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Alarme climático: Polo Norte 30º C acima da média, Gronelândia perde gelo poroso

As temperaturas no Polo Norte estiveram acima do ponto de fusão do gelo, devido à onda de calor que atingiu a região na tempestade Frank. Estudo indica que retenção da água derretida dentro do gelo poroso deixou de acontecer.
Foto de Allan Hopkins/Flickr

As temperaturas no Polo Norte atingiram em dezembro os 0.7º C, ou seja, estiveram acima da temperatura de fusão do gelo. Os valores chegaram a atingir mais 30º C do que a média para esta altura do ano, o valor mais alto desde que os registos começaram, em 1900. Desde 1948, só há três registos de momentos em que a temperatura terá ultrapassado os 0º C no Ártico, mas não há, até agora, nenhum registo nos meses de janeiro, fevereiro ou março. 2015 foi o ano mais quente na região desde 1900, e 2016, sendo um ano de El Niño, provavelmente não lhe ficará atrás. A temperatura subiu tanto devido à passagem da tempestade Frank, uma das cinco tempestades mais fortes de que há registo no Ártico e que também provocou mau tempo e cheias no Reino Unido, Islândia e Estados Unidos. 

Nível médio da água do mar pode aumentar mais rápido que previsto

O aumento da temperatura no Polo Norte ganha contornos ainda mais alarmantes com um novo estudo, publicado recentemente na revista “Nature Climate Change” e citado no jornal Público. Os autores estudaram 26 locais na região Oeste da Gronelândia entre 2009 e 2015, e pesquisavam o impacto numa camada de gelo poroso dos Verões quentes, particularmente os de 2010 e 2012, que causaram um grande derretimento.

Os cientistas descrevem que esta camada de gelo poroso, que atinge os 80 m de profundidade, estava a capturar e a acumular nos seus interstícios parte da água derretida, mas deixou de o conseguir fazer. Os investigadores estimavam que esta camada estivesse a reter 30 e 40% do gelo derretido. A água que não é retida escorre para o mar, o que pode aumentar o nível médio da água de forma mais grave e célere do que o previsto.

Por ouro lado, este escoamento da água do gelo derretido pode reforçar mecanismos de reforço positivo, estimulando um derretimento ainda maior. Isto porque a água ao escorrer esculpe a superfície do gelo, criando zonas lamacentas e, logo, mais escuras. Esta alteração da cor da superfície reduz o seu albedo, isto é, a capacidade de reflexão da luz solar, que é máxima no gelo puro, aumentando a absorção de luz. Por sua vez, a absorção de luz pelo gelo aumentará a temperatura à superfície, acelerando o derretimento.

As alterações nesta camada sensível de gelo poroso são praticamente irreversíveis. Mesmo que houvesse a criação de uma nova camada durante os próximos Invernos, o processo demorará décadas e não acontecerá seguramente num clima cada vez mais quente.

Os autores do estudo, citados pelo Público, estimam que se tenham perdido mais de nove milhões de milhões (ou seja, nove biliões) de toneladas de gelo no último século. Quando todo o gelo da Gronelândia derreter, o nível médio do mar subirá sete metros, com efeitos devastadores. 

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