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Cumpra-se, é uma ordem europeia

Foi divulgado no fim de semana passado, com pouco eco no meio dos cartuchos quase finais das presidenciais, o email do BCE ao governo a determinar que o Banif fosse entregue ao Santander. O texto em si próprio é um manifesto ao descaramento.

Lê-se e não se imagina que seja possível. Num telefonema, numa conversa, quem sabe, já seria afronta. Escrito, escarrapachado, é só porque o Banco e a Comissão se sentem inexpugnáveis e gostam de alardear a sua dominação.

Vejam só: “A conversa com o Santander correu muito bem e a Comissão Europeia vai aprovar”. E mais: “Há outras ofertas pelo Banif que, de acordo com a Comissão, não respeitam as regras da UE das ajudas de Estado, e por isso não podem seguir em frente”.

Continua a ordem para entregar o banco ao Banif: “A comissão Europeia foi muito clara neste aspecto, por isso recomendo que nem percam tempo a tentar fazer passar essas outras propostas”.

Para o BCE e para a Comissão Europeia, a ordem era clara, todo o dinheiro para o Santander e em força.

O email dizia mais ainda: “o Santander está a comportar-se de uma maneira muito profissional e tem um departamento legal excelente” e “a Comissão Europeia vai começar a trabalhar com o Santander assim que as autoridades estiverem prontas para começar o processo”.

É assinado por Danièle Nouy, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu. O governador do Banco de Portugal cumpriu, o governo aprovou, o Santander recebeu o Banif em que tinham acabado de ser injectados ou prometidos três mil milhões.

É a União Europeia e, se me permitem, aqui está uma questão essencial para uma eleição presidencial e para a nossa vida em 2016.

Artigo publicado em blogues.publico.pt a 26 de janeiro de 2016

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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