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A raiva dos 25 novembristas

Todos os anos a direita faz questão de assinalar o 25 de novembro de 75. Aproveitam a efeméride para compensar ideologicamente a vergonha que têm do 25 abril e dos meses que se seguiram.

A direita anda de cabeça perdida. Está colérica. As eleições do dia 4 de outubro, e os dias que se seguiram, rechaçaram o arco da governabilidade e o direito a governar ditado pela tradição. A democracia impôs-se e governará quem consegue a maioria na Assembleia da República.

Todos os anos a direita faz questão de assinalar o 25 de novembro de 75. Aproveitam a efeméride para compensar ideologicamente a vergonha que têm do 25 abril e dos meses que se seguiram. A celebração na primavera repulsa-os e é no outono que rejubilam. É em novembro que a direita se sente bem.

Este ano a data tornou-se especialmente simbólica não só por ser o quadragésimo aniversário mas também porque, nos dias que correm depois das eleições, a democracia volta a andar na rua sem coleira. Na Assembleia da República, PSD e CDS, avançaram com a proposta de uma evocação dos 40 anos do 25 de Novembro de 75. No dia da reunião do grupo de trabalho CDS e PSD ficaram sozinhos na sala e lá se foram as celebrações.

Na Assembleia Municipal de Lisboa, o CDS avançou com um voto de saudação que foi rejeitado. O voto do CDS ilustra bem a assimilação ideológica da direita sobre o golpe de 25 novembro. O texto recicla e insiste no discurso de Cavaco Silva pós-eleições sobre a legitimidade dos partidos. Se o presidente traçou uma fronteira entre os partidos, definindo que apenas PSD, CDS e PS, teriam perfil para assumir responsabilidades governativas, o voto do CDS classifica a “extrema-esquerda” como responsável por “bloquear a construção de uma Democracia pluralista e de tipo Ocidental” e que sem os “partidos democráticos – PS, PSD e CDS,…, a Democracia dificilmente teria sobrevivido”. Resumindo, foi a direita que lutou contra os abusos dos extremistas de esquerda no PREC e garantiu o respeito pela democracia e pela liberdade. O voto do CDS chega até a elogiar alguns desses combatentes patriotas como Ramalho Eanes e Jaime Neves. Convém lembrar que Jaime Neves admitiu a participação ativa em crimes de guerra como o massacre de Wyriamu.

Mas a memória não se restringe às mistificações da direita reacionária. Não nos esquecemos desses, agora glorificados, patriotas como Alpoim Calvão que fundou o MDLP ou de Barbieri Cardoso do ELP. Estas organizações foram responsáveis por vários atentados à bomba e pelo incêndio de sedes de partidos políticos. O Padre Max foi uma das vítimas destes assassinos. Quando rejeitamos este revisionismo histórico estamos também a assumir como nosso o património do 25 abril e do PREC. Quando a direita etiqueta de abusos as conquistas do PREC, sabemos o avanço que significaram. As ocupações de fábricas, a reforma agrária, as cooperativas de habitação, a nacionalização da banca e dos monopólios rentistas, as organizações de base de marinheiros e soldados são as experiências de que nos orgulhamos e que sabemos fizeram o país avançar. Sabemos que a democracia foi forjada nesses 18 meses depois de abril. Foram essas experiências que acompanharam a eleição da Assembleia Constituinte que aprovou a Constituição. A Constituição que gera tanta raiva e que agora propõem rever para que governe quem não tem maioria.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro civil.
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