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Brasil: “A Aula de hoje é na rua!”

Já há 38 escolas no estado de S.Paulo ocupadas pelos alunos que contestam o plano promovido pelo governador Geraldo Alckmin de encerrar 94 escolas e transferir mais de 300 mil jovens. Movimento é apoiado por pais e professores. Por Luís Leiria.

“Geraldo Alckmin! A culpa é sua! Aula de hoje é na rua!” – este grito de guerra está a espalhar-se cada vez mais entre os jovens paulistas, num protesto que envolve os alunos, mas também professores e pais, e que põe em causa a política educacional do estado governado por Geraldo Alckmin, do PSDB.

Pelo balanço feito pela Apeoesp – Sindicato dos Professores, 38 escolas do ensino secundário estavam ocupadas nesta terça-feira no estado de São Paulo, Brasil, em protesto contra a reorganização escolar anunciada pela Secretaria de Educação do Governo estadual.

O projeto prevê o encerramento de 94 escolas e a transferência de cerca de 311 mil estudantes para outras instituições de ensino. Os primeiros protestos surgiram há cerca de um mês. Na semana passada havia 7 escolas ocupadas e, em poucos dias, o movimento espalhou-se com grande rapidez.

Repressão a crianças

A primeira resposta do governo foi mandar a Polícia Militar para as escolas, provocando cenas de repressão que, divulgadas em vídeo, tiveram um efeito multiplicador da indignação. Foi este o caso da Escola Estadual Lins do Rego e da Escola Estadual Fernão Dias Pais, onde os estudantes gritaram: “Não vim pra escola pra voltar de camburão!” O governo mandou mais de cem polícias para lá. Mas, na sexta-feira (13), um juiz que tinha determinado, dois dias antes, a desocupação da escola, recuou e suspendeu a reintegração de posse.

“Nós só queremos a nossa escola como ela está, o que está bom não se mexe”, explicam Elena e Vitória e Carolina, alunas da Escola Josepha P. Chiavelli, num dos mais criativos e partilhados vídeos do protesto, #NAOMEXANOJOSEPHA.

Além do encerramento de 94 escolas, cujos edifícios serão cedidos para outras finalidades educacionais, como creches e ensino técnico, haverá uma reorganização de turmas em 754 unidades, para que haja apenas um ciclo educacional em cada, levando à transferência de cerca de 311.000 estudantes. Hoje, o ensino é dividido em três ciclos. O primeiro, reúne os alunos do 1º ao 5º ano do Fundamental (entre as idades de 6 e 11 anos); o segundo, do 6º ao 9º ano do Fundamental (entre 12 e 14 anos); e o terceiro, alunos entre 15 e 17 anos no Ensino Médio.

A reforma pretende que o número de escolas que hoje recebem alunos dos três ciclos, as chamadas ciclos mistos, diminua, ao mesmo tempo que aumentam as instituições que recebem apenas um dos três ciclos.

Receios dos pais e professores

Os maiores receios dos pais são que com o novo plano os estudantes sejam obrigados a migrar para escolas com desempenho inferior à atual, mais distantes e com salas superlotadas.

Também os professores contestam o plano. A Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo alega que docentes serão despedidos e haverá uma precarização nas unidades.

A entidade convocou uma paralisação contra a medida para o dia 27 de novembro, sob o lema "Nenhuma escola fechada, nenhuma sala superlotada", e no seu site afirmou estar "em estado de greve contra a bagunça na rede de ensino" – o estado de greve é um indicativo de que os professores podem voltar à greve.

Alckmin, que já tinha ganho fama pela seca que atinge o seu estado, enfrenta agora mais essa dor-de-cabeça. Para quem quer vir a candidatar-se à sucessão de Dilma Rousseff, as coisas não parecem estar a correr tão bem.

Quem quiser acompanhar este movimento, vale a pena uma visita à página Não fechem minha escola.

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
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