

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro informático
Comentários (3)